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Terça-feira, 29/9/2009
O rock não acabou
Rafael Rodrigues

Formada no Rio de Janeiro em 2003, a banda de rock Moptop estreou nacionalmente em 2006, com o álbum Moptop. Antes disso, o grupo formado por Gabriel Marques (voz e guitarra), Rodrigo Curi (guitarra), Daniel Campos (baixo) e Mario Mamede (bateria), que começou cantando em inglês, fazia sua reputação no circuito alternativo carioca. Tanto que, antes mesmo de o primeiro disco ser lançado, a banda abriu o show do Oasis em São Paulo, em março de 2006.


Da esquerda para a direita: Rodrigo, Daniel, Gabriel e Mario

Na época, o grupo foi muito comparado com o Strokes. E realmente havia algumas semelhanças ― mas também diferenças, claro. Se por um lado as guitarras eram um tanto parecidas ― embora as do Strokes sejam mais sujas e mais distorcidas ―, a voz de Gabriel é mais enérgica que a de Julian Casablancas, cujo vocal é arrastado, como se estivesse cantando entediado. Outra diferença é que o som do Moptop tem mais suingue e é mais empolgante que o dos Strokes ― como não poderia deixar de ser, claro; afinal, os caras são brasileiros. Sem contar que, até o segundo disco dos americanos, Room on fire, os instrumentos falavam mais alto, ficando os vocais um tanto abafados. O som do Moptop é mais limpo, mais claro, assim como a voz de Gabriel, que não fica escondida atrás das guitarras e do baixo.

Mas, mesmo com suas peculiaridades, o grupo era lembrado como "o Strokes brasileiro". Essa comparação certamente ajudava a definir rapidamente o estilo da banda, mas também atrapalhava, porque a sombra do Strokes estava quase sempre ali, ofuscando um pouco o trabalho do Moptop.

Sombra essa que deixou de existir quando o quarteto carioca lançou o segundo disco, Como se comportar, em 2008. É notável a evolução da banda entre um álbum e outro, apesar de o som e os temas das músicas terem se mantido praticamente os mesmos ― e de o primeiro disco ser uma das melhores estreias do rock nacional dos últimos tempos. A guitarra base continua ora limpa, ora distorcida; o dedilhar melódico da segunda guitarra também está lá, como sempre esteve; o mesmo acontece com o baixo marcante, no limiar entre o discreto e o estrondoso, e com a bateria precisa, mais técnica que pesada. Mas a coesão sonora e a relação entre as letras das 12 faixas de Como se comportar é bem maior que no disco anterior.

As letras continuam versando sobre dúvidas, medos, solidão, relacionamentos, conflitos. "Aonde quer chegar", que abre o disco com o verso "Já são quase 5 da manhã", é o tipo de música para se ouvir ao acordar: leve e inspiradora; "Contramão", que vem logo depois, é bem urbana e um tanto melancólica, seu protagonista parece ter sido atropelado pela vida ("Como é que é/ Ser encontrado/ Jogado e desmaiado/ O orgulho dilacerado/ Espalhado pelo chão"); algumas canções depois vem a balada "Bom par", uma das melhores e mais simples canções do Moptop, sobre alguém que pede desculpas a seu amor ("Deixa amanhecer/ Foi meu mal/ Foi sem querer/ Vou aprender o que é ser/ Um bom par"); mais adiante temos a irônica e divertida "Beijo de filme" ("Mesmo um tanto inibido/ Formou-se palhaço na escola de circo/ Com louvor/ Mestrado em riso, ganhou a vizinha/ Com a piada do padre"). Fechando o disco está "Bonanza", uma canção de letra emocionante e melodia perfeita, muito provavelmente a melhor música dos dois álbuns ("Olho para os lados e percebo que/ Não tenho alguém para me esquecer/ Ando mais um pouco/ Penso em quando era garoto/ E havia tantos sonhos pra sonhar").

Adeptos do lema punk "do it yourself" ― inerente a qualquer artista que se preze ―, os integrantes da banda se envolvem com a criação das capas dos discos ― Rodrigo Curi participou do projeto gráfico de ambas ― e até mesmo com o desenvolvimento do site ― que é uma atração à parte ―, feito por Rodrigo e Gabriel.

