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Quinta-feira, 5/7/2001
Eu & Ferrugem
Adriana Baggio

Ter um animalzinho de estimação é uma das melhores coisas para a gente se sentir de bem com a vida. Melhor ainda se for um cachorro. Os cães são amigos, companheiros, e têm o poder de alegrar nossos dias. Quem não se derrete com um cachorrinho abanando o rabo quando a gente chega em casa? Às vezes você teve um dia péssimo. Seu chefe é um babaca, seu amor brigou com você, o trânsito estava uma porcaria, e quando você chega, aquela coisinha fofa está te esperando, sem críticas nem condições, apenas com vontade de dar e receber afeto.

Ok, pode ser um dog alemão, e a maneira dele de dar afeto é pular na sua roupa com as patas sujas de lama ou coisa pior. Mas lembre-se: as intenções dele são boas! Tenha paciência, livre-se das mesquinharias como roupas limpas e vá brincar com seu amigo! Nada como ficar encharcado de baba e com alguns arranhões carinhosos para relaxar.

E quando ele come seu jornal ou destroça seus livros e revistas? Junto com a raiva vem uma sensação de orgulho por ele ter escolhido um Dostoievsky para detonar. "Esse cachorro sabe das coisas! Nem ligou para o Sidney Sheldon que estava ali jogado! Foi direto nos clássicos!". Quando meu boxer comia a Folha dos domingos (que ficava mais tempo na calçada já que levantávamos mais tarde), ficava p... da vida com ele, mas diante das minhas imprecações ele limitava-se a levantar um pouco a cabeça, olhar com aquele seu jeitinho meigo e voltava a se concentrar na sua soneca. Ele parecia dizer: "Culpa sua. Quem mandou não cuidar do jornal? Ele estava aí, eu estava sozinho e resolvemos brincar juntos." Lá ia eu tentar salvar algum pedaço do Mais! ou de qualquer outro caderno, menos o primeiro, que já estava todo mascado e babado.

Sempre gostei mais dos cachorros grandes. Parecem mais brincalhões, menos frescos, e impõem respeito. Aqui em João Pessoa moro em apartamento, por isso tive que apelar para um poodle toy. Pelo menos ele é cor de abricó (marrom clarinho) e não tem aqueles penteados ridículos. Mas impor respeito, nem pensar. Em casa ele late que nem um desesperado quando está contrariado, quase somos despejados do prédio, mas na rua, quando troçam dele, não faz nada! Aliás, faz: vai atrás de qualquer um e abana o rabinho, mesmo daqueles que passam e falam coisas como "nossa, que fera". Como ainda não aprendi a latir por ele, limito-me a fazer cara feia e seguimos nosso passeio.

Ferrugem é uma figura. Carente, voluntarioso, desobediente. Está tentando destruir minhas cadeiras de vime e já atacou vários livros. Já percebi que seu próximo alvo é minha gloxínia importada de Curitiba, que a muito custo sobreviveu à viagem até o Nordeste. Ele anda muito estressado, segundo disse o veterinário: "você precisa levá-lo para andar. Vai fazer bem pra você e pra ele". Quase voei no pescoço dele, por sugerir uma eventual necessidade que eu tenha de fazer exercício, mas decidi deixar pra lá.

Domingo levei Ferrugem à praia. Andamos bastante, brincamos, e quando voltamos para casa, ele dormiu o dia inteiro. Que alívio! Até parece que a gente está falando de uma criança. Algumas pessoas se ofendem com a comparação, por isso procuro evitar. Uma conhecida minha tem um filho de 1 ano e pouco, e o comportamento dele é igual ao do Ferrugem! Ainda acho mais vantagem ter um cachorro, mas isso é outra história.

Apesar de ser um poodle, Ferrugem é uma gracinha. Tento fazer o máximo para não deixá-lo muito afrescalhado. Precisei levá-lo para a tosa, e nessas ocasiões me recuso a ficar arrulhando para o animal na frente da pet shop. Mas quando fui pegá-lo, não pude resistir. Ele estava lindo! Os pelos estavam compridos, sem penteado, mas aparados. Além disso, fizeram a tosa higiênica e deram um banho caprichado. Ele estava fofo e cheiroso! Quando chegou em casa, ficava andando de um lado para o outro todo garboso, como se soubesse que a dona estava babando.

Mas Ferrugem também tem hábitos irritantes. Quando é contrariado, como represália ele faz xixi no meio da sala, no sofá, no tapete. Toda manhã, às 5h30 em ponto, ele acorda e começa a chorar. Precisamos soltá-lo por causa dos vizinhos. Mais tarde, quando levanto, ele está deitado do lado de fora da porta do quarto, esperando por mim. É uma maneira gostosa de começar o dia, com um bichinho todo de bom humor logo cedo, querendo brincar. Com esse despertar, tenho mais disposição para encarar o stress diário, e quando volto cansada para casa, sei que ele vai estar lá me esperando, todo feliz e carinhoso.

Adriana Baggio
Curitiba, 5/7/2001

 

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