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Terça-feira, 31/5/2005
Blog, o último furo jornalístico
Fabio Silvestre Cardoso

Ao longo do ano de 2005, a grande mídia (o termo não é dito aqui em caráter pejorativo) tem, finalmente, aceitado o fato de que, sim, a Internet está vencendo a guerra pela atenção do leitor. O que era antes uma querela da academia, de repente - embora não tão de repente assim -, passou a ser questão de ordem nos principais veículos de imprensa do mundo. E, aqui, eu não me refiro apenas aos suplementos de informática, ou às revistas especializadas em jornalismo ou em novas tecnologias, como a Revista Imprensa e a Wired, respectivamente. Talvez no início fosse dessa forma. Hoje, a constatação é mais geral e menos simplista do que antes. Tanto é assim que, em abril deste ano, o semanário The Economist publicou um artigo grande a propósito dos jornais do passado. O texto da revista debate a polêmica entrevista de Rupert Murdoch (um novo Citzen Kane?), dono de um dos maiores impérios de comunicação do mundo, que, para a surpresa de muitos, escreve sobre o possível fim do jornalismo tal qual conhecemos hoje. Por aqui, também os jornalistas mais tarimbados se curvam, aos poucos, ao inevitável. Ruy Mesquita, diretor editorial de O Estado de S.Paulo, em entrevista ao Observatório da Imprensa, afirmou, entre outras coisas, que a integração entre o jornalismo e a Internet será cada vez maior. Tomado a frase do diretor do Estadão como ponto de partida, não é surpresa observar que os blogs têm um papel para lá de relevante nessa integração, balançando até mesmo a estrutura dos grandes veículos.

O caso das eleições norte-americanas foi amplamente comentado e é significativo no que concerne essa participação. Para quem não sabe ou não se lembra, os blogs foram os primeiros - e, em certa escala, os únicos - a indicar que George W. Bush seria - como foi - o vencedor da corrida pela cadeira na Casa Branca. O curioso é que durante a campanha os jornais eram unânimes na vitória de John Kerry (aliás, alguém se lembra dele?). O epitáfio dessa história é conhecido de muitos. Bush venceu e a mídia tenta, até hoje, explicar a derrota (fraude, valores morais, a luta contra o terror...). Mais equivocado (ou mal-intencionado) do que isso, só mesmo o papel de Dan Rather, o âncora da CBS que teve de pedir demissão após ter sido provado que uma reportagem (apresentada por ele) contra o presidente norte-americano era baseada em documentos falsos. Quem descobriu? Um blogueiro americano, pois sim.

É evidente que, a partir desses exemplos, os blogs seriam órgãos mais isentos do que os jornais impressos no que se refere à informação. Contudo, é também inegável que eles fornecem um outro lado que, até então, não existia ou, por outra, era considerado apenas teoria da conspiração. Nos Estados Unidos e na Europa, já existem alguns diários pessoais que se propõem a reportar os fatos a partir de uma perspectiva isenta, sem necessariamente opinar sobre os assuntos "postados". Em contrapartida, não é mais tão novidade assim a presença de grandes jornais, ou jornalistas renomados, no universo blogueiro - e não apenas com os sites pessoais (algo elementar, hoje). Jornais sérios como o The Guardian e a revista eletrônica americana Slate mantêm blogs, que dão vida às burocráticas edições diárias. Recentemente, foi a vez do The New York Times inaugurar o seu blog, ao que tudo indica em caráter experimental, durante o Festival de Cannes, na França. Talvez pela importância da versão impressa ninguém tenha comentado a respeito do conteúdo, o que fez da novidade notícia em si mesma.

No Brasil, o grande entusiasta na seara dos blogs é Pedro Doria , da Nominimo. Doria foi o primeiro, sem dúvida, a levar o assunto a sério e inclusive a comentar acerca de outros blogs numa coluna específica que existia na Nominimo há uns dois anos (Blogs Favoritos). De uns tempos para cá, para o bem e para o mal, especializou-se em encontrar novas tendências na rede. Ainda assim, permanece como o pioneiro na análise cruzada de veículos (comparar a edição eletrônica de vários jornais do mundo) por meio de suas edições eletrônicas. Outro que mantém uma coluna fixa na Internet é Ricardo Noblat, cujo nome tem sido mais comentado do que suas últimas participações (não menos importantes, diga-se) nos jornais Correio Braziliense (DF) e A Tarde (BA). Nas eleições municipais de 2004, estabeleceu um ritmo de cobertura 24 horas, que contou com a participação dos seus leitores. Resultado: sucesso absoluto, tendo sido muito mais ágil e interativo do que os flashes ao vivo das emissoras de TV.

Outros jornalistas, se não possuem seus próprios blogs, fazem questão de manifestar sua adesão pela nova ferramenta. Na Folha de S.Paulo, por exemplo, o jornalista Nelson de Sá (que assina a coluna Toda Mídia) compõe boa parte de suas notas com base nos blogs que costuma referendar, seja de partidos, de jornalistas, de políticos e até mesmo de personalidades (quando estas dizem algo de relevante). Já na revista Primeira Leitura, o diretor de redação, Reinaldo Azevedo, já afirmou usar os diários on-line como fontes de contraponto ao que escreve na sua coluna "A parte e o todo", de segunda a sexta no site da revista. Sinal dos tempos ou final deles, os principais veículos impressos do Brasil têm se posicionado nesse segmento. Nos já citados Folha e Estado, dossiês especiais foram feitos a propósito dos blogs. Enquanto isso, n'O Globo, cada colunista possui seu próprio diário on-line. E, coincidência ou não, a revista Veja desta semana anuncia na capa que os blogs se tornaram coisa séria.

Para além de simples diários sentimentais, os blogs têm se mostrado como verdadeiros instrumentos de aproximação das novas gerações com as notícias, com os fatos, muito embora sejam publicados apenas suas "versões". De todo modo, isso é um verdadeiro alento para o jornalismo, que finalmente consegue reagir em tempo real com mais essa mudança.

Fabio Silvestre Cardoso
São Paulo, 31/5/2005

 

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