Paulo Leminski, o Paulo Coelho da Poesia | Luis Dolhnikoff | Digestivo Cultural

busca | avançada
74109 visitas/dia
2,0 milhões/mês
Mais Recentes
>>> O escultor Renato Brunello participa do SCOGLIERAVIVA - Simpósio Internacional em Caorle (Veneza)
>>> “DESIGN versus DESIGUALDADES: Projetar um mundo melhor”
>>> “O Tempo, O Feminino, A Palavra” terá visita guiada no Sérgio Porto
>>> Marés EIN – Encontros Instrumentais | Lançamento Selo Sesc
>>> renanrenan e Os Amanticidas
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
Colunistas
Últimos Posts
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
>>> Claude 4 com Mike Krieger, do Instagram
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Para que o Cristianismo?
>>> Intervenção militar constitucional
>>> O nome da Roza
>>> As redes sociais e a política
>>> Escrevo deus com letra minúscula
>>> A proposta libertária
>>> Ao Sul da Liberdade
>>> Wikipedia: prós e contras
>>> 10 coisas que a Mamãe me ensinou
>>> A filosofia fruto do tédio
Mais Recentes
>>> Livro Nas Brumas Da Mente Quando As Atitudes Tornam- Se Consequências de Rafael De Figueiredo pela Boa Nova (2008)
>>> Memórias do subsolo de Dostoiévski pela Pauliceia (1992)
>>> Guerra Nas Estrelas a Batalha dos Caçadores de Recompensa de Ryder Windham pela Manole (1996)
>>> Livro O Efeito Sombra Encontre O Poder Escondido na Sua Verdade de Deepak Chopra, Debbie Ford e outros pela Leya (2020)
>>> A Banalização Da Violência a Atualidade Do Pensamento De Hannah Arendt de André Duarte e outros pela Relume Dumará Editora (2004)
>>> Livro College Essay Essentials: A Step-by-step Guide To Writing A Successful College Admissions Essay de Ethan Sawyer pela Sourcebooks (2016)
>>> Livro Mulher-maravilha Volte Para Mim de Conner pela Panini Comics (2020)
>>> A Linguagem Esquecida: Uma Introdução Ao Entendimento Dos Sonhos Contos De Fada E Mitos de Erich Fromm pela Zahar (1983)
>>> Livro Yvonne Pereira Uma Heroína Silenciosa de Pedro Camilo pela Lachâtre (2014)
>>> Livro O Primado Do Espírito de Rubens Romanelli pela Lachatre (2000)
>>> Livro JK Caminhos Do Brasil de Médium Woyne Figner Sacchetin, inspirado pelo espírito de Juscelino Kubitschek pela Lachâtre (2006)
>>> Livro Aniquilação 2 A Conquista Surge o Espectro Volume 3 de Keith Giffen pela Panini Comics (2008)
>>> Livro Portugal: Geoguide de Varios Autores pela Gallim Loisirs (2008)
>>> As Cinco Linguagens Do Amor de Gary Champman pela Mundo Cristão (2006)
>>> Livro História Social Da Criança E Da Família de Philippe Ariés pela Guanabara (1981)
>>> Livro Minúsculos Assassinatos e Alguns Copos de Leite de Fal Azevedo pela Rocco (2008)
>>> Marvel Max 54 – Guerra Civil – Nao Faz Parte de um Evento Marvel Comic de J. Michael Straczynski/ Outros pela Panini Comics (2008)
>>> Indian Heritage and Culture de Madanlal Malpani / Shamshunder Malpani pela kalyani Publisher (2004)
>>> Livro Uma Questão De Tempo... de Marcial Jardim pela Aliança (2008)
>>> Livro Matemática Temas e Metas Conjuntos Numéricos e Funções Volume 1 de Antonio dos Santos Machado pela Atual (1988)
>>> Livro Dietoterapia Na Medicina Tradicional Chinesa Uma Abordagem Energética Dos Alimentos de Wilson Marino Marques pela All Print Editora (2015)
>>> Livro Testemunhos De Amor de Maria Salvador, Espírito Amaral Ornellas pela Lachâtre (2014)
>>> O Diario De Marise de Vanessa De Oliveira pela Matrix (2006)
>>> Livro Star Wars Jango Fett Mercenário de Ron Marz pela Dark Horse (2002)
>>> Livro Gerenciamento de Projetos Estabelecendo Diferenciais Competitivos de Ricardo Viana Vargas pela Brasport (2002)
COLUNAS

Quarta-feira, 12/6/2013
Paulo Leminski, o Paulo Coelho da Poesia
Luis Dolhnikoff
+ de 11400 Acessos

Chamar Paulo Leminski de "o Paulo Coelho da poesia" há de parecer um completo despropósito. Mesmo que se refira ao fato de ele ter-se tornado, há pouco tempo e em pouco tempo, um verdadeiro best-seller com sua coletânea póstuma Toda Poesia. Pois nem de longe isso o aproximaria do segundo, campeão de vendas mundial. Na verdade, a comparação se baseia em algo mais profundo e que, de fato, aproxima os dois Paulos.

