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Quinta-feira, 26/7/2001
Contrastes do Mundo Moderno
Juliano Maesano

Parece que estamos numa época de alta tecnologia, muitos avanços e várias alterações sociais por causa deles. Uns brigam contra a colocação de catracas eletrônicas nos ônibus, querendo salvar empregos e resolvendo se instalar numa sociedade atrasada.

Se é assim, então também temos que tirar toda mecanização, automatização e robotização do país. Só os cobradores de ônibus têm esse direito? E os empregados de milhares de fábricas que perderam seus lugares para máquinas auto-suficientes? E as costureiras e bordadeiras que perderam lugares em outras milhares de fábricas de calçados e roupas? Se for assim, vamos voltar à época que existia antes da Revolução Industrial. Uma grande besteira, não acham? Eu acho. Sou a favor das máquinas e robôs, sempre que possível. As pessoas que procurem outros empregos. Eu sei que o nível de desemprego já está alto, mas não é atrasando a evolução de um país que se melhoram as coisas.

Vamos aos fatos: existe coisa mais atrasada, mais idiota e pobre de pensamentos do que um vendedor de morangos passar pelas ruas de uma metrópole gritando no alto falante de seu caminhão:

"Mooorangos... Moorangos de Atibaia... Mooorango fresquinho... Quatro real, duas caixa... Lindo mooorango... Pra você fazer boolo de moorango... Suco de moorango... Torta de moorango... Moorango com leite... Mooorango com açúcar... Moorango com leeeite condensadooo... Milk Shake de morangooo... Mooorango, morangooo..."

Para depois estacionar na frente da sua casa e passar a repetir toda essa gravação em alto e bom som? Acho que não deveria ser permitida uma aberração dessas. E odeio aquelas velhinhas estúpidas que vão lá, comprar no caminhão. Agora, esse maldito não sai daqui. É quase todo dia, lá pelas oito da manhã. Com sorte ele passa depois, quando já acordei.

Você já imaginou uma cidade num país decente com um sujeito desses? Não vale pensar em Lima, Assunção ou Havana. Pense em Nova Iorque, Seattle, Londres ou Berlim. Duvido que permitam algo tão escabroso quanto esse método de comunicação e venda. Poxa, quem quiser o maldito morango que vá ao mercado ou compre desse caminhão estacionado com uma placa e pronto.

Imagine se todos os negócios fossem vendidos no grito! Não sei a razão pela qual permitem só o vendedor de morangos e pamonhas vender assim! Eles deviam ser obrigados a fazer cartazes e vender em silêncio. Veja só, eu trabalho com produção de vídeo, será que devo sair por aí assim:

"Vídeoooos...Vídeos profissionaiiiis...Vídeos comerciaiiiis... Vídeos para sua empresaaa....Vídeos institucionaiiis...Vídeos para treinamentoooo...Programas de tevêêê...Para TV à cabooo...TV abertaaaaa...Vídeoos, Vídeooos..."

Pois é isso que acho: se os outros não podem, esses morangueiros não deviam poder. Vivemos num mundo moderno, ou pelo menos assim pensamos. Pois, se você entrar em ruas de bairro, também vai notar outra aberração: a feira.

Isso, a feira. Nossa, como eu odeio esse negócio de feira. Notem que não há nenhuma que me atrapalhe, seja na frente de minha casa, nem nada. Mas eu acho um absurdo aquela sujeira, aquele cheiro, o fechar das ruas. Parece que estamos no Paraguai, ou dentro de uma Chinatown qualquer. Me dá ânsia...

Pra mim, é o ícone do atraso, da pobreza. Brigo em casa, sou contra a compra de produtos na feira. Tento propor boicote. Não é sempre que encontro sucesso. Sei que muitos vão achar que sou exagerado, que muitos adoram comprar em feiras, mas é isso aí mesmo. Acho que deveriam fechar todas as feiras, que façam aquelas chamadas de "Sacolão" ou "Hortifruti", em galpões fechados, limpos e que não atrapalhem ninguém.

Esse negócio de fechar ruas, ficar sujando e vender gritando é um mal dos países atrasados. Parece mesmo da Idade Média. Imagino as praças de castelos assim. Proponho que todos boicotemos esses infelizes da sociedade que nos fazem estancar nesses tempos pobres e de atraso social. Quem quiser, ponha o dedo aqui.... que já vai fechar.

Se você concorda ou não com essa coluna, escreva contando suas razões.

Juliano Maesano
São Paulo, 26/7/2001

 

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