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Quinta-feira, 1/4/2004 História e Lenda dos Templários Ricardo de Mattos O encargo da edificação do Templo foi transferido para o filho de Davi, Salomão. Por isso também diz-se "Templo de Salomão". Restou ao velho rei apenas adquirir o terreno e reunir operários, dinheiro, materiais e a própria planta para a grande obra, pois ela deveria "ser tal que seja nomeada em todos os países" (1Crôn. 22,5). O sítio escolhido por Deus para o templo foi sobre o monte Moriá, onde Abraão quase realiza o sacrifício de Isaac e onde localiza-se hoje a Cúpula da Rocha - Kubat al-Sakhra -, relicário erigido entre 688 e 691 por Abdul Malik Ibn Marwan, décimo califa da dinastia omíada. Foi ele também quem emitiu a primeira moeda muçulmana e determinou o emprego do árabe nos assuntos administrativos. Impossível imaginar perfeitamente o resultado. Os textos sacros, apesar do estilo sintético, trazem detalhes tais de riqueza que nossos dedos começam a dourar conforme viramos as páginas. As madeiras mais finas revestidas do ouro igualmente empregado nos instrumentos utilizados pelos músicos; perfumes e incensos variados misturando nos ambientes; tecidos de várias origens; o sangue dos sacrifícios recolhido em recipientes dourados e prateados, assim como as armas todas da guarda pessoal. Lendas ocidentais e orientais, inventadas e transmitidas, fazem a concentração da sumptuosidade atingir paroxismos. Como ocorre repetitivamente na história trazida pelos livros do Velho Testamento, o Templo virou lugar de idolatria. Considerava-se suficiente adentrá-lo para encontrar o perdão das faltas todas. Já no reinado seguinte, de Roboão, ocorre a invasão e saque pelo rei Sesac - ou Xexonque - do Egipto. Informa o II Macabeus que o rei Antíoco saqueou-o e contaminou-o, construiu e permitiu construir altares para as divindades pagãs. Segundo o capítulo 52 do livro de Jeremias, no undécimo ano do reinado de Sedecias, Nabuzardan, o general caldeu de Nabucodonosor, invadiu Jerusalém e destruiu o Primeiro Templo, levando os judeus como escravos para Babilônia (cerca de 586 a.C.). Setenta anos mais tarde, quando Ciro, após ter vencido os caldeus, autorizou o retorno dos judeus para Jerusalém, foi com a finalidade de construir o Segundo Templo, conforme conta-se em detalhes nos livros de Esdras e Neemias. Há quem mencione o Terceiro Templo, não sendo este outro senão o Segundo englobado por um complexo sagrado erguido por Herodes. Seguiu-se uma longa alternância de domínios e revoluções. Nos anos 69-70 d.C., os judeus revoltam-se contra a dominação de Roma. De alguma forma, Herodes mantinha certa estabilidade política até Caio César, o Calígula, determinar que toda cidade ostentasse uma estátua sua. Em Jerusalém, esta estátua deveria ser localizada dentro do edifício sagrado. Evidente a insubordinação dos hebreus a este desrespeito imperial e a conseqüente tomada d'armas. O futuro imperador Tito - filho de Vespasiano - é enviado para silenciá-los e destrói não só o santuário como também a cidade. Aqui inicia-se a diáspora dos judeus pelo Oriente e pelo Ocidente. Novamente é reerguida dos escombros, d'esta vez por Adriano, que lhe confere feição clássica e denomina-a Aelia Capitolina. O Segundo Templo é mantido em ruínas. No século IV Constantino declara-a cidade cristã. No século VII, Jerusalém cai em poder dos persas. Até o século X está sob domínio islâmico e a partir de 969 sob um califado egípcio. Uma apropriação relevante para a História foi a dos turcos seljúcidas no ano 1.071. Eles que tomaram a cidade e proibiram aos outros povos o acesso a ela, provocando movimentos cristãos de reconquista denominados Cruzadas. E segue-se nova instabilidade: os cruzados tomam a Cidade Santa em 1.099, tornando-a sede oriental do cristianismo; Saladino toma-a em 1.187; volve aos cristãos em 1.229 e para os muçulmanos em 1.244, com estes permanecendo até 1.247, ano de sujeição ao poder egípcio, que durou até o século XVI. Devorador de livros desde o berço e inspirado em Goethe, iniciou seu envolvimento com as Letras ao publicar recolhas de lendas escocesas e poesias nelas mesmas inspiradas. Eu havia esquecido o quanto é agradável ler suas obras. Ricardo Coração de Leão foi o primeiro, há uma década atrás. Agora terminei Ivanhoé e só não aproveitei a ocasião para ler também Lucia de Lammermoor - inspiradora da ópera de Donizetti e também conhecido como A Noiva de Lammermoor - porque o volume foi entregue à encadernação. Com o seu Waverley nasceu o romance histórico. Não há segredo: uma trama fictícia emoldurada por factos históricos reais, mesma mistura entre os personagens. Talvez esta seja a melhor receita. Os romances históricos hodiernos baseados em personagens reais não passam de meros exercícios de erudição. Basta uma nova descoberta sobre esta ou aquela figura e logo surge um livro no qual o novo facto aparece mesmo discretamente. Observei que apesar da reconstrução de verdadeira riqueza, ao menos quanto foi-lhe permitido fazer nos primórdios do século XIX, Scott remete o leitor mais à época em que escreve, e menos a qual descreve. Tendo uma de suas obras em mãos, é mais fácil imaginar-se refestelado n'uma poltrona diante da lareira em Holland House do que nas fortalezas do romance. Ivanhoé já mereceu duas adaptações cinematográficas. Uma antiga, em preto e branco, que eu gostaria muito de rever, e outra ridícula que mal merece menção. Os templários aparecem tal como concebidos à época, hipócritas administrando riquezas imensas, intrigantes, agindo sem lei. Papel assemelhado ao dos jesuítas, em certas obras. O vilão do romance é Brian de Bois Gilbert e apesar d'esta parcialidade, muitos detalhes acerca da Ordem são discretamente incorporados na trama, como a referência ao leão e ao medalhão com dois cavaleiros sobre um cavalo, as constantes citações da Regra. São 44 capítulos de uma narrativa mui coesa a prender a atenção do leitor, cada capítulo antecedido por epígrafes engenhosamente selecionadas. O narrador dá a entender que segue o texto do Manuscrito de Wardour, peça inexistente mas também mencionada na novela O Antiquário escrita pelo escocês. Às vivazes descrições dos torneios e do garbo da cavalaria, alia-se o humor inesperado, como a "ressurreição" d'um nobre saxónio. Goya Quero apenas salientar o esforço das pequenas casas editoriais - de recursos financeiros proporcionais - em reunir e imprimir reunidas as séries de gravuras do grande pintor. Tal iniciativa deveria caber às editoras maiores que, lançando estas séries e outras em volumes de formato maior e melhor acabados, talvez obtivessem maior retorno do que com as tranqueiras inexpressivas com as quais se preocupam. Ricardo de Mattos |
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