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Segunda-feira, 14/1/2008
O ano-velho, o cinema e eu
Gabriela Vargas

Final de ano é assim: todo mundo começa a fazer o balanço do que aconteceu de importante tanto no âmbito pessoal quanto no coletivo. E às vezes isso se torna chato: retrospectivas das notícias mais importantes, dos maiores desastres, dos políticos mais corruptos, dos namoros, das dívidas. Muitos dizem que o amor salva, mas o que salvou meu ano foi a arte. Como gosto muito de cinema, resolvi fazer uma retrospectiva dos melhores filmes lançados em 2007 e meu balanço saiu razoavelmente positivo.

O primeiro filme que veio na minha cabeça foi Diamante de sangue, do diretor Edward Zwick. Me lembrei dele não somente por ter sido o primeiro que assisti no ano passado, mas também pelo fato de ter concorrido ao Oscar de melhor ator, com o Leonardo Di Caprio e ao Oscar de ator coadjuvante, com Djimon Hounsou. Posso estar errada, mas ninguém tira da minha cabeça que houve um equívoco quanto a essa classificação. Na minha concepção, tanto Danny Archer (Leonardo Di Caprio) quanto Solomon Vandy (Djimon Hounsou) são os personagens principais do filme, e, se somente pudesse ser escolhido um, certamente ficaria com Solomon. O filme se passa em Serra Leoa, durante a guerra civil nos anos 90, e conta a história desses dois personagens de vidas completamente diferentes: Archer, contrabandista, e Solomon, pescador, que se cruzam quando saem à procura de um valioso diamante rosa. O filme faz uma denúncia ao contrabando de diamantes e mostra a cruel realidade dos países subdesenvolvidos africanos.

Outro lançamento importante de 2007 foi Babel, do renomado diretor Alejandro González Iñárritu, que também fez os filmes Amores Brutos e 21 gramas. Babel, como os outros de Iñárritu, mostra histórias diferentes que se interligam em certo momento da trama. Nesse caso, são pessoas de quatro países diferentes (México, EUA, Japão e Marrocos). O filme tem no elenco Brad Pitt e Gael García Bernal. Ganhador do Globo de Ouro de melhor filme dramático em 2006, concorreu ao Oscar de melhor filme em 2007 e ganhou o Oscar de melhor trilha sonora. Uma ótima escolha para aqueles que gostam de filmes mais alternativos, com um enredo surpreendente.

Falando em filmes importantes de 2007, não posso deixar de citar o brasileiro Saneamento básico, o filme, do diretor gaúcho Jorge Furtado. No elenco estão os ótimos atores Lázaro Ramos, Fernanda Torres, Camila Pitanga, entre outros. A importância desse longa-metragem não se dá apenas pela qualidade da obra, mas pelo uso intenso e bem empregado da metalinguagem. Um curta-metragem é produzido pelos personagens. Aquela história de filme dentro de filme. Expliquemos melhor: os personagens moram numa cidade do interior do Rio Grande do Sul em que o saneamento básico é precário. Como o governo local não dá prioridade a essa questão, eles descobrem que a única verba que Brasília dispõe é a de um concurso de curtas-metragens. E então eles resolvem participar. O filme faz uma crítica à lei de incentivo a cultura ao mesmo tempo em que as pessoas nem têm esgoto, mas mostra de forma espetacular a importância do cinema. Uma ótima produção nacional, muito bem-humorada.

Continuando com as produções nacionais, não poderia faltar aqui o polêmico Tropa de Elite, do diretor José Padilha, que iniciou a carreira com o documentário Ônibus 174. Com certeza, esse foi um dos maiores sucessos de 2007 e o filme nacional mais assistido, tanto nos cinemas, quanto nos DVD's piratas (popularizando o filme, antes do término da produção do mesmo). O longa-metragem virou sucesso nacional e até brinquedos do Capitão Nascimento (personagem de Wagner Moura) com o famoso saco de tortura foram criados por uma marca famosa. Tentando retratar a realidade brasileira a partir da visão dos policiais ― e não dos bandidos e traficantes, como foi feito em Cidade de Deus, por exemplo ―, o filme causou um grande efeito nos espectadores. Muitos idealizaram o BOPE como a força heróica do país e colocaram a caveira como seu símbolo predileto. Porém, o mais importante foi a realidade crua e não sensacionalista que o filme nos trouxe, mostrando que todos participam de forma direta ou indireta da mesma. E, contraditoriamente ou não, o DVD pirata do filme continua sendo muito vendido.

Chegando ao final, não poderia deixar de citar Os Simpsons ― O filme, que, depois de vinte anos no ar como desenho, veio às telas de cinema em julho do ano passado, como um grande episódio de oitenta e sete minutos. E é isso mesmo que o filme é: nada mais que um episódio comprido. Por conhecermos a família Simpson e os outros moradores de Springfield, no filme não foram necessárias apresentações e logo nas primeiras cenas já podíamos dar boas risadas. Ironizando o universo hollywoodiano e os políticos, é impossível não achar graça. E ver o Bart pelado, nossa, essa não tem preço. Por isso que a versão cinematográfica tem seus aspectos positivos: os diretores tiveram a liberdade de mostrar isso e muito mais, sem a censura da televisão.

E, pensando bem, o saldo do ano que passou não foi razoavelmente bom, não. Foi bom, e muito bom. Fiquemos felizes com o nosso cinema, que cada dia mais produz obras melhores.

Gabriela Vargas
Porto Alegre, 14/1/2008

 

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