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Terça-feira, 27/6/2006 A Casa do Saber no Rio de Janeiro Luis Eduardo Matta Inaugurada em abril de 2004, a Casa do Saber nasceu quase por obra do acaso. Tudo teve início cerca de dois anos antes, quando o empresário Jair Ribeiro da Silva Neto começou a reunir, com regularidade, amigos em sua casa, em São Paulo, para estudar e discutir filosofia e convidou o professor da USP, Mário Miranda Filho, para mediar as discussões. Com o passar dos meses, o número de freqüentadores cresceu de maneira supreeendente, evidenciando o interesse de uma parcela da sociedade por encontros daquele tipo. Foi então que alguns dos membros do grupo - como o publicitário Celso Loducca, o advogado Pierre Moreau, a empresária Ana Maria Diniz e a atriz Maria Fernanda Cândido, entre outros - tiveram a oportuna idéia de abrir os debates ao público, criando um centro de estudos com as características e o espírito daquelas reuniões de amigos. O imediato e expressivo sucesso da Casa do Saber paulistana - que logo se viu na contingência de abrir uma segunda unidade para dar conta da procura crescente pelos cursos - é a prova de que a iniciativa veio em boa hora, suprindo, assim, uma carência histórica por instituições com este perfil nas cidades brasileiras. Quando, no começo deste ano, eu soube através deste Digestivo Cultural, que a Casa do Saber estava em vias de abrir uma filial no Rio e que, inclusive, já contava com um local para se instalar, fiquei exultante. O local em questão era um belo casarão onde antes funcionara um prestigiado restaurante de culinária argentina, o El Patio Porteño, incrustado em plena Lagoa Rodrigo de Freitas junto a Ipanema, a pouco mais de vinte minutos a pé da minha casa. Melhor, impossível, pensei. Logo que a unidade carioca foi aberta, o Digestivo colocou-se em contato com ela e foi agendada uma visita minha ao local, o que aconteceu na terça-feira, dia 6 de junho, num fim de tarde parcialmente encoberto e muito agradável. Lá, eu tive a oportunidade de me reunir demoradamente com o seu diretor executivo, Alexandre Ribenboim, que, com desenvoltura e entusiasmo, contou-me como tudo aconteceu. Com trezentos e vinte metros quadrados de área construída, distribuídos por três andares, a Casa do Saber carioca possui três salas de aula. A maior delas, no térreo, conta com setenta lugares. As demais, possuem, respectivamente, trinta e vinte e cinco lugares. Por ironia é, justamente, a menor das três a que conta com a melhor vista; ela está situada no último andar e é a única voltada para a fachada principal da construção, de onde se descortina a paisagem deslumbrante da Lagoa Rodrigo de Freitas, do Morro do Sumaré e do Cristo Redentor. Até o momento, já passaram por lá figuras de peso dos círculos intelectuais do Rio, como a crítica e tradutora Bárbara Heliodora, que falou sobre Shakespeare; o poeta e editor Alexei Bueno, que discorreu sobre os grandes poetas da língua portuguesa; o professor Fernando Santoro, que deu um curso sobre a filosofia na Grécia antiga e o professor e historiador Francisco Carlos Teixeira da Silva, que abordou o tema das relações internacionais após 1991 - ano da Guerra do Golfo, do fim da União Soviética e, conseqüentemente, da Guerra Fria (um tema muito interessante, por sinal). Para o próximo mês de julho já estão agendados cursos sobre o Mito de Édipo, ministrado pela professora Nina Saroldi; sobre Homero, que será dado pelo professor Antonio Cavalcanti Maia e sobre Mozart, ministrado pelo especialista em ópera Antônio "Mecha" Monteiro Guimarães, entre outros. De acordo com Alexandre Ribenboim, a procura tem sido alta, as aulas têm lotado e o interesse junto ao público é crescente e, até certo ponto, vem superando as expectativas iniciais, que já eram bastante otimistas. O Rio de Janeiro, pela sua importância cultural e por abrigar um expressivo número de artistas e intectuais, não poderia deixar de ser brindado com a presença de uma instituição deste porte. Vale, no entanto, ressaltar que o perfil da Casa do Saber, em suas três unidades, foge ao paradigma universitário e isso é particularmente evidente na atmosfera adequadamente descontraída das suas aulas, onde os professores evitam se encastelar num pedestal para destilar pomposamente a sua sabedoria para uma legião de alunos submissos. A Casa do Saber é, isso sim, um centro de debates de inspiração quase socrática, um local que privilegia o pensamento e o conhecimento e é justamente por essas características, que a sua existência deve ser louvada e enaltecida por todos que defendemos o saber como um dos passaportes essenciais para alcançar a plenitude nas nossas vidas. Ainda mais numa época como a atual em que o ato de pensar e de refletir anda tão desvalorizado pela maioria. Para ir além Casa do Saber Rio Luis Eduardo Matta |
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