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Segunda-feira, 25/12/2006
Festival U Can Move It
Camila Martucheli

Este texto poderia ser um review comum, composto por um resumo do festival, do qual foi feita a cobertura, as peculiaridades do show, momentos interessantes, principais músicas, mas não poderia deixar de tratar o evento de forma humanística. É necessário valorizar o contexto do U Can Move It com o tipo de público, de artistas, suas formas de vestir e agir. Fez-se importante relatar em detalhes o que foi e como foi esse festival que reuniu góticos de BH e grandes nomes da música industrial/ gótica/ dark wave.

Belo Horizonte é conhecida como a capital da sociedade tradicionalista, às voltas pela manutenção da moral e dos bons costumes, mas alguns grupos transgridem essa regra e um deles vai além, prefere e tenta viver à margem dessa sociedade. Eles estão nas esquinas da cidade, na Praça da Liberdade e na Savassi, mesmo que esses sejam os points da classe mais abastada de BH, e não dispensam uma balada underground. Essas pessoas também rondam por cemitérios à noite, utilizam-se de um vestuário peculiar, tendo o preto como cor predominante, e uma maquiagem carregada - tanto as moças, como os garotos. Se autodenominam góticos, darks ou simpatizantes dessa vida envolta por sombras, poesias sombrias, vampirismo e muita música eletrônica, especialmente o dark wave.

Na quinta-feira, dia 07 de dezembro, o Matriz foi sede do festival U Can Move It, que reuniu alguns dos principais DJs do cenário eletrônico voltado para o dark/ gótico: as bandas mineiras Enjoy, Rammstein Cover e a alemã Das Ich, pela primeira vez na cidade. O festival começou com uma hora de atraso, o que não acarretou problemas maiores. A casa estava cheia e muito quente, nada que uma cerveja gelada e os primeiros movimentos dançantes não resolvessem o problema.

O U Can Move It foi um evento perfeito para os góticos e simpatizantes do estilo. Os presentes capricharam no visual, olhos carregados de lápis preto, grandes saias pretas ou vermelhas, correntes, espartilhos. Os homens não fugiam muito à regra, tirando a saia e o espartilho. Pelos corredores se viam os membros das bandas se divertindo, conversando com o público, em português, inglês, alemão (os góticos adoram a língua alemã - boas bandas do estilo industrial/ gótico são advindas da Alemanha, vide Lacrimosa, Rammstein e a própria Das Ich).

Enquanto os DJs comandavam as pickups, alguns preferiram as mesas do bar, já outros permaneceram incansavelmente na pista dançando os singulares passos que se caracterizam pelo movimento sensual dos braços e quadris. Nada parecido com aqueles vistos nas raves e boates que rolam música eletrônica, dentre da vertente dance, techno, trance e por aí vai. Homens e mulheres, mulheres e mulheres, homens e duas mulheres, todos se divertindo como querem, sem qualquer tipo de pudor ou regra.

No Matriz, no Festival U Can Move It não havia diferença entre o público e os artistas. Os músicos do Enjoy se compunham por roupas normais (em relação ao que a sociedade define como sendo normal). Já a banda cover de Rammstein seguiu o mesmo figurino da original, mas o visual do Das Ich realmente é impactante. Um cara alto com apenas dois pedaços da cabeça coberta por cabelos e o resto cortado com máquina zero. Esses cabelos eram cor-de-rosa e presos para cima, o que fazia conjunto com a maquiagem dark excêntrica com riscos vermelhos, rosto extremamente branco e olhos pintados de preto. Isso sem falar na roupa, preta e vermelha, em um estilo singular, o qual não consigo descrever. Agora - desculpem-me os fãs, ou alegrem-se, vai saber - o vocalista parecia o capeta. Ele estava vermelho e com o cabelo dividido em mechas presas em cima, aos moldes dos moicanos punks, mas em forma de cone. Acreditem, era uma figura assustadora. O outro tecladista era um tipo comum, cabelos loiros e compridos, apenas.

legenda

As apresentações começaram com o Rammstein Cover, banda que sempre agrada o público por sua fidelidade à original. Em seguida, mas com os DJs se revezando entre uma banda e outra, o Das Ich sobe ao palco para uma apresentação energética e com muita atitude e excentricidade. A voz grossa do vocalista unindo-se ao ritmo alucinante do industrial fazia um som pesado e sombrio, ao mesmo tempo em que proporcionava batidas que levavam as pessoas à catarse. O show durou cerca de duas horas e na seqüência a conhecida dos mineiros Enjoy entrou em cena.

O Enjoy é uma das bandas queridinhas de Belo Horizonte, está presente em quase todas as festas do gênero e já possui uma pequena legião de fãs que saem de casa especialmente para vê-los tocar e curtir o som. No U Can Move It não foi diferente, a banda conseguiu levar mais gente para dançar na pista do que o Das Ich, já que no primeiro show grande parte do público apenas assistiu. Mesmo que o Enjoy tenha começado a apresentação depois das duas da manhã, o público não se deixou abater e curtiu tudo até o final. Foi um grande festival em um local pequeno, mas que casa muito bem com o seu propósito. Então, o dia estava quase amanhecendo quando a última batida do U Can Move It soou.

Camila Martucheli
Contagem, 25/12/2006

 

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