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Quinta-feira,
7/2/2019
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Algo de sublime numa cabeça pendida entre letras
>>> Tem coisa mais sem graça do que alguém segurando um celular? Como um brinquedo idiota, como símbolo do tédio e marca do desinteresse pelo mundo próximo? Não nos aproximamos demais de alguém que mexe em um afoitamente, nem existe um ensejo de diálogo. Os polegares vidrados e entortados como os de bebês gordos, um riso absorto e ridículo em sabe-se lá quais interesses distantes?
por Elisa Andrade Buzzo
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estar onde eu não estou
>>> Os leitores podem até "julgar o livro pela capa". Mas a verdade é que, muitas vezes, o escritor não tem uma participação tão ativa na produção da identidade visual de sua obra. Se muito, dá um ok para o projeto que lhe é enviado. Ou seja, analisar o livro pela capa pode ser injustificado. Já com o título da obra a história é diferente. Aí sim, quase sem erro, temos o dedo do autor.
por Luís Fernando Amâncio
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Nos escuros dos caminhos noturnos
>>> De nada se sabe ao certo da fisionomia, nem dos sulcos, nem das linhas daquele rosto que está a alcançar o cume da ladeira em pedra. Coroa esse tracejado negro de homem uma cabeça, por trás, apenas, uma imagem, um formato ovoide boiando no sol, como uma flor agigantada meio murcha, uma configuração piramidal invertida, aproximada, cabeça flutuante na discrição de turva grinalda.
por Elisa Andrade Buzzo
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As Lavadeiras, duas pinturas de Elias Layon
>>> Em um tempo não muito remoto, os rios e riachos não eram ainda poluídos. A roupa era lavada nesses rios de água límpida. O pintor mineiro Elias Layon ainda guarda lembranças desse tempo, pois, segundo sua memória, sua mãe lavava as roupas de casa num desses riachos. Duas telas recentes do artista, final de 2018, visitam essa prática comum daqueles tempos.
por Jardel Dias Cavalcanti
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T.É.D.I.O. (com um T bem grande pra você)
>>> Júlio Dinis (1838-1871) viveu pouco, muito pouco, mas em seus 31 anos de vida pôde se tornar médico, além de deixar, no céu da literatura portuguesa, seu nome grifado, mesmo que de forma passageira, isto é, como se uma ave migratória fosse riscando o azul cerúleo, que só vai aceso por causa do sol, até pulverizar-se, sozinha, na imensidão celeste.
por Renato Alessandro dos Santos
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As palmeiras da Politécnica
>>> Voam as palmeiras altíssimas da Politécnica; voam, afeitas à pirotecnia dos ares, açoitadas pelos caprichos de Leslie, que traz uma suavidade indizível e uma chuva invisível no alto da rua da Escola Politécnica. Dentro dela, a continuação do ajardinado preparado desde o topo do morro, descendo-o, o Jardim Botânico, por detrás do antigo portão gradeado, já na noite alta é um monumento vegetal massivo, negro e silencioso.
por Elisa Andrade Buzzo
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Como eu escrevo
>>> Com o intuito de ajudar autores diante de impasses em sua escrita, José Nunes de Cerqueira Neto criou o projeto "Como eu escrevo". Nele, autores acadêmicos, juristas e escritores respondem a um questionário sobre suas rotinas e o processo de criação. Nas palavras do próprio José Nunes, que é doutorando em Direito pela UnB, "saber como escrevem as pessoas que admiramos nos inspira a refletir sobre o nosso próprio processo criativo".
por Luís Fernando Amâncio
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Goeldi, o Brasil sombrio
>>> Se há personagens, são solitários, ou quando em dupla, não se comunicam, estão envoltos numa solidão tremenda, perambulando de cabeça baixa, sob o manto da noite ou da madrugada escura, indo cada um para seu lado (como se não tivessem para onde ir, embora não deixem de caminhar), vagando feito vultos na superfície negra das gravuras de Goeldi.
por Jardel Dias Cavalcanti
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Do canto ao silêncio das sereias
>>> No imaginário atual, as sereias são consideradas como criaturas híbridas, metade mulher e a outra metade peixe. Nas mitologias grega e romana, no entanto, são mulheres com corpo de ave. Há representações em vasos antigos que trazem a imagem delas voando ao redor do barco de Ulisses, num dos episódios marcantes da Odisseia, de Homero. Curiosamente, Junito de Souza Brandão, no primeiro volume de seu livro Mitologia grega, explicita, mas não explica, essa confusão.
por Cassionei Niches Petry
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Vespeiro silencioso: "Mayombe", de Pepetela
>>> Os verdadeiros leitores de Mayombe não são aqueles estudantes forçados a encará-lo por causa do vestibular ― embora em muitos sempre há rebeldes em crisálida constante que, no livro, encontrarão razão de ser ― mas as pessoas que se sentirão recompensadas pela narrativa de Pepetela e que, certamente, partirão em busca de obras dele e de outros autores da contemporânea literatura africana de língua portuguesa.
por Renato Alessandro dos Santos
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A barata na cozinha
>>> A repugnância às baratas é a maior religião do mundo. Nunca conheci alguém que se sinta confortável na presença deste inseto. Pois pense em entrar na sua cozinha e encontrar ali, na sua frente, o anticristo. Com suas antenas enormes, aquele marrom avermelhado inconfundível, suas cascas e as patas que parecem ter espinhos. Uma barata passeando livremente pela sua cozinha...
por Luís Fernando Amâncio
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Uma Receita de Bolo de Mel
>>> As receitas todas têm algo em comum: são muito simples. Para ensinar uma criança a cozinhar, é uma boa pedida, pois é gostoso misturar os ingredientes e, depois disso, não há muito o que fazer além de despejar numa travessa e assar. Entretanto, na vida moderna, essa facilidade pode ser um problema, pois reservamos pouco tempo para o bolo e na pressa esquecemos alguns detalhes que fazem toda a diferença.
por Heloisa Pait
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O Voto de Meu Pai
>>> Um parente distante especulou sobre o voto de meu pai nessas eleições, caso ele estivesse vivo, e questionou as opções minha e de meu irmão. Ele usou termos e formas de expressão que se tornaram normais nos dias de hoje, especialmente nas redes sociais. Mas uma leitura generosa de sua diatribe nos daria a seguinte pergunta: quais os valores de seu pai e como eles se expressam em seu voto? De modo torto, foi isso o que ele perguntou. Foi o que me pôs a pensar, a rememorar, a imaginar.
por Heloisa Pait
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Inferno em digestão
>>> No diálogo entre o passado e o presente, entre o imaginário e a realidade, Terra sonâmbula encontra, por meio da literatura, o caminho por onde os moçambicanos têm de seguir, estrada afora, vida adentro, como um metrônomo que regressa ao passado para, no presente, seguir como o rio que, a despeito das margens que o oprimem, vai engolindo tudo pela frente.
por Renato Alessandro dos Santos
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Hilda Hilst delirante, de Ana Lucia Vasconcelos
>>> Quando morei em Campinas, durante o mestrado em História da Arte, sonhava conhecer Hilda Hilst, mas não a conheci pessoalmente, apesar da sugestão de visitá-la dada por dois amigos, o pintor Egas Francisco e o poeta e ensaísta Edson Duarte (que morou na Casa do Sol com Hilda e escreveu uma tese e posfácios sobre a obra dela).
por Jardel Dias Cavalcanti
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Julio Daio Borges
Editor
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