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Quinta-feira, 1/11/2001
Nostalgia
Juliano Maesano


Estou ficando velho. Há tempos que usei a famosa frase: "Essa música é do meu tempo..." Foi direcionada a um desses novos jovens que gostam do forró da moda e coisas insuportáveis como o techno.

Agora sei como se sentia meu pai ao mostrar o LP "Os Incríveis" para mim, sei o que passa na sua cabeça ao ouvir Paul Anka e Brenda Lee. Tudo isso veio acontecendo aos poucos comigo, mas agora me pego dia após dia baixando músicas na internet. Adivinhe quais? Busco "Kon Kan", "A-ha", "Double You", "Duran, Duran", "John Secada", "The Cure", "Paula Abdul", "Rick Astley", "Right Said Fred", "Simple Minds", "Snap", "Talking Heads", "Smiths", "Technotronic" e outras tralhas dos anos 80 e 90.

Se você não reconhece metade dos artistas que citei, você não participou da minha época, você não passou pelo "Menudo". (KLB? Backstreet Boys? Que nada...) Não adianta dizer que não gostava, pois se fosse daquela idade, ainda não teria criado o senso crítico necessário, engolindo assim até o "Menudo"; mas, sendo da minha idade, com certeza odiou os "New Kids On The Block" que vieram depois. Aos moradores de São Paulo, lembram da Up and Down, das boatecas dos Clubes Sírio e Ipê? É, até a Ana Paula Arósio e a Luana Piovani eram encontradas lá... Quantos de nós não podemos dizer: "É, eu peguei a Arósio quando ela era novinha... Depois ficou metida..." Eu não posso, mas conheço quem possa.

Percebo que não importa a qualidade da música e sim as lembranças e emoções que elas despertam. Emoções tão fortes que brigaremos com nossos filhos, mandando eles abaixarem seus sons, pois Raimundos (estarão eles vivos até meu filho nascer?) não se compara com as bandas de "antigamente", como o RPM (que parece estar prestes a fazer um retorno, para nossa alegria).

"Quem ousaria querer dançar com essa música?", dizia meu pai. "No meu tempo dançávamos de rostinho colado ao som de Johnny Rivers, bebendo cuba libre." Os tempos mudaram, pois no meu tempo, que pegou o finzinho dos bailinhos com vassoura, só podíamos dançar mesmo ouvindo "Dancing With Myself" de Billy Idol e tomando keep cooler... Hoje o que pega é esse "lixo" de bate-estaca regado à flash power, com uma maconhazinha ou químico um pouco mais acessível do que na minha "época" ou do meu pai...

As músicas "do meu pai" são mesmo melhores que "as minhas"? E as novas, dos anos 2000? Devem ser todas iguais, mas nosso inconsciente parece mesmo fazer com que sintamos esse tal negócio de querer valorizar o que é "nosso"... tanto que mesmo fazendo esforço para perceber a baixa qualidade, eu vibro ainda ao ouvir Léo Jaime, Metrô e um Kid Abelha do início... É, só pode ser coisa da emoção mesmo, pensando bem... Mas que vale a pena bater o pé e não abrir pra discussão, vale... se complicar, use frase do tipo:

"Você não sabe nada, é muito novo. Aquela época sim, que era boa..."

E não era? Muitos amigos desdenham os anos 80, dizendo que de lá não saiu nada... Eu discordo... Podem não ter sido os mais frutíferos em qualidade, mas é só começar a baixar músicas na internet que você descobre que não foi tão ruim assim...

Juliano Maesano
São Paulo, 1/11/2001

 

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