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Quinta-feira, 31/5/2007
O sucesso do Cansei de Ser Sexy
Luiz Rebinski Junior

A banda paulistana Cansei de Ser Sexy se transformou na grande vedete do circuito indie europeu. Lotando os clubes mais hypes do pedaço, o combo paulistano vem angariando elogios generosos da crítica especializada de lá.

Desde que o grupo Sepultura lançou Chaos A.D, nos idos de 1993, não se tem notícia de tamanho interesse de periódicos musicas gringos por um grupo de rock brasileiro.

Formado por cinco meninas — LoveFoxxx, Luiza Sá, Carolina Parra, Ana Rezende e Ira Trevisan — e pelo produtor e baterista Adriano Cintra, a banda caiu nas graças do selo norte-americano Sub Pop, famoso por ter revelado o Nirvana no início dos anos 90. Quase desconhecido no Brasil, o CSS, como também é chamado, teve seu disco de estréia lançado nos Estados Unidos no ano passado, com músicas todas em inglês.

Fugindo do estereótipo dos grupos musicais brasileiros que fazem sucesso no exterior, o Cansei de Ser Sexy aposta em som pouco abrasileirado, com letras em inglês e uma espécie de rock para tocar em pistas de dança e vice-versa.

No entanto, o sucesso feito lá fora não comoveu grande parte da imprensa nacional, que não demorou a dar suas cutucadas no nosso mais novo produto de exportação. Não faz muito tempo o jornalista Álvaro Pereira Junior, colunista do comportado FolhaTeen, caderno da Folha de São Paulo, tratou de minimizar o feito do sexteto, escrevendo que algumas das críticas do primeiro (e único) disco do grupo, principalmente as vindas dos Estados Unidos, foram bem negativas. Junior ainda colocou em xeque a cobertura, exagerada em seu entender, feita pela Folha sobre o sucesso do Cansei de Ser Sexy. O texto causou polêmica e teve como conseqüência uma réplica irada de Adriano Cintra, líder da banda.

O disco
Rusgas à parte, o fato é que o sucesso do CSS não é por acaso. Pelo contrário, o disco é bom. A mistura entre o rock indie e as batidas de música eletrônica tem a dose certa. Nem tão céu nem tão inferno. E talvez seja essa característica que fez da banda a queridinha do momento, conquistando fãs famosos como o ex-andrógino Brian Molko, da banda Placebo.

Em geral, as bandas brasileiras que cantam em inglês parecem um simulacro dos grupos gringos. Não é o que acontece com o CSS. As faixas cantadas em inglês neste caso são bem melhores do que as interpretadas em português. Isso porque Lovefoxxx quando se aventura na língua-mãe soa como Kelly Key.

Músicas como "Fuckoff is not only thing you have to show", que abre a bolachinha, e "Off the hook", são representativas do som da banda. As duas faixas mostram bem como o grupo absorve, com a mesma intensidade, o rock e o som eletrônico em suas criações. A primeira delas, permeada por "barulinhos estranhos", que lembram ringtones de celular, tem batida de puro poperô; já a segunda, uma das melhores faixas do álbum, é baseada em pujantes riffs de guitarra que dão o tom da canção. "Art bich", outro bom momento do álbum, traz distorções à Sonic Youth e é cantada como se fosse um rap. Tem-se a partir daí uma idéia de como o som do CSS é cheio de referências díspares que se completam.

O disco ainda traz bons sons como "Meeting Paris Hilton", homenagem à patricinha mais famosa do mundo, "Acho um pouco bom", música de abertura do programa Trama Virtual, do canal Multishow, e a calminha "Poney honey money", que lembra muito o som do grupo norte-americano Pavement. Porém, a cereja do bolo é mesmo "This month, day 10", um rock dançante cantado com empenho por Lovefoxxx e com refrão grudento. O grande barato do CSS é que sua música está em uma região limítrofe, entre o rock e a eletrônica, sem que penda para nenhum dos lados. Daí deriva a dificuldade de absorção do som da banda por parte tanto de críticos quanto do público mais radical. Em um tempo onde todas as bandas querem soar como os Stones, ser punks amalucados como Iggy Pop e tocar e se vestir como os grupos garageiros dos anos 60, é ótimo ver uma banda como o Cansei de Ser Sexy, que prefere olhar para o lado e para frente quando o assunto é referência musical.

Bandas como Strokes e a brasileira Forgotten Boys, por exemplo, são ótimas, fazem discos excelentes, mas estão sempre olhando para trás, sugando e tentando recriar os clássicos do rock. Nesse sentido o CSS é muito mais atual, já que trabalha com elementos bem mais contemporâneos e consegue extrair daí algo original e incisivo. No entanto, há uma clara falta de vontade da crítica nacional em reconhecer tal fato.

Todo ano surge uma nova banda para salvar o rock. A imprensa brasileira logo corre e dedica páginas e mais páginas de seus cadernos culturais para reverenciar o novo messias do pop. Mas esquece de olhar para o quintal de casa. E quando olha, prefere enveredar pela crítica ácida e dizer que o som não é tão bom quanto se fala. É o que tem acontecido com o CSS.

O debute do Cansei de Ser Sexy certamente não é primoroso ou mesmo imperdível, mas é um bom álbum que está tendo merecido reconhecimento no exterior. Tocar nos grandes festivais da Europa e Estados Unidos, como tem feito o CSS, não é para qualquer um. Ainda mais quando a banda em questão sai de um país com pouca tradição no cenário internacional de rock.

Luiz Rebinski Junior
São Paulo, 31/5/2007

 

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