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Quinta-feira, 8/4/2004
Um pouco de rock curitibano
Adriana Baggio

Parece que Curitiba vive uma boa fase em sua cena musical, apesar do cabo-de-guerra travado entre os que pleiteiam mais espaço para apresentação de bandas e festivais musicais e aqueles que tentam vender a cidade como um lugar de paz e tranqüilidade. No meio dessa disputa, novos talentos vão aparecendo.

Um desses talentos, que na verdade nem é tão novo, mas que agora desponta, atende pelo nome de Extromodos. A banda, criada por um bando de garotos vizinhos de apartamento em 1996, veio para engrossar o caldo com o CD Pra ficar, independente mas com boa mixagem. Os arranjos são bem montados, dando oportunidade para os músicos brincarem nas faixas. Essa liberdade é o grande lance quando se faz um disco independente. Quando se trata de um disco lançado por selos, o lado comercial da coisa acaba tolhendo um pouco a desenvoltura dos músicos.

Já na primeira faixa, "Deixa", fica claro o recado dos caras: fazer o bom e velho rock'n roll com pitadas de baladas e do que há de atual em termos de sonoridade. O vocal de Bira Ribeiro (incrivelmente parecido com os trinados de Dinho, do Capital Inicial) e seus riffs de guitarra marcam todas as faixas do CD. Climas interessantes são criados em faixas como "Língua dos cachorros", onde os violoncelos dão um toque erudito à música.

As influências de bandas dos idos de 1960 e 70 ficam bem claras. O trabalho dos backing vocals, criando uma atmosfera à la Beatles, também merece ser destacado. Faixas como "Um com tato" e "O que todo mundo vê" mostram a boa combinação das guitarras e violões aço, revelando um pezinho no folk. Outro momento marcante do disco é "Sexo de almas", onde o riff de guitarra da introdução faz com que a música atinja um alto índice de recall na cabeça de quem ouve. Além de Bira Ribeiro nos vocais e nas guitarras, o Extromodos conta com André Becker no baixo e Álvaro Jr. na bateria. No disco, a formação base é vitaminada pela presença de músicos convidados.

Em Pra ficar, o Extromodos deixa claro que a intenção não é a de reinventar a roda. No entanto, a banda mostra que é possível fazer um disco de rock mesclando a linha mais clássica com o que há de novo, seguindo uma tendência de som retrô de bandas da linha cool rock como Coldplay, The Strokes, Travis e nosso representante tupiniquim e ex-reggae Skank. Percebe-se que a bandinha de garotos classe média evoluiu para algo mais profissional. Com música tocando no rádio, shows freqüentes pela cidade e uma divulgação que, apesar de meio claudicante, vai fazendo seu trabalho, o Extromodos segue a receita do mundo pop e busca seu espaço.

Apesar do pessimismo de alguns produtores locais que acham que Curitiba já viveu dias melhores em termos de vida musical, a cidade parece estar pegando um novo fôlego. Do chorinho ao psychobilly, há repertórios para todos os gostos e graus de talento. Resta torcer para que essa fase e os nomes que dela nascerem venham pra ficar - e que não seja apenas como os estertores de um vulcão extinto.

Post Scriptum
É com grande pesar que acrescentamos esse P.S. na coluna. Na manhã de ontem, domingo de Páscoa, Bira Ribeiro faleceu em conseqüência de um acidente com a van que transportava componentes das bandas Extromodos e Tetris. Os músicos voltavam de uma festa na cidade da Lapa, distante 70 km de Curitiba, onde haviam tocado na noite anterior. O baixista do Extromodos, André Becker, foi submetido a uma cirurgia na coluna. O baterista Álvaro Junior não estava na van. Os dois integrantes da banda Tetris sofreram ferimentos leves. Estamos solidários aos músicos e familiares e lamentamos profundamente que motoristas idiotas, irresponsáveis e impunes continuem tirando vidas nas ruas e estradas deste país.

(12/04/2004, 17h55)

Nota do Editor
Colaborou Tatá Vaz.

Adriana Baggio
Curitiba, 8/4/2004

 

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