busca | avançada
105 mil/dia
2,0 milhão/mês
Segunda-feira, 19/9/2005
A novela América e o sensacionalismo de Oprah
Marcelo Maroldi

Dias atrás, em uma aula de mestrado em filosofia, ouvi de um importante filósofo brasileiro que as novelas são um dos moldes da cultura brasileira. Nessa mesma semana, em um jornal local aqui da minha cidade, havia uma enquete sobre como promover educação ambiental e uma cidadã disse que era necessário que as novelas ensinassem isso. Tudo bem, mas, certamente, essas afirmações não serviriam para a novela América, a pior novela brasileira da história. Antes de prosseguir, porém, devo dizer que, embora a mulher repetisse o que ouvira de pessoas supostamente mais intelectualizadas, sou obrigado a discordar. Desde quando novela deve ensinar algo a alguém? Novela é diversão, apenas. Se alguém quiser se instruir não vai assistir novela! Faça isso de outro jeito. Novela é um canal de comunicação de massa, verdade, mas, não foi inventada para isso. Mas esse é outro assunto...

A novela América (segunda a sábado, TV Globo) tem um enredo, digamos, pitoresco. Há o quarentão que namora a menininha, o homossexual que não se assume, o cego ativista, o programa (metaprograma!) politicamente correto para portadores de deficiências, o médium que recebe espíritos, a viúva com o galã, o boi celebridade, o médico que faz especialização nos EUA mas trabalha como motorista, a vagabunda enrustida, o filho bastardo, o pedófilo que se aproveita do menino que conheceu na internet, o escritor pobre, a moça que vai tentar a sorte nos EUA, tem de tudo! É uma muvuca, meus amigos! Se na novela dizem, a toda hora, que os EUA é a terra das oportunidades, eu digo que a novela é a terra de ninguém. Para usar um termo popular, diria que sua autora quer abraçar o mundo. É desastroso.

Tudo bem, tudo bem... você está perguntando por que eu vejo a novela então? Ora, eu assisto para ver as meninas bonitas, é lógico!, principalmente as do núcleo da discoteca chique em Miami, que, além de só ter brasileiros, tem beldades dançando (algumas também se prostituem! Aliás, é a negra a prostituta...curioso isso!). Felizmente uma delas, Débora Secco, não dança mais, até onde eu vi estava presa... Falando nela, esses dias vi uma entrevista em que essa atriz dizia que seu marido (Falcão, vocalista do Rappa) era muito culto e inteligente e ela não entendia as coisas que ele dizia, pois eram muito difíceis! Certamente ela cresceu assistindo novelas...e leu muito pouco (calma, não é tão ruim assim, a ex-spice girl Victoria, que é esposa do jogador Beckham, disse semanas atrás que jamais leu um único livro em toda a sua vida. Importante destacar que seu marido tem duas biografias publicadas). Ah, mas esse parágrafo foi apenas para me justificar, vou retomar o assunto no próximo, caro leitor.

Além de ter um enredo de literatura fantástica, essa novela peca pelos temas que aborda. Ainda que a TV Globo esteja tentando empurrar goela abaixo, por exemplo, os rodeios, isso não está agradando. É muito rodeio, meu Deus! Como cansa falar de bois, caprichar no sotaque e não citar nenhum livro, nenhuma peça, nenhum filme, nada inteligente. Não digo que não há inteligência neste universo de rodeios, mas, se tem não está sendo retratado. É só dança e paquera (como nos rodeios reais, certo?). Outro ponto: forçam a barra sobre o assunto dos portadores de deficiências! Já foi divulgado inúmeras vezes na mídia que o ibope cai quando se inicia o programa dentro da novela. Se querem mostrar essa realidade, não vai ser enfiando um programa por semana dentro de América que a massa noveleira vai se educar. Finalmente, a questão da emigração para os EUA. Isso já cansou, e faz tempo! E a Globo ainda insiste, exibindo no Globo Repórter o mesmo assunto. Até o Gugu mostra isso, que coisa chata! A propósito, o programa do Gugu está morto e esqueceram de enterrar. Só não é pior que essa novela terrível, sem graça, cheia de gente bonita e história nenhuma!