Há anos venho afirmando e reafirmando que o problema fundamental da poesia brasileira atual é sua incapacidade de dar conta poeticamente do mundo contemporâneo, o que explicaria tanto a falta de leitores quanto sua pouca relevância ou presença cultural. Eis que, de repente, o revival Paulo Leminski parece negar todas as minhas considerações. O livro mais vendido no país, por semanas a fio, é um livro de poesia. E de poesia contemporânea.

Infelizmente, não é o que parece, ou o que se quer crer. Pois não se trata de o país ter descoberto, ainda que tardiamente (Leminski morreu em 1989), o grande poeta de seu tempo. Na verdade, trata-se do contrário.

A obra poética de Leminski, por decisão de suas herdeiras (a poeta Alice Ruiz e as filhas Áurea e Estrela) ficou fora de catálogo desde os anos 1990. Durante essas mais de duas décadas, porém, em vez de uma queda no esquecimento, o que se viu foi a lenta mas segura difusão de seu nome, impulsionada por algumas biografias, muitas referências críticas, certa mitologia e, principalmente, uma grande popularização de sua obra através da internet, na forma de citações extraídas de seus versos. Por seu grande poder de difusão, esta deve ter sido a principal circunstância propiciatória da imprevisível e aparentemente irresistível explosão de vendas da recém-lançada antologia.

Mas se a difusão no "face a face" da rede é uma condição aqui aparentemente necessária, não é suficiente. Algo na própria obra há de ter alimentado essa ciberpopularização. E não é difícil identificá-lo.

Mas, talvez, não seja tão fácil compreendê-lo. Pois, num aparente paradoxo, não se trata de um fenômeno poético, em seu sentido estrito, mas de um fenômeno pop ― no pior sentido da expressão. A rede não é um lugar de garantia de inteligência, mas de redundância, de adesão fácil, de modismo e de "democratismo", em suma, o império da ausência de critérios.

A mesma falta de critérios rigorosos, ou de critérios de rigor, marca profundamente a obra de Leminski. Surpreendentemente, portanto, essa obra, toda ela realizada antes do aparecimento da internet (1991), revela-se, afinal, premonitória. Oswald de Andrade, numa declaração famosa, afirmara: "A massa ainda comerá do biscoito fino que fabrico". Pois isto enfim se tornou realidade com Paulo Leminski: com o detalhe fundamental de que não se trata de um biscoito feito da desafiante fineza oswaldiana, mas de uma decepcionante finura insossa.

Basta, como exemplo, o verso escolhido em recente matéria de jornal para demonstrar de que tipo de poesia se alimenta a "febre Facebook" das citações de Leminski: "Isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além". Esse otimismo "por decreto", que tem como alvo, ao mesmo tempo, todo mundo e ninguém em particular, é a própria essência ou síntese da "literatura" de autoajuda ― que Paulo Coelho levou para uma ficção rala e Paulo Leminski, para uma poesia igualmente rala.

Há uma diferença, contudo: tudo em Paulo Coelho é sempre igualmente ralo, além de semiletrado, enquanto Paulo Leminski era bastante letrado e nem sempre é simplesmente ralo. Mas o fato incontornável é que Leminski hesitou a vida e a obra inteiras entre o "capricho" e o "relaxo", a densidade e o raso, a verdadeira inteligência e suas exigências e a pseudoesperteza pop e sedutora. O preço pago foi alto.

Sua obra é, afinal, dominada pela segunda vertente, o que, por sua vez, explica e apoia sua recente popularidade, tanto via internet quanto via antologia.

Tudo somado, a recente onda de popularização (em mais de um sentido) de Paulo Leminski não representa, infelizmente, como querem os apressados e os apresados pelos critérios mercadológico-midiáticos, o aguardado e desejado retorno de uma poesia brasileira que dê conta poeticamente das complexidades e contradições do mundo contemporâneo, mas, ao contrário, sua derradeira diluição para consumo rápido: poesia fast-food para mentes slow-thinking.

pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando


Paulo Coelho assinaria tranquilamente embaixo. Apenas explicitaria, prosaicamente, que se trata dos caminhos de Compostela, Cuzco etc.

a palmeira estremece
palmas pra ela
que ela merece


Talvez mereça. O mesmo não pode ser dito de uma poesia cuja "esperteza" lírico-pop acaba por resultar sem fibra, alcance ou profundidade para dar conta da grande confusão contemporânea, ou da "sociedade líquida" referida por Zygmunt Bauman. Pois se a sociedade é líquida e se a cultura virou espuma, sua arte deve, ao contrário, em vez de ter a leveza dissipante da névoa, contrapor-lhe a dureza da pedra, ainda que com a transparência do cristal. Qualquer coisa, menos a inconsequente ligeireza "líquida" e "espumosa" de uma poesia-autoastral ou autoajuda.

essa ideia ninguém me tira:
matéria é mentira.


