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Terça-feira, 29/12/2009
Quatro dias em São Paulo
Rafael Rodrigues

Quando se fala em São Paulo, geralmente se pensa em trabalho, poluição e violência. Desenvolvimento, tecnologia e oportunidades também, claro, mas, ao menos de pronto, poucos (ninguém?) aqui na cidade ligam a palavra "lazer" à capital paulista. Por isso, quando minha noiva e eu dissemos que iríamos a São Paulo "passear", as pessoas geralmente retrucavam, um tanto perplexas: "passear?".

Mas, sim, fomos passear em São Paulo, no início de dezembro. Chegamos três dias depois daquela chuva que parou a cidade, e quase desistimos de ir justamente por causa dela, com receio de irmos e ficarmos ilhados, sem poder fazer nada do que havíamos programado. Felizmente, a chuva deu uma trégua e pudemos fazer nossa viagem sem maiores preocupações.

A viagem foi curta; passamos, a rigor, apenas quatro dias em Sampa ― chegamos numa quinta-feira à tarde e fomos embora na segunda pela manhã ―, porém proveitosa. E também trabalhosa, porque tudo antes foi muito pensado. Desde os lugares que iríamos visitar e as coisas que iríamos fazer na cidade, passando pela escolha de onde ficar hospedados, até as consultas ao Google Maps para fazer todos os caminhos possíveis entre a pousada e os nossos pontos de destino. Consultamos também o meu grande amigo Marcelo Barbão, que nos deu muitas dicas sobre como andar ― principalmente relacionadas ao metrô, que é uma mão na roda ― e o que fazer em São Paulo.

Como o tempo era curto, fizemos um roteiro que, teoricamente, poderia ser feito com relativa tranquilidade, sem muita pressa. Infelizmente não pudemos completá-lo, mas andamos bastante pela cidade e voltamos com bastante história para contar.

Por exemplo, o encontro do Digestivo, que aconteceu justamente no dia em que chegamos. Até que desembarcamos em São Paulo num horário bom, por volta das 14:30. Mas aí esperamos as malas, almoçamos, paramos para descansar um pouco (saímos de Feira de Santana às 05:00 da manhã!), e só então fomos para Congonhas (desembarcamos em Guarulhos; desde aquele acidente da TAM eu tenho receio de descer em Congonhas), para de lá, finalmente, irmos para a pousada.

Sim, pousada. Não lembro quem, mas alguém estranhou quando dissemos que estávamos hospedados numa pousada em São Paulo. Ficamos numa chamada Valparaíso, a qual recomendamos veementemente. Excelente localização ― fica a cerca de dois minutos da estação de metrô Paraíso ―, com lanchonetes, bares e farmácias por perto, café da manhã muito bem fornido, funcionários prestativos, enfim, local excelente para ficar hospedado. Era para ter tirado uma foto da fachada, mas acabei esquecendo. Olhando de fora, você pode até subestimar a pousada, mas basta entrar para ver que o lugar é muito bem cuidado. (Inclusive, se você mora nas redondezas, não deixe de ir ao Rei do Pastel, acho que na rua Vergueiro. Foi lá que em duas noites compramos café ― não, infelizmente não comemos pastel, já tínhamos jantado ―, para esquentar nossas gargantas, e fomos super bem atendidos por um rapaz que é do Ceará, cujo nome agora me escapa.)

Chegando na Valparaíso, foi só o tempo de tomarmos um banho e irmos para o Bar Balcão. Já estávamos um pouco atrasados, mas pegar um táxi nos deixou ainda mais. Porque passamos mais tempo parados no trânsito de Sampa do que propriamente indo para o nosso destino. Se tivéssemos pegado um metrô e, depois, caminhado um pouco, tínhamos chegado antes ― e gastaríamos menos... Mas, enfim, já estávamos cansadíssimos também, valeu a pena irmos sentadinhos no táxi, pela Paulista, vendo a decoração de Natal de vários prédios.