Na entrevista abaixo, realizada por e-mail, Gabriel Marques fala um pouco sobre a banda, as comparações com o Strokes e outras coisas mais.

1) Há três anos o Brasil conhecia o Moptop através do clipe de "O rock acabou". O paradoxo de dizer, fazendo rock'n'roll, que o rock acabou não tinha como dar errado, mas em algum momento vocês pensaram em utilizar outra música como primeiro single?

"O rock acabou" não era nossa música preferida no começo e a gente nem a tocava nos primeiros shows. Gostávamos de "Leve demais", "Tempos depois" e "Adeus" (que só veio ser gravada agora). Tinha umas outras na frente também, como "Oh Baby!" e "Yeah Yeah Yeah" (que nunca foram gravadas). Quando a incluímos no show, percebemos que era a nossa música mais imediata, e até hoje é o hit principal dos shows. Não só por ser a mais conhecida, mas por sua força musical mesmo.



2) Como foi o início da banda? Vocês já começaram compondo e fazendo shows com músicas próprias ou tocando covers? Como vocês se encontraram? Já eram amigos de longa data ou se conheceram por causa da banda?

Começamos tocando musicas próprias mesmo. Éramos amigos com saudade de "levar um som". A coisa foi ficando séria e acabou virando uma carreira.

3) No primeiro disco a comparação com o Strokes era inevitável. Sei que vocês adoram a banda do Julian Casablancas, mas em algum momento essa comparação chegou a incomodar?

O primeiro trabalho teve forte influência deles e de outras bandas da época. Naquele momento, estávamos mais preocupados em gravar um bom disco e qualquer ajuda era bem-vinda. Agora temos mais condições de criar arranjos e canções fora desse universo. As comparações, quando feitas de forma negativa, obviamente incomodam, mas passa rápido. Não nos levamos tão a sério a ponto de achar que somos a melhor banda do mundo e de que todos precisam gostar do nosso trabalho.

4) É notável a evolução da banda no segundo álbum. Esse crescimento aconteceu espontaneamente ou realmente foi algo que vocês buscaram desde o início da concepção de Como se comportar?

Obrigado! Após quatro anos de shows por todo o Brasil, somos uma banda mais confiante e consciente de nossas qualidades e limitações. Sabendo disso, fizemos uma pausa na turnê e nos isolamos por cerca de um mês em uma casa na região serrana do Rio, onde ensaiamos todos os dias. O resultado é o segundo disco da banda.

5) No site de vocês ― que é um primor, me permita dizer ― há uma série de músicas em inglês e um "lado b", com algumas músicas em português e outras também em inglês. São músicas da banda ou covers? Se forem de vocês, há a possibilidade de esse material vir a ser comercializado?

São composições nossas que nunca gravamos em um estúdio mesmo. São gravações caseiras de pouca qualidade. Pensamos em gravar um disco inglês e lançar na Europa em algum momento, mas ainda não conseguimos achar tempo para isso.

6) Os clipes da banda são sempre muito bem feitos, bem produzidos, bem concebidos. Mas o vídeo de "Bom par" dá a impressão de que há algo especial por trás de sua gravação. Seria "Bom par" uma canção pela qual a banda tem um carinho maior? Ou a diversão foi maior porque vocês estavam num zoológico?

Adoramos a música, mas acho que o fator zoológico contribuiu mais para a "alegria" do clipe. Acho que estamos em um momento muito bom como banda, tranquilos em relação ao presente e futuro da carreira.



7) É cedo ainda para perguntar, porque vocês lançaram o segundo disco há pouco mais de um ano, mas vocês já estão pensando no terceiro? Como o Moptop vai se comportar daqui para a frente, musicalmente falando?

Estamos pensando, mas ainda não começamos os ensaios. Tem algumas sobras de Como se comportar e alguns esboços de canções novas, mas nada pronto, mesmo. Acho que em breve vamos começar a focar nisso de verdade. Musicalmente, temos algumas direções, mas nada concreto.

Rafael Rodrigues
Feira de Santana, 29/9/2009

 

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