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Quinta-feira, 2/8/2001
Sobre a leitura na tela de jornais e revistas
Vicente Tardin

Meses atrás comentei com um amigo jornalista uma notícia que li no jornal. Debochado, ele respondeu: "- Você lendo jornal de papel? Sujou o dedo de tinta? Não acredito!" O colega ironizava meu hábito de ler jornais pela internet, o que freqüentemente me deixava boiando em relação a certos assuntos mais comentados. Como a navegação na tela é uma maneira diferente de ler jornal, ele notou que eu nem reparava nas manchetes e ia direto para as seções preferidas.

O fato é que fiquei cismado e acabei fazendo a assinatura de um jornal de papel. Não deixa de ser um conforto abrir a porta de manhã e apanhar o exemplar. Mas nem tudo são flores. Neste último sábado, sem pressa, tinha tempo para ler com calma. O jornal veio gordo, devia pesar um quilo. Começo sempre pelo futebol, velha mania. Mas onde está a seção de esportes? Está escondida no meio de cadernos cobertos de anúncios de panelas em páginas inteiras (na capa e na contracapa!) e outros só de automóveis.

Já me acostumei, é assim todo sábado e domingo. Depois criticam a internet por desprezar a usabilidade... Não compro carro e panela toda hora, por que isso? Resmungando, cheguei ao pior: na parte de futebol só havia uma notinha de um parágrafo sobre o meu clube de coração!

Cada um quer uma coisa

Jornal de papel é bom. Mas o fato é que só 20%, sei lá, do conteúdo interessa. Para continuar no exemplo do esporte: como a notícia sobre meu clube é insuficiente, sempre vou ao site do jornal concorrente, onde por acaso o futebol tem melhor cobertura. E ainda dou uma passadinha no Pelé.net e no Lancenet só para saber mais sobre o meu time. Exagero? Não, os quatro veículos geralmente publicam coisas diferentes. Aposto que muitos outros torcedores fazem a mesma coisa. No meu caso, apenas me interesso por futebol e ignoro totalmente outro esporte.

Lógico que tenho outros interesses além do futebol. Diariamente visito vários sites para ler notícias e artigos, por força do trabalho, mas também para acompanhar outros assuntos (música, cinema, livros, política etc.) que nada têm a ver com o [web insider].

É uma leitura seletiva, de site em site pescando as coisas mais interessantes. Cada um tem seu hábito e faz o seu roteiro. Só um detalhe não encaixa - as publicações online, mesmo consultadas intensamente, ainda são deficitárias.

Voltando, para devolver a crítica e provocar o amigo debochado: apesar do conforto de receber o jornal na porta todo dia, diria que uma publicação impressa não é suficiente para satisfazer os diversos interesses de cada pessoa.

Há cada vez mais títulos de revistas, mais canais de televisão, mais sites especializados. Há uma fragmentação e uma overdose de informações. Para aproveitar melhor tudo de bom que se produz, ele teria que comprar diversas revistas e sair procurando as melhores matérias. Não há tempo nem dinheiro que chegue.

Citaria ainda um estudo que apareceu no noticiário, só para confirmar o ponto de vista. Segundo pesquisa realizada nos Estados Unidos pela empresa Content Intelligence, os jornais americanos estão perdendo leitores para a internet. Parece que uma pessoa acostumada a navegar (novamente a usabilidade e o hábito) tende a substituir a leitura de jornais pelas informações obtidas online.

A notícia é incompleta, mas diz lá que apenas 18% das pessoas com menos de 25 anos têm hábito de leitura diária de jornais, contra 62% dos norte-americanos com mais de 55 anos. Compare: Os jornais são uma parte importante do dia-a-dia de 22% dos jovens (usuários de internet) e a internet é uma parte importante do dia-a-dia de 65% deles.

Quero ver o que ele vai dizer! Mas agora, cá entre nós: se a internet é o jornal para tanta gente, por que os sites que recebem milhares de leitores todo dia precisam continuar deficitários?

Não poderia a propaganda aproveitar melhor o interesse de parte do público pelos informativos na web? Seria bom que os anunciantes pudessem reavaliar seus planos de mídia e considerar veículos mais segmentados. Dá mais trabalho, mas é possível fazer uma boa campanha na internet e produzir resultados positivos.

É costume dizer que a propaganda online não rende. Como leitor posso dizer a verdade: quando há relevância, presto atenção e vou conferir anúncios e ofertas. Quando não, mal reparo.

Mas também como leitor, voltando ao jornal, não me sinto contente de encontrar tantas páginas inteiras com anúncios de panelas, ventiladores e automóveis quando não estou interessado. Para mim só escondem o caderno de esportes.

O jornal diário me fez pagar por uma assinatura, ponto para eles. Os sites vivem à míngua, que pena. Será que devo cancelar a assinatura e sair clicando em todos os banners dos sites que freqüento? É bobagem, mas alguém tem que fazer alguma coisa!

Nota do Editor
Vicente Tardin é editor do Webinsider, onde este texto foi originalmente publicado.

Vicente Tardin
Rio de Janeiro, 2/8/2001

 

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