Eis que, uns trinta minutos depois, chegamos ao Balcão. Se você mora em São Paulo e não conhece o BB, que vergonha! Até nós, de Feira de Santana, já conhecemos! Lá sai uma porção de pastel que é uma delícia.


O encontro

Dos que participam ou que participaram do Digestivo, compareceram ao encontro, além do Julio, óbvio, Eduardo Carvalho, Diogo Salles, Daniel Bushatsky (eu havia conhecido os três no encontro que fui em 2007), Rafael Fernandes (que volta e meia recebe e-mails do Digestivo que, na verdade, deveriam vir para mim) e, maior surpresa da noite, a Elisa Andrade Buzzo (que foi "efetivada" como colunista na mesma data que eu). De "fora" do Digestivo, amigos empreendedores do Julio, o esposo (ou noivo?) da Elisa e, claro, Cassia. O encontro desta vez não ficou "restrito" ao site porque se tratava de uma ocasião mais especial que o normal: em comemoração e homenagem aos recém-completos 9 anos do Digestivo, resolvemos presentear o Julio com... um Kindle! A "Operação Kindle" por si só renderia uma coluna, mas, para resumir, tudo começou nos Estados Unidos, com o Ram Rajagopal, passou pelo Rio de Janeiro ainda com o Ram e teve sua conclusão em São Paulo. O Julio, claro, quase fica estatelado.


O Julio abrindo o "pacote"

Durante a noite, conversamos, comemos, relembramos e contamos histórias. É engraçado como o Digestivo aproximou e aproxima tanta gente. E como nossas colunas, nossos posts e nossos e-mails fazem parte não apenas de nós, que os escrevemos, mas de todo o grupo que lê os textos e participa das discussões. E é pouco provável que todos nós nos conhecêssemos se o Julio não tivesse idealizado e levado adiante o Digestivo.

Nos dias que se seguiram, Cassia e eu demos prosseguimento à nossa programação. Fomos ao Sesc Pinheiros, ver a exposição com fotos de Henri Cartier-Bresson e, ao chegarmos lá, depois de percorrer quase toda a rua infinita Cardeal Arco Verde (de ônibus, claro, a rua parecia não acabar nunca!), ficamos embasbacados com a estrutura do lugar. É simplesmente impressionante. Só não mais que as fotos de Cartier-Bresson. As imagens que ele capturou em suas máquinas são, sem dúvida alguma, obras-primas. Até eu, que não sou muito ligado à fotografia (foi Cassia quem quis ver a exposição), fiquei emocionado com vários de seus instantâneos. Ainda pudemos ver amostras dos trabalhos de fotógrafos que tiveram influência de Cartier-Bresson, "passear" pelo Sesc e, inclusive, almoçar lá.

Não pudemos ir ao Parque do Ibirapuera, ver uma outra exposição que ela queria, O Pequeno Príncipe na Oca, nem ao MASP, nem à Casa das Rosas, nem a uma porção de outros lugares, mas eu revi ― e ela conheceu ― mein Freund Eduardo Mineo, fomos (várias vezes!) à Livraria Cultura do Conjunto Nacional, caminhamos durante um bom tempo pela avenida Paulista acompanhados do jornalista e escritor Humberto Werneck, fomos ao Museu da Língua Portuguesa e à Pinacoteca ― cujas estruturas também nos deixaram assombrados ―, Cassia conheceu uma amiga sua de muito tempo, que até então era "apenas" virtual, e, no domingo à noite, andamos pela Paulista, admirando e fotografando a decoração de Natal que antes só tínhamos visto de dentro do táxi. Além de tudo isso, Cassia ainda encontrou, totalmente por acaso, sua orientadora monográfica ― ambas saíram da Bahia para se encontrar em São Paulo. Ê, mundo pequeno!

Quatro dias para aproveitar São Paulo é quase nada, mas, apesar de breve, foi uma excelente viagem. Queremos voltar lá assim que possível, desta vez com mais tempo e mais calma, para conhecer mais desta cidade que, como nos disse um taxista, é um outro país dentro do Brasil.

Rafael Rodrigues
Feira de Santana, 29/12/2009

 

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