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Quarta-feira, 4/2/2004
Pra não dizer que não falei de São Paulo
Aline Pereira

Parafraseando Fernanda Abreu, sou "garota carioca, swing e sangue bom". Eis a minha angústia: como posso homenagear os 450 anos de São Paulo, então?

Não digo isto por conta da famosa (e ridícula) "rivalidade" entre o Rio de Janeiro e a maior cidade (em termos populacionais, industriais e econômicos!) da América Latina, mas, sim, porque não conheço e não respiro, cotidianamente, a realidade paulistana. Além disso, acho que só amamos o que nos é próximo e particular - e que só podemos dignificar o que nos toca o coração. No entanto, vou me arriscar.

Já estive em São Paulo, mas, como disse, não a conheço. Minhas lembranças estão restritas a um passeio escolar que fiz ao Playcenter e a Cidade da Criança, e não desfrutei das peculiaridades do local.

O colégio no qual minha prima estudava, organizara uma excursão somente para os alunos. Não sei como me deixaram participar, mas segui para São Paulo acompanhada (ou vigiada) por duas tias e minha prima. Eu tinha apenas nove anos na época, e foi a primeira viagem interestadual que realizei.

Isto foi em 21 de julho de 1989. Não, caro leitor, minha memória não é invejável. Tamanha precisão só é possível porque ao remexer em coisas antigas pretendendo arrumar o armário, encontrei meu primeiro e único diário.

Além de cartas de amor que nunca foram entregues, bilhetinhos apaixonados e alguns papéis de bala (recebidas "do eleito" da vez), há uma impressão sobre o passeio a São Paulo.

O que me emocionou, foi perceber que da janela do ônibus da excursão, pude captar a monumentalidade dessa cidade e seus contrastes. Pedintes pelas ruas, homens engravatados e arranha-céus que refletiam a luz do sol estão selados em minha memória (ou no meu diário), assim como os brinquedos do Playcenter - meu verdadeiro interesse, já que eram grandes inovações para época.

Não me lembro de ter vivido a experiência a bordo do "Viking" antes de chegar a São Paulo. Quem não se lembra daquele barco que nos embalava, rapidamente, "até às nuvens"?

Do mesmo modo, arrisco dizer que apreendi que a modernidade brotara desse Estado. Não porque eu tivesse qualquer referência, com tão pouca idade, da importância da Semana de 1922, por exemplo. Mas sim, porque eu vira que o ritmo das pessoas era completamente acelerado (muito mais do que o dos cariocas, e isso é uma verdade!).

Tampouco sabia da importância da ocupação do Estado para a interiorização e a industrialização do Brasil, assim como ainda não fazia idéia da superabundância das plantações de café, no início do século XX.

Aos nove anos, também não dimensionava que São Paulo era literalmente e historicamente o maior foco aglutinador de culturas distintas: o nordestino, o sulista, o nortista, o carioca, e o imigrante judeu, japonês, chinês, italiano, entre muitos outros, que se estabeleceram na cidade.

Enfim, termino escrevendo no diário que me encantara com a nova cidade que se desvendava para mim, com as avenidas largas e a hospitalidade dos colegas que falavam com sotaque diferente do meu.

Planejo, nas próximas férias, conhecer, de fato, a cidade e também me render a este que é um dos mais importantes Estados brasileiros. Que venham os 500 anos!

Aline Pereira
Rio de Janeiro, 4/2/2004

 

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