Além dessa novela desagradável cheia de garotas seminuas, nesses dias passados assisti o programa da Oprah (The Oprah Winfrey Show, GNT, diariamente). A Oprah é a mais bem-sucedida apresentadora de TV americana, é Hebe do Tio Sam. Bom, eu assisti porque a chamada dizia que o programa falaria sobre o Katrina em Nova Orleans. Fiquei curioso! A Oprah é aquela apresentadora que na segunda faz um programa sobre mulheres que emagreceram fazendo a dieta da lua egípcia e na terça faz outro programa falando sobre mulheres que não conseguem fazer sexo com seus maridos porque foram estupradas pelos pais e tios. Você liga a TV e não imagina o que pode encontrar... pode ser qualquer coisa. Pode ser um sensacionalismo absurdo ou pode ser uma futilidade estupenda, é realmente impressionante o poder criativo dos diretores do programa (aliás, lembrei-me do Gugu de novo, mas deixa pra lá).

Mas, enfim, lá estava eu vendo o programa da Oprah (que, infelizmente, é no mesmo horário do programa do Leão Lobo... que pena!). Bom, só assisti ao primeiro programa (foram dois). Aquilo sim foi sensacionalista, mas, nada que já não cansamos de ver por aqui. E, acredite, eu fiquei com vontade de chorar. Não, eu não consegui ficar com vontade de chorar, eu chorei mesmo. Eu não estou envergonhado por assumir isso, afinal, não importa a abordagem que se use, ver uma negra de 60 anos chorando pelos filhos mortos me emociona. Nova Orleans está realmente destruída. As coisas não estão boas por lá. É uma África dentro dos EUA, uma África onde a Sol da novela América não está... O programa mostrou celebridades fazendo caridades pela cidade, e alguns lugares onde as pessoas se protegiam. Abrigos onde, dias antes, as crianças eram estupradas ao irem aos banheiros, e, portanto, de onde muita gente fugia, encarando mais facilmente o furacão do que a estupidez humana ali presente.

Duas realidades tão distingas a apenas alguns números do controle remoto. Eu fiquei pensando, para este caso, o que eu queria da minha vida televisiva: um programa que não acrescentasse nada a minha pessoa - mas que também não me estressasse - ou um programa que se utilizasse das emoções das pessoas para se sustentar - mas que é vida real. Sensacionalista é um termo que ouço os falsos intelectuais de plantão criticarem todos os dias. Descem a lenha nas Oprah's da televisão. É como se apenas o povo ignorante, como eu, assistisse a esse tipo de programa por mais de 3 minutos. Como se apenas os despreparados pudessem se emocionar com algo que, sabem eles, é preparado para emocionar, um pacote feito para levar as pessoas às lágrimas. Pessoas inteligentes não se emocionam com isso, com essa armação (mesmo que o sofrimento seja verdadeiro, pois quem estraga tudo é o espetáculo da TV, correto?). Mas eu nem sei porque falei isso... pessoas inteligentes não assistem televisão e não vêem nem América e nem Oprah. Eu vejo, mas, caro leitor, é porque a minha vó (que não é uma falsa intelectual) quer assistir, e só temos uma televisão na minha casa... e eu não gosto de deixá-la sozinha vendo TV.

A imbecilidade humana não tem limite

Hoje, meu carro, que estava parado em uma rua praticamente deserta, foi jogado longe por um veículo desgovernado que continha 3 bêbados em seu interior. Nenhum deles conseguia parar em pé, e, certamente, só saberão o que ocorreu depois que o álcool sair do seu sangue. O que dirigia, inclusive, tinha 70 anos de idade, e fedia pinga em uma quinta-feira às 14hs. Isso não tem nada a ver com a minha coluna, sabe?, mas é que poderiam ser crianças na calçada ao invés do meu carro... Eu até lembrei da frase que inventei e que fez muito sucesso no meu blog: o trânsito é a maneira mais eficiente que o ser humano encontrou para demonstrar o quanto é imbecil. No caso, o problema aqui era a bebida, mas poderia não ser. Poderia ser só um racha, um garoto que pegou o carro do pai escondido, qualquer coisa assim. É, a imbecilidade humana não tem limite mesmo... e isso independe de assistir a novela ou não.

Marcelo Maroldi
São Carlos, 19/9/2005

 

busca | avançada
105 mil/dia
2,0 milhão/mês