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Sexta-feira, 23/5/2003
E agora, Lula?
Heitor De Paola

Com o brado retumbante Agora É Lula!, o PT elegeu seu primeiro Presidente da República. Cargo assumido, Ministros nomeados, quatro meses e meio de Governo, já muitos fazem a pergunta crucial: E Agora, Lula? A que viésseis?

Até o momento não dá para entender, às vezes até parece que não houve troca de Governo, seria tudo uma alucinação coletiva, FHC continua lá com Malan comandando a economia. Até a política externa continua a mesma: antiamericanismo fanático, apoio a Cuba, às FARC, empréstimo de dinheiro e técnicos para Chávez, opção preferencial pela França, Mercosul e ditaduras africanas. FHC não faria melhor o papel de candidato a "líder da América Latina e do Terceiro Mundo" - embora este último mundo deva trocar de nome em breve porque, do Segundo só restam os escombros chamados Cuba e Coréia do Norte. A China segue célere a trilha do capitalismo.

O Presidente parece acreditar que Governar é fazer discursos e lançar planos bombásticos que não saem do papel. Os primeiros, são limitados por sua fraca instrução, que o leva a cometer erros grosseiros sempre que tenta se referir a algum acontecimento histórico; os segundos, parecem ter saído de uma obra mal escrita de ficção utópica. O tal Fome Zero!, lançado com estardalhaço, até agora encheu Zero barrigas.

A sensação de déjà vu continua quando fica claro que o "esqueçam tudo que eu escrevi" foi substituído pelo "tudo que eu falei". Aliás, foi o próprio Presidente quem disse que depois da posse não cabem mais as fanfarronadas da campanha. A imprensa já começa a dar sinais de cansaço, o mercado reage, apesar da política econômica altamente recessiva. Os radicais protestam e sofrem ameaças de expulsão do partido.

Já pela ponta esquerda faz-se novo estardalhaço com a publicação da lista de devedores da Previdência, sabendo-se que esta lista mistura casos perdidos, com roubos explícitos e outros, que contestam as dívidas da Justiça e, portanto não podem ainda ser chamados de devedores. Ao invés de cobrar o devido, quer-se cobrar mais dos aposentados. Cria-se uma novíssima estatal, a Hemobrás que certamente vai irrigar as contas bancárias de uma legião de novos aspones. Ao invés de deixar que o mercado decida o que vai acontecer com a cronicamente deficitária VARIG, com ou sem fusão com a TAM, vai-se injetar nosso dinheiro, via esta excrescência chamada BNDES, e se atingidos os previstos 60% do capital, estatizar de facto a nova empresa. Aí vem a AEROBRÁS com que a esquerda sonhava nos anos 60 e, de quebra, nova reserva de mercado.

Grave, gravíssimo, foi a afirmativa de que é preciso "abrir a caixa preta" da Justiça, sem deixar claro do que se trata. Que a população tenha dúvidas a respeito da lisura dos processos judiciais é aceitável. Mas que a mais alta autoridade executiva da República use isto demagogicamente para atacar outro dos Poderes, é fato inédito na História do País. Será realmente interpelado o Presidente? Estará criada uma crise entre os Poderes que possa ser explorada populisticamente?

E continua o papo vazio: anuncia-se para esta quinta-feira um programa do PT com o lema "A gente sente, o Brasil vai ficar diferente". Diferente, como? Até o momento parece que temos um Governo a la Jânio: internamente de direita e esquerdista na política externa. Jânio, sabia-se, queria agradar às esquerdas. E agora, não será o contrário, a política econômica não servirá para aplacar momentaneamente os mercados?

São dúvidas e mais dúvidas. Quem escreve este artigo jamais votou no PT e portanto não sofreu nenhuma desilusão. E quanto os desiludidos começarem a protestar?

Mas pior que tudo, num arroubo shakespeareano o Presidente afirmou que sua relação com o Vice, José Alencar, é como o amor de Romeu e Julieta. Será que vai terminar igual?


Heitor De Paola
Rio de Janeiro, 23/5/2003

 

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