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Quinta-feira, 20/9/2001
Metacoluna
Adriana Baggio

Às vezes os escritores têm um bloqueio criativo que faz com que fiquem apavorados diante de uma folha de papel em branco. Longe de ter a pretensão de me comparar com escritores, mas estou tendo essa espécie de pavor diante do Documento 1 – Microsoft Word. Acabei de clicar no fatídico ícone de um retângulo branco, que representa o meu cadafalso. Estou preenchendo estas linhas teclando bobagens, enchendo lingüiça, aguardando pela inspiração que não vem.

Já pensei em diversos assuntos que poderia abordar na coluna de hoje, mas descartei todos. Alguns eu não domino o suficiente para elaborar um texto à altura dos leitores do Digestivo. Outros já me cansaram, como o atentado nos EUA. Tenho a impressão que já se falou tudo sobre isso, além de que, confesso, estou meio sem paciência. Procuro me informar por alto sobre o que acontece, arrisco a ter algumas opiniões, mas minha ansiedade acaba vencendo e eu deixo essa complicação de lado. Logo depois me sinto frustrada, porque vejo que meus colegas do Digestivo ainda têm muita coisa interessante para dizer sobre o assunto, enquanto eu já esgotei meu repertório. Falo para mim mesma que estou progredindo, e que talvez, algum dia, consiga a mesma performance dos colegas que admiro.

Outros assuntos que poderia abordar seriam pessoais, plus pessoais. Como estou muito absorvida com minha própria vida ultimamente, este seria o tópico que mas me interessaria tratar. Mas não tenho o desprendimento de abrir meu coração aqui neste espaço. Precisaria de alguns anos de análise para remover este recalque. Tentei usar o artifício de transformar meu desabafo em ficção, mas fui incompetentíssima. Tudo pareceu muito falso, quadrado, certinho, sem o menor talento nem interesse. Mais uma vez, pensei nos meus colegas do Digestivo, como o Fabio Danesi Rossi, que transita livremente da realidade à ficção, com a maior desenvoltura, sem recalques nem incompetência no seu texto. Não sei, caro leitor, se você ficou curioso em relação à minha vida pessoal, que foi ligeiramente emocionante neste fim de semana, com algumas contravenções sociais e outras de bom senso, mas entre mortos e feridos estou me recuperando. Bom, nem deveria ter dado essa palhinha, porque não posso ir além. Somente minha melhor amiga ficará sabendo destes segredos inconfessáveis. Coisa de mulher, não é mesmo?

Estou vendo que minha "lingüiça" já está no quarto parágrafo, e eu ainda não falei de nada interessante. Se eu tivesse mais coragem, tomava um ácido, como Aldous Huxley, para abrir as portas (êta, Jim Morrison! Você não tinha esse problema, não é?). Quem sabe não poderia sair alguma coisa curiosa desta cachola? Talvez alguma ficção rasteira, mas interessante, que as pessoas lessem rapidamente, e esquecessem idem. Ou então uma visão pitoresca de algum tema comum, que nunca ninguém tivesse pensado. Difícil, já que todas as idéias hoje são recicladas. Aliás, acabei de lembrar que tenho um monte de opiniões sobre quase tudo na vida, para desespero daqueles que me conhecem e precisam conversar comigo. Mas toda essa proliferação de idéias parece ter se escondido em algum lugar. Quando uma ou outra passa correndo pelo meu consciente, vejo que não haveria possibilidade de conexão, e em vez de um texto, faria uma colcha de retalhos.

Cada vez mais desesperada, fuço minha mente em busca daquele pequeno ponto que me permita desenvolver um texto decente. Procuro em vão, ele não aparece. Lembro daqueles escritores que mais parecem coelhos, de tão férteis que são em textos. Sempre têm muitos escritos guardados, virgens, esperando avidamente para serem publicados. Enquanto eu, mais pareço uma torneira entupida, que por mais que se tente abrir, só pinga lentamente, torturando aqueles que por acaso interagem com ela. Já pensou em como se sente essa torneira? Inchada com o volume de água que não corre, inconformada pelo potencial desperdiçado.

Relendo o texto, vejo que falei muito mais de mim do que seria prudente. Por outro lado, acho que não há nada aqui muito indiscreto, não é? Vou mandar para o editor e pronto. O que está feito, está feito. Talvez ele recuse, mas se não recusar, também não vou pedir para tirar nem uma vírgula. Vou correr o risco de me revelar um pouco mais, e compartilhar estas angústias que me atrapalham o raciocínio.

Caro leitor, se você chegou até aqui com a esperança de que talvez houvesse uma surpresa no final, como se estivesse comendo uma bala ruim que vale pelo recheio, sinto decepcioná-lo. Era só isso mesmo. Mas talvez possa me ajudar. Para não passar por essa tortura de novo, queira sugerir algum tema que eu possa abordar neste espaço. Como já disse, tenho opinião sobre quase tudo, mesmo sobre assuntos que não domino (neste caso, ou pesquiso um pouco, ou "chuto" descaradamente). Pode ser qualquer coisa, de conselhos amorosos a política internacional. Se você quiser, posso até colocar o crédito no texto, dizendo que foi você que sugeriu determinado assunto. Se não quiser, você fica anônimo. Vamos lá, me ajudem! É só clicar no link para meu e-mail, logo abaixo do texto. A grande vantagem é que vocês não correrão o risco de ter que ler sobre minhas aventuras de fim de semana, ou desabafos recalcados como esse. Se eu receber um feedback razoável, minha auto-estima melhora, meus textos melhoram e vocês terão algo mais interessante para ler. O que você está esperando? Comemore a interatividade e me mande um e-mail!

Adriana Baggio
Curitiba, 20/9/2001

 

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