Logo, a verdade está no "espírito". Alguém aqui falou em Paulo Coelho? Notar, ainda, a forma dogmática do segundo verso ("matéria é mentira"), que, não por acaso, é uma vulgarização de certos preceitos do budismo. Não por acaso, porque religião e dogmatismo sempre andaram juntos, mesmo no Oriente, apesar de toda a mitologia contracultural. O que tudo isso tem a ver com a dureza-apesar-de-liquefeita do mundo contemporâneo?

se
nem
for
terra
se
trans
for
mar


Outro famoso poema internético de Leminski, que, bem lido, não diz rigorosamente nada, mas em compensação oferece um claro exemplo de outra marca de sua linguagem, a tentativa pseudoesperta de criar jogos de palavras que, muito mais comumente do que deveriam, escorregam no mero trocadilho. "Se trans for mar"?! Sem desculpa pela aspereza da afirmação, há coisas mais espertas em portas de banheiro de bar.

amar é um elo
entre o azul
e o amarelo


Paulo Leminski não tem o humor cortante e penetrante de Oswald de Andrade, a ironia superfina, mas contundente, de Drummond, o rigor diamantino de Cabral, ou mesmo o charme carioca-cosmopolita de Vinicius de Moraes. Seu nome se alimenta, de um lado, de toda uma mitologia de Rimbaud de província, sintetizada no título de uma de suas biografias, "o bandido que sabia latim", e, de outro, do rebaixamento geral e irrestrito do gosto do público, que afinal consegue se contentar com seus biscoitos de vento.

Tarde de vento.
Até as árvores
querem vir pra dentro.


Não por acaso, parte importante de sua poesia adota a forma haicai. Menos do que uma forma poética de regras definidas, ou de uma forma definida por suas regras, como vulgarmente se acredita, o haicai, longe de ser um micro-soneto oriental é, na verdade (ou seja, em sua origem nipônica), um dos inúmeros instrumentos da prática religiosa do budismo. Não cabe aqui discutir este fato em profundidade, nem referir que o próprio Bashô, seu maior mestre, fala em "banalidade" como sua maior qualidade, no contexto da busca da desegotização budista, que vai na direção oposta do virtuosismo artístico ocidental.

Mas se fosse para resumir, trata-se de buscar o registro mais neutro do evento mais banal. O que afinal explica sua predileção por Leminski, assim como a predileção por Leminski do público atual. Pois estes são tempos de banalidade militante, se se pode dizer assim.

Chego, então, a uma conclusão paradoxal. Paulo Leminski é, ao fim e ao cabo, o poeta do mundo contemporâneo. Não pela via difícil de pô-lo a nu ou lhe meter o dedo na cara, mas por ecoar o que mais o caracteriza.

O mesmo caso dos produtos da cultura de massa, ou da indústria cultural, que, das novelas de TV ao pagode, passando por todo o espectro pop, justificam sua mediocridade geral e sua redundância temático-formal pelo argumento democratista ou populista (além de lucrativo) de dar ao público o que ele quer.

Paulo Leminski é, enfim, um poeta de massa. Exatamente como Paulo Coelho é um prosador de massa. Mas essa massa não tem absolutamente nada daquele famoso biscoito de Oswald de Andrade.

Nota do Editor
Leia também "Toda poesia de Paulo Leminski", "Pq as pessoas lêem o Leminski?", "O poeta da estranheza" e "A poética anárquica de Paulo Leminski".

Para ir além


Luis Dolhnikoff
São Paulo, 12/6/2013

Quem leu este, também leu esse(s):
01. E por falar em aposentadoria de Fabio Gomes
02. O africano e o taubateano de Ricardo de Mattos


Mais Luis Dolhnikoff
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Ensaios 1
Michel Eyquem de Montaigne
Hucitec
(1987)



The Wonderland Collection
Lewis Carroll
Season
(2020)



A marcha
E. L. Doctorow
Record
(2008)



Livro da Mitologia, o (livro de Bolso)
Thomas Bulfinch, Luciano Alves Meira
Martin Claret
(2006)



Conceitos Jurídicos Interminados e Atos Administrativos
Meire A. Furbino Marques
Arraes
(2017)



A Louca de Maigret
Georges Simenon
L&Pm Pocket
(2009)



X-men, Vol. 10
Hickman
Panini Comics
(2021)



Revista do Archivo Publico Mineiro
Aurelio Pires
Imprensa Oficial
(1927)



Quality Quotes
Hélio Gomes
Mc Graw Hill Trade
(1996)



Uma Mente Inquieta
Kay Redfield Jamison
Martins Fontes
(2012)





busca | avançada
74109 visitas/dia
2,0 milhões/mês