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Segunda-feira, 19/1/2004
Maior que São Paulo, só o Masp
Jardel Dias Cavalcanti

É impossível ficar indiferente à existência de um museu como o Masp (Museu de Arte de São Paulo). E a grandeza de São Paulo se mede, para além da alta concentração de capital e de tipos humanos, pela existência deste museu.

O Masp é o maior monumento de São Paulo, porque guarda em seu acervo uma riqueza incontestável de tesouros artísticos produzidos pela sensibilidade dos maiores artistas das maiores épocas da história da humanidade.

O Masp foi inaugurado em 1947, graças ao esforço de duas personalidades: o jornalista Assis Chateaubriand e o marchand italiano Pietro Maria Bardi.

Antes de falarmos do valioso acervo do museu, vale ressaltar que o maior problema que existe em relação a ele (e aos vários outros museus brasileiros) é o que chamaremos de "sequestro das obras de arte". Ou seja, grande parte do seu acervo não pode ser visto pelos visitantes, pois permanece guardado nos porões do museu. É quase um crime que isso aconteça. Se o problema é a falta de espaço para a exposição total do acervo, que se construa um anexo, que parem as exposições temporárias, enfim, que se faça alguma coisa. O que não pode continuar a acontecer é que esse "sequestro" de obras geniais se prolongue por mais tempo.

Outra questão interessante sobre o Museu é que parte das obras do seu acervo encontra-se ainda sobre a suspeita de terem autoria duvidosa. É o caso, por exemplo, das obras de Rafael, Rembrandt, Hieronymos Bosch e Mantengna. A este respeito existem artigos interessantes publicados na Revista de História da Arte e Arqueologia (nos seus volumes 1, 3 e 4), da Unicamp, dirigida por Jorge Coli e Pedro Paulo Funari. São artigos da autoria dos pesquisadores Nancy Ridel Kaplan, Eduardo Kickhöfel e Juliana Barone, que trazem importantes informações sobre a questão da atribuição destas obras de arte.

O conjunto do acervo do Masp compreende os principais movimentos da arte ocidental, do gótico ao modernismo, com trabalhos de artistas de diversas nações como Itália, Espanha, Portugal, França, Inglaterra, Holanda, Alemanha, México e Brasil. Contempla obras datadas do século XIII ao século XX.

Entre este percurso de séculos encontramos obras magníficas como algumas dos séculos XV e XVI, de artistas italianos, como Madona com o menino Jesus de Giovanni Bellini, o São Gerônimo de Andrea Mantegna, a Madona com Jesus e São João, de Piero di Cosimo e o imperdível Ressurreição de Cristo, de Rafael. Estas obras, pelas suas características estilísticas e pelo valor no conjunto das obras renascentistas, estão num nível de importância semelhante às obras de Da Vinci. Se isso já é muito, veja-se as obras de Ticiano, Tintoreto Bernini.

Ainda da mesma época e do século XVII da coleção francesa, podemos apreciar obras de François Clouet e Nicolas Poussin. Do acervo espanhol temos obras de El Greco e de Zurbarán, como também os poderosos retratos pintados por Velázquez e Goya.

Dos nórdicos temos obras de Hans Holbein O Jovem, Hieronymos Bosch, Rembrandt, Frans Hals e Van Dick.

Avançando mais alguns séculos temos, no acervo italiano, obras do séculos XVII e XVIII de Giovanni Battista Pitonni e trabalhos de Pellegrini, Villareale, Magnasno, Previati. Do acervo francês, nos mesmos séculos, temos obras de Jean-Marc Nattier, Jean-Baptiste Pater, Fragonard e Chardin. Ainda obras de Drouais e a famosa escultura Voltaire, que Houdon fez da cabeça do filósofo iluminista. Do acervo inglês temos obras de Reynolds, Gainsborough e Lawrence e Turner.

Do século XIX o Masp também revela surpreendentes obras como a dos artistas italianos nascidos no século XIX, mas que chegaram ao século XX, como Boldoni, Filippo de Pisis e Gaetano Previatti e Giovanni Boldini. Dos franceses da mesma época o acervo é delirante, com obras de Ingres, Corot, Daumier, Delacroix, Courbet, Manet, Degas (que pode ser apreciadas nas pinturas e esculturas do acervo). Ainda contemplamos obras de Cézanne, Monet, Renoir e Paul Gauguin. Enriquecendo ainda mais a coleção e nossa sensibilidade, podemos apreciar cinco obras de Van Gogh e oito obras de Toulouse-Lautrec.

Mas comparecem ainda outros artistas, que enriqueceram o século XX, como Matisse, Vlaminck, Laurecin, Bonnard, Vuillard, Léger, Picasso (com três obras), Modigliani, Max Ernest.

O acervo brasileiro é também importante, com obras de Pedro Américo, Luis Carlos Peixoto, Vítor Meireles, Almeida Júnior, Benedito Calixto, João Batista da Costa, Segall, Di Cavalcanti, Eliseu Visconti, Flávio Rezende de Carvalho, Anita Mafalti, Portinari e Ernesto de Fiori.

O acervo ainda reserva obras dos viajantes como Tapestry, Franz Post, Hamberlain, Debret e Taunay.

O que fizemos foi apenas relacionar uma parte dos artistas e de alguma sobras que participam do acervo do Masp. Há ali uma grande concentração de formas sensíveis, criadas por grandes artistas, que podem contaminar qualquer pessoa que venha a freqüentar o museu. Uma vez vistas, estas obras de arte exigem nossa volta freqüentemente. Torna-se quase impossível ficar longe das obras que, mais do que o tumulto barulhento e elétrico (que gera a riqueza e o vazio) da grande cidade, nos coloca em sintonia com os lugares silenciosos e ricos de nossa sensibilidade.

Quem ainda não visitou o Masp deveria fazê-lo o quanto antes, pois com certeza está deixando de conhecer um universo de riquezas num acervo de obras produzidas pela genialidade dos maiores artistas da humanidade e que estão aqui, num acesso fácil, no nosso Masp, um museu que, com certeza, faz inveja à qualquer outro museu do mundo.

Jardel Dias Cavalcanti
Campinas, 19/1/2004

 

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