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Segunda-feira, 5/2/2001
Londres e seus museus - em breve, de graça
Arcano9

Há várias maneiras de se conhecer a capital britânica.

Se você já veio para cá você sabe: muito, muito difícil conhecer esta cidadezinha em uma semana (como eu tentei uns anos atrás, como mochileiro recém-saído da faculdade, encontrando a capital britânica numa semana de tempo particularmente amaldiçoado, uma chuva que obrigou o torneio de Wimbledon a ser adiado). Frustrante. Bom, você pode conhecer Londres passando um mês preguiçosamente passeando pelos parques; Outro mês, conhecendo restaurantes de todas as partes do mundo; Mais um, nos teatros do West End; e não nos esqueçamos, é claro, da semana dedicada aos museus.

Eu fico impressionado como você encontra coisa boa por aqui nesses museus, e cada vez fica melhor. Faz tempo que você esteve aqui pela última vez? Então, certamente você não conhece o novo interior do Museu Britânico, certamente o museu mais famoso do mundo, fundado em 1753. Por sorte, trabalho aqui do lado, em Holborn, e volta e meia dou uma pingadinha para tomar um café e comer um brownie no abrigo daquele teto espetacular de aço e vidro, que se curva sobre minha cabeça, entre o prédio principal do museu e a extraordinária bibilioteca. O que mais anda mudando? Acho que ainda não ficou batido falar da Tate Modern, o novo braço do tradicional museu que abriga "O Beijo", de Rodin. A Tate Modern foi inaugurada com estardalhaço no ano passado, ocupando uma velha usina às margens do rio Tâmisa, entre a ponte de Blackfriars e a nova ponte do Milênio. Fenomenal.

Entretanto, o mais novo desdobramento neste mundo de corredores e obras às vezes estapafúrdias, às vezes embasbacantes, é o que está sendo anunciado nestes dias. Um acordo fechado entre o Departamento de Cultura, Mídia e Esporte e o Tesouro nacional estabelece que todos os museus públicos de Londres, todos, vão deixar de cobrar ingresso.

A novidade não atinge, é claro, o tradicionalmente gratuito Museu Britânico, ou a Tate, mas vai afetar outros museus conhecidos da capital britânica. Um exemplo é o Museu de História Natural, uma verdadeira viagem para quem gosta de ciência, animais, dinossauros, e por aí afora. É a epítome do museu de ciências, tudo o que você sempre imaginou. Exposições interativas e claras, mesmo para pessoas que falam pouco inglês, e um ambiente que nos transforma em crianças, com vontade de correr de um canto para o outro para descobrir o que tem lá dentro, ou o que é aquele bicho empalhado. O Museu de História Natural cobra hoje £9 para adultos, um absurdo (especialmente se você fizer o câmbio para Reais, o que eu vou te dar a chance de descobrir sozinho e sofrer). Também devem passar a ser gratuitos, o museu da Ciência e o museu Victoria e Albert (o chatíssimo museu de design, com longas e intermináveis salas com vestidos, artigos de ourivesaria e outros ítens que, no meu entender, formam um acervo imenso demais e díspar demais para serem abrigados sob o mesmo teto). Todos esses museus ficam na região de Kensington, pertinho do Hyde Park.

Quer saber minha opinião? Eu acho excelente que se libere de vez os museus, especialmente num país em que está bem economicamente como a Grã-Bretanha. A proposta original para liberar a entrada foi feita pelo Partido Trabalhista de Tony Blair, na época que ainda estava na oposição, mas não vingou porque temia-se que os custos fossem altos demais. Agora, parece que os calculos foram revistos. Se dá para o governo subsidiar os museus, ótimo. No Brasil isso seria excelente, mas não creio que seja viável o governo pagar por tudo. O Masp cobra R$ 10 pela entrada, mas não tem opção. Infelizmente, a cultura é uma das últimas prioridades, num país que enfrenta pragas de difícil resolução, especialmente em São Paulo, em ruínas pós-Pitta. Um dia, quem sabe, todos os museus serão de graça, abertos 24 horas por dia, com milhares de visitantes, alunos de arte, crianças e namorados. Se isso acontecesse no Brasil, talvez os poucos museus que temos fossem mais vivos, como é o museu britânico, que as pessoas visitam despretenciosamente, e sempre aprendem algo novo. É comovente, e certamente não ocorreria se o visitante tivesse que pagar. Liberar o ingresso dos museus com certeza vai colaborar para popularizá-los mais. No entanto... Ok, Ok, sonhar vale a pena. À propósito, o que há de quente nos museus por aí, agora? Talvez você nem saiba...

Arcano9
Londres, 5/2/2001

 

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