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Segunda-feira, 6/10/2008
Ao vivo do Roda Viva, pelo Twitter
Verônica Mambrini

Já faz alguns meses que, sempre que o programa Roda Viva, da TV Cultura, é transmitido ao vivo, recebe alguns convidados que comentam, via Twitter, a entrevista de dentro do estúdio. O Digestivo Cultural foi convidado a participar do programa que entrevistou Wagner Moura, em 29 de setembro, do qual tive a chance de participar. A bancada dos twitters não fica ali no alto sem motivo: a visão do estúdio é quase completa; não apenas dá para ver como agem os entrevistadores, em silêncio sepulcral enquanto alguém faz uma pergunta, mas também as reações de quem mais estiver no estúdio. A produção quase sempre concentrada, mas por vez ou outra alguém com olhar perdido, só esperando a hora de entrar em ação.

A TV Cultura fica em ruas tranqüilas perto da Lapa, ao lado da Marginal Tietê. De cara, já dá para ir entrando no clima desde a sala onde começam os bastidores do Roda Viva, com as paredes cobertas de charges. Como não twitto pelo celular, fez falta ter à disposição uma rede wi-fi por ali, que me permitisse conectar o notebook. Em seguida, fomos para a maquiagem eu, a Larissa Menon, do Cinezine, e o Alexandre Fugita, do Techbits. Logo mais chegaram os entrevistadores do programa, dispensando uma certa afetação e ar blasé, no mínimo divertidos.

O convidado dessa edição foi o Wagner Moura, na onda do sucesso de Tropa de Elite, e, mais recentemente, da reencenação de Hamlet que ele protagoniza. Bastou Moura chegar para começarem as entrevistas de bastidores; além do programa que os telespectadores têm acesso pela tevê, existe uma cobertura "off" rolando antes do programa, um pouco depois e durante os intervalos. Ou seja, é só a câmera desligar e se fecha uma rodinha ao redor do ator; são outros papos e perguntas mais off ainda. Em outras palavras, sempre vai haver um bastidor depois do bastidor revelado, uma conversinha de canto que nenhuma câmera de celular consegue pegar e nenhum microfone alcança. Os entrevistadores, que nesse meio tempo já haviam sido devidamente maquiados e tinham colocado as fofoquinhas em dia, voltam para a sala de espera. Portanto, chega de papo: hora de ir para o estúdio.

Juntei-me ao grupo e o Vicente, da produção da Cultura, quase ficou louco porque eu não largava da Coca Zero, até que eu deixei ela quieta debaixo do balcão. Meu Dell foi devidamente maquiado também e ganhou a etiquetinha da tevê, para evitar o merchandising.

A TV Cultura tem hoje um departamento responsável por pensar esse tipo de iniciativa, o Núcleo de Novas Mídias da TV Cultura. O formato dessas transmissões experimentais do Roda Viva tem passado por diversas transformações e vem ganhando mais flexibilidade, mas continuará no formato dessa última segunda-feira por mais algumas semanas antes de ganhar outras possibilidades de interação, de acordo com Isabel Colucci, do Núcleo. Vale a pena entender melhor o que tem de novidade rolando pelo ótimo post do Tiago Dória; a proposta é extremamente vanguardista e, até onde sei, não há nada parecido na tevê brasileira, que no momento está excessivamente preocupada com seu novo brinquedinho, as câmeras de alta definição. Nessa edição, do Roda Viva, a novidade foi o fotógrafo convidado, o Paulo Fehlauer.

Embora a essência do programa permaneça a mesma ― sabatina com personalidade de destaque e entrevistadores de veículos celebrados da imprensa ―, as mudanças e adendos ligados à internet se aglutinam na página do programa, essa, sim, bastante interativa: é possível acompanhar diferentes olhares sobre o que está rolando no estúdio, além da câmera principal, que se divide entre o entrevistado e os sabatinadores. Há a câmera dos bastidores, de olho no que escapa das câmeras principais, e uma outra só sobre os desenhos do Caruso e a coluna com os twits marcados pela tag #rodaviva, integrada com a página principal, que era uma reivindicação antiga dos internautas. Não funciona tudo perfeitamente 100% do tempo, mas abre possibilidades fantásticas. No pé da página, há também as fotos do fotógrafo convidado, uma das novidades recém-acrescentadas. Vai ser perfeito quando os entrevistadores derem uma espiadinha no que está rolando por ali também, especialmente quando o entrevistado for uma unanimidade, como o Wagner Moura. É muito difícil ser incisivo e objetivo com um ator que tem uma trajetória de vida tão exemplar ― nordestino com cara de bom moço que está fazendo uma bela e bem remunerada carreira artística nos pólos culturais do Brasil.

Em silêncio, estava o Caruso. As sacadas e explosões de cores iam saindo calmamente dos pincéis, enquanto os entrevistadores e Moura praticamente repetiam as mesmas perguntas e respostas que já tinham sido feitas diversas vezes, em outras ocasiões. Nas charges, depois de levar uns minutos esquentando, era uma tirada interessante atrás da outra. Não sei se por ficar em silêncio, o Caruso acaba ficando mais à vontade do que os entrevistadores para ser um pouquinho mais objetivo. Eu twittei isso durante o programa; não fosse por ele, daria a impressão de que só a Monica Bergamo estava realmente ligada no Wagner Moura, com o senso crítico em dia. Esta twitteira acabou ganhando uma charge também.

O modelo inovador do Roda Viva ainda deve ser muito reproduzido; mas, conhecendo a televisão brasileira, desconfio que ferramentas populares serão pervertidas a um gosto e a usos bem populistas conforme forem assimilados. Torço de verdade para morder a língua.

Nota do Editor
Leia também "O primeiro Roda Viva, a gente nunca esquece".

Verônica Mambrini
São Paulo, 6/10/2008

 

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