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Segunda-feira, 12/1/2004
As 16 Datas que Mudaram o Mundo
Nanda Rovere

Em outubro fui passar uns dias em Fortaleza/CE. Estava em um restaurante na praia de Cumbuco, não vi um degrau, caí e quebrei duas costelas. Por esse motivo, passei dois meses um pouco distante do computador e não escrevi para o Digestivo.

Neste tempo, li alguns livros, entre eles As 16 Datas que Mudaram o Mundo, de autoria do historiador Pierre Miquel (professor emérito da Sorbonne).

Assim que acabei de ler, fiquei pensando nos motivos que me levaram a estudar História.

No colégio sempre me interessei pelo passado (do Brasil, do mundo e da minha família). Estudava com muita dedicação os temas propostos em sala de aula, mas tinha vontade de me aprofundar nos assuntos; entender, por exemplo, o porquê de tanta guerra, de tanta miséria e desrespeito no mundo.

Gostava de estudar História Antiga, Medieval e Contemporânea, mas sentia falta de uma abordagem por parte dos professores e dos livros didáticos sobre a História "mais atual" (no colégio nunca vi, por exemplo, nada sobre o Estado Novo, sobre a Primeira Guerra Mundial...).

No cursinho tive um professor maravilhoso que me animou a prestar vestibular para História. Acabei passando na PUC/SP e terminei o curso há alguns anos. Confesso que ainda não compreendo muitas coisas, mas consegui ter uma idéia geral sobre a História do Brasil e do Mundo e senti falta de um estudo sobre a África, por exemplo. E por que isso não acontece, ou ao menos não acontecia? Ora, a valorização da cultura americana e européia sempre permeou o universo da maioria dos pensadores, escritores, historiadores, etc., tanto que as datas e fatos considerados importantes num âmbito mundial estão ligadas a países pertencentes a essas regiões Ocidentais e à formação dos mesmos!

Neste sentido, As 16 Datas que Mudaram o Mundo não é um livro inovador. Obviamente os critérios usados na escolha das 16 datas, em detrimento de outras, foram subjetivas, mas o Historiador não deixou de seguir basicamente o que a "História Oficial" estabeleceu como marco. Não que essas datas não sejam importantes, pois realmente elas contribuíram para a transformação do mundo e traçaram a nossa realidade presente, mas sempre me pergunto: "Será que não é preciso dar mais valor à História dos países que sempre foram renegados ao segundo plano, será que a História desses países teve realmente papel secundário na modificação do panorama mundial?

Quanto mais eu leio e estudo, percebo que ainda tenho muito o que aprender. Por isso deixo essa questão em aberto...

Mas voltando à abordagem do livro, As 16 Datas que Mudaram o Mundo, vale a pena ressaltar que a leitura desta obra é interessante por oferecer ao leitor um painel dos momentos considerados mais importantes da História Mundial.

Escolher os 16 acontecimentos em detrimento de outros também importantes não foi uma tarefa muito fácil, mas segundo Pierre Miquel esses 16 fatos oferecem uma sequência significativa da História, útil aos contemporâneos.

O autor estabeleceu como ponto de partida o nascimento de Cristo e como término o atentado de 11 de setembro de 2001, em Nova York. Ao todo, são 16 capítulos onde o professor Pierre Miquel analisa cada fato histórico, explicando a causa desses acontecimentos e as transformações ocorridas após os mesmos, pois na sua concepção o depois sempre dá seu sentido ao antes.

Analisa acontecimentos como o nascimento de Cristo, A Hégira (a fuga de Maomé de Meca), O Descobrimento da América, Martinho Lutero, A Revolução Francesa, A Declaração Balfour (Inglaterra dá apoio ao povo judeu para estabelecer-se na Palestina), a Independência da Índia e do Paquistão, o 11 de Setembro em Nova York, etc.

A Independência da Índia (1947), por ex., tornou-se inevitável pela quantidade de revoltas eclodidas no país e pela resistência passiva de Gandhi. O antes de 1947 era a persistência do sistema colonial em todo o mundo. Depois da Independência da Índia, vários países começaram a lutar pela sua independência, deflagrando uma longa marcha de descolonização em todo o mundo.

Também achei interessante a abordagem sobre A Declaração Balfour, pois apesar dos conflitos entre Israelenses e Palestinos, terem a sua origem na Antigüidade, A Declaração impulsionou a ida de judeus para a Palestina (ocupada pelos árabes durante a expansão islâmica). Desde então, a região se tornou palco de conflitos entre esses dois povos... Desconhecia esse episódio histórico, importante para a compreensão da atual situação no Oriente Médio.

O Historiador não vai "a fundo" nas discussões - e nem esse foi o seu objetivo, mas certamente acende no leitor uma curiosidade de estudar mais profundamente os assuntos abordados. Após cada capítulo há uma cronologia,que sintetiza os fatos e orienta os leitores interessados em procurar mais informações sobre os conteúdos.

Consegue atingir qualquer tipo de leitor, visto que a obra não é direcionada aos acadêmicos, mas a todos que se interessam por História. Este é um dos méritos do livro, pois muitos historiadores analisam os fatos históricos utilizando uma linguagem inacessível à maioria das pessoas.

Confesso que não conhecia Pierre Miquel e fiquei um pouco decepcionada ao procurar alguma informação sobre ele na Internet, porque não encontrei nada em Português.

De qualquer maneira, esse trabalho merece ser prestigiado e criticado - pelo menos, na minha opinião, a importância de uma obra está na discussão que ela proporciona, não importa se favorável ou não às idéias que o autor defende.

Através do estudo da nossa História, podemos compreender a origem das guerras e desigualdades existentes no mundo atual. Quem não conhece o seu passado, não entende o seu presente (dificilmente consegue refletir sobre a realidade em que vive) e não tem condições de lutar por um mundo mais justo. Por esse motivo, todos os livros que buscam discutir a nossa História são bem-vindos.

Para ir além





Nanda Rovere
São Paulo, 12/1/2004

 

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