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Segunda-feira, 28/6/2004
Por Tutatis!
Andréa Trompczynski

"Estamos no ano 50 antes de Cristo. Toda a Gália foi ocupada pelos romanos... Toda? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis gauleses ainda resiste ao invasor. E a vida não é nada fácil para as guarnições de legionários romanos nos campos fortificados de Babaorum, Aquarium, Laudanum e Petibonum..."

Não bastava ler Asterix. Era preciso ter lido muitas vezes cada exemplar da coleção ensebada e encadernada com papelão. Era preciso saber os nomes, a cor do vestido de Falbalá, quem era o dono da loja de malhar o ferro? Automatix? Eu acho que o Panoramix devia dar um pouquinho só de poção para o Obelix, mas o Obelix caiu no caldeirao quando era pequeno, mas só um pouquinho não faria diferença, ah, eu não acho não. As listras verticais emagrecem, sim, o Obelix que disse, ixi, se o Idéiafix estivesse aqui iria chorar vendo o vizinho cortando a árvore... Esse tio quando canta é tão chato que devíamos amarrá-lo numa árvore como eles fazem com o bardo Chatotorix no banquete final. Eram comentários comuns porque para meu deleite meus dois irmãos eram fanáticos por Asterix também. E haviam exemplares em todos os lugares da casa. A coleção completa. Alguma dúvida ou discordância? Pegava-se o gibi para provar. Olha aí ó, viu só, seu bobão, quem quebrou o nariz da esfinge no Egito foi o gordão do Obelix! Não, gordo, não, o forte guerreiro de traços ruivos.

Os close-ups trabalhados como na cena em que o casal está lendo o folder em pedra da novidade total que era o resort "Domínio dos Deuses", e depois, na cena mais engraçada do mundo, a invasão que Asterix e Obelix fazem ao prédio, na ida e na volta, batendo em todos. As intimistas, quando após brigas ciumentas os dois andavam abraçados pela floresta. Os rótulos: todos os romanos são burros e neuróticos. O que é fascinante em Goscinny e Uderzo são os detalhes, os olhos de diretor, a incrível inteligência das histórias que podem fazer uma criança de 8 ou 9 anos saber citações em latim, conhecer muito de história antiga e a alma humana muito melhor que se tivesse lido o tedioso Shakespeare.

Com sua primeira caixa de lápis-de-cor, o cartunista Albert Uderzo pintou o tronco da árvore de verde e a grama de vermelho. Era cego para as cores. Trabalhou no Word Press, em Bruxelas, onde no tédio de sua mesa de desenhos conheceu aquele que seria seu amigo de toda a vida, René Goscinny. Goscinny era roterista e cartunista. Fazia muita "continuidade de personagem" para Timtim, Lucky Luke, Spaguetti, Strapontim, Oumpah-pah e outros. Asterix nasceu em 1959, como um guerreiro forte e alto no primeiro esboço, mas o baixinho enfezado e piadista venceu. Obelix engordou muito com o tempo. Uderzo sofreu com cãimbras de escritor, pois fazia cinco páginas diferentes por semana. Em 1974 fundaram o estúdio "Idéiafix" para animações. Quando Goscinny morreu em 1977, a mesa de desenho ficou novamente vazia. Uderzo demorou para se recuperar e decidir continuar o trabalho. Escreveu as novas histórias sozinho: cerca de três meses para o roteiro e seis meses para os desenhos. Mas como os dois guerreiros gauleses, a dupla era imbatível e nada, nunca mais, irá se comparar.

Bando de Pardais
Takashi Matsuoka não tenta imitar Xogum, de James Clavell, ao contrário de alguns comentários que li sobre este livro. O romance entre o imperador e a gueixa não é "pungente", e a história é muita mais irônica e cheia de críticas bem-humoradas à sociedade japonesa e americana. Não tem pretensões, é divertido com a intenção de ser somente isso. Um bom passatempo. Que também é dever de alguns livros, ser um bom entretenimento, como alguns filmes. É difícil largá-lo antes do final, mas quem procura épicos japoneses, melhor desistir. Me pergunto quem são as pessoas que fazem as "resenhas" de livros vendidos na internet a sensação que tenho é que é uma espécie de "telefone-sem-fio", aquela brincadeira onde um diz uma frase para o outro e quando chega no fim da fila a frase está distorcida, porque até hoje não li uma dessas que fosse parecida com o que o livro é. Dizer que este livro é como Xogum é uma distorção total.

Maravilhas do Mundo Moderno
Após perder muitas coisas quando a bateria do laptop insiste em terminar justamente onde não há tomadas, morrer de medo de que qualquer substância estranha possa estragá-lo para sempre, perceber que é impossível levá-lo na bicicleta, fiz uma descoberta incrível. Pensei até mesmo em patenteá-la. Pode-se levar à praia, cabe no bolso, é leve como uma pluma, e melhor, baratinho, baratinho: papel e caneta!

No Fundo é Tudo Igual II
Vai começar o Canadian Idol. Para quem não sabe, é igual ao American Idol, que por sua vez é igual ao concurso de calouros do Raul Gil com cinqüenta vezes mais dinheiro. Mas eles aproveitam tudo, os vídeos dos recusados passam na tevê entre um comercial e outro, o dia todo. Os jurados dão entrevistas falando de como é cansativo ouvir péssima qualidade musical, de como eles fazem tudo para aparecer na tevê. Como o Show do Gongo do Chuck Barry. Aposto um dólar que vai ter o Brazilian Idol, e na Globo.

Leite Gelado e Suco de Couve é Bom Para Amansar Úlceras
(Livro da Medicina Natural, pe. Mariano Graça, pág. 67)

Anúncios de vídeos de educação sexual; uma verdadeira enxurrada de anúncios de Relationship Specialists, por telefone ou pessoalmente; serviços de fazer amizade por telefone do tipo "Você pode ter alguém em sua cidade esta noite!"; toda a sorte de poções, pós, cremes, tintas, aumentadores de busto, diminuidores de barriga, livros ou CDs para aprender a como obter auto-confiança, brinquedos eróticos de uso solitário... Parece anúncio daquelas revistinhas do Horóscopo do João Bidu? Não, aqui ele poderia trocar seu nome para algo como Johan Bidè e publicar nada mais nada menos que na Cosmopolitan e na UMM (Urban Male Magazine), porque os homens também gostam de saber o que significa quando ela move os cabelos na direção de Meca ou o que ela esta tentando dizer com "você fala isso da Paris Hilton porque ela é muito cool e todos queriam ser ela" (eu sinceramente apreciaria que misteriosamente fosse um código para coisas mais interessantes, mas ando desconfiada que não é, eles realmente estão falando da Paris Hilton e eles pensam sim que todos queriam ser ela). O que não consigo entender quando vejo o grande business das relações a dois, inclusive com consultoria mês a mês para que funcione, é que ninguém namora, é raríssimo ver um casal que não seja casado, e o porquê desse ar de "estou muito bem sozinho" se há espaço (e muito) para esse tipo de negócio?

Andréa Trompczynski
Vancouver, 28/6/2004

 

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