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Sexta-feira, 5/3/2010
Meus melhores discos de 2009
Rafael Rodrigues

Sem delongas, passemos à minha lista de melhores discos de 2009. Desnecessário dizer ― mas ainda assim direi ― que esta é uma lista pessoal e intransferível. Ou seja: são os meus melhores discos. Ou seja, não estou dizendo que, efetivamente, foram estes os melhores álbuns lançados ano passado. (A exceção do primeiro, que realmente foi o melhor.)

No line on the horizon, U2 ― Já falei bastante, aqui mesmo no Digestivo, sobre este que é, de longe, o melhor disco do ano que passou. Nenhuma outra banda, nenhum outro artista em lugar nenhum deste planeta, gravou, em 2009, um álbum melhor que No line on the horizon. Que, além de ser o melhor do ano, é certamente um dos melhores da década. E mais: é possivelmente a melhor criação do U2 desde The Joshua Tree. Mas afirmar isso agora, o que significaria desbancar Achtung Baby de sua posição confortável de melhor CD do U2 pós-TJT, seria precipitado. Será necessário a passagem de alguns bons anos para fazer uma avaliação mais ponderada. Independente disso, No line on the horizon é uma obra-prima. Se a crítica e uma parcela dos fãs da banda não perceberam isso, problema deles.

Them Crooked Vultures, Them Crooked Vultures ― O Foo Fighters, de Dave Grohl, e o Queens Of The Stone Age, de Josh Homme, são duas das melhores bandas de rock surgidas na década de noventa. Sabe-se lá como, Dave e Josh se tornaram, aparentemente, grandes amigos. Essa amizade culminou numa participação de Dave no disco Songs for the deaf, do QOTSA, no qual gravou as baterias ― tendo, inclusive, participado da turnê de divulgação do álbum. No fim de 2008, Dave anunciou que o Foo Fighters iria "dar um tempo" e que a banda retornaria às atividades quando as pessoas sentissem, de verdade, falta do Foo.

Não foi preciso esperar muito para saber o que Dave Grohl estava tramando: poucos meses depois, já em 2009, começaram a pipocar notícias de que os dois amigos estavam planejando montar uma banda paralela às suas. Dave, ex-baterista do Nirvana, coisa que todo roqueiro que se preze sabe, assumiria as baquetas; Josh seria o vocalista/guitarrista; e, no baixo..., ninguém menos que John Paul Jones, ex-Led Zepellin ― sendo que Paul McCartney foi cogitado para fechar o supertrio. O resultado só poderia ser um grande disco, tendo como destaques as sete primeiras faixas ― destas, as melhores são "No one loves me & neither do I", "Mind eraser, no chaser" (com um backvocal vibrante de Dave Grohl) e "Bandoliers".

Nas seis restantes há altos ― "Caligulove" e "Warsaw or the first breath you take after you give up" ― e baixos ― "Interlude with ludes" e "Gunman"; as duas que restam ― "Spinning in Daffodils" e "Reptiles" ― são medianas. (Se o CD tivesse 11 músicas, seria bem melhor. "Interlude with ludes" é um grande equívoco dentro do álbum.) O que mais chama a atenção no Them Crooked Vultures é a influência enorme de Josh Homme no som da banda. O projeto ficou muito com a cara do Queens Of The Stone Age. Espera-se que, no próximo disco, Dave Grohl e John Paul Jones consigam "apitar" mais e mudar um pouco a sonoridade das músicas. O tom sombrio do QOTSA, um pouco presente neste primeiro álbum, não combina com o Them Crooked Vultures.

Battle for the Sun, Placebo ― De tanto ouvir o Placebo, anos atrás, enjoei da banda. Com o tempo, percebi certas repetições e cacoetes que começaram a me incomodar. Percebi, também, que a banda havia se acomodado. Isso começou a mudar um pouco com o disco Meds (2006). Houve alguma melhoria e algum desprendimento em relação aos trabalhos anteriores, mas nada que assustasse um fã ortodoxo.

Mas eis que, em 2009, o Placebo lança o belíssimo Battle for the Sun. Que contém, é verdade, muito do "velho" Placebo, mas que traz também muitas inovações ― em relação ao som costumeiro da banda, é bom deixar claro. Porque as inovações só existem se formos comparar este último álbum com os que o precederam. A primeira música, "Kitty litter", lembra muito os discos anteriores, mas já é possível notar algumas diferenças. A voz de Brian Molko está mais firme, segura, sem alguns vícios vocais que ele tinha; as guitarras estão mais limpas, com menos efeitos de sintetizadores e pedais; e a bateria, que tem um novo dono neste disco (Steve Forrest é o nome dele), agora é executada com mais técnica e, por isso mesmo, é mais agradável e deixa sua marca nas músicas. E assim segue todo o álbum, exceto pelas leves recaídas em "Battle for the Sun" ― que mesmo assim é uma bela música ― e "Breath underwater" ― que, se tivesse ficado de fora, não faria falta, mas não chega a atrapalhar o andamento do disco.

As melhores canções do CD são "Bright Lights" (que tem um verso lindo: "A heart that hurts is a heart that works"; em tradução mais ou menos literal, "Um coração que sente dor é um coração que funciona"), "Ashtray heart", "Julien" e "Kings of medicine" (cujos metais e piano são maravilhosos). Battle for the Sun é o melhor disco do Placebo até aqui, e pode ser o divisor de águas da banda.

Scream, Chris Cornell ― Eis um disco que deu o que falar. Chris Cornell, ex-Soundgarden, ex-Temple of Dogs e ex-Audioslave, todas bandas de rock ― as duas primeiras ligadas ao movimento grunge ―, inventou de fazer um disco de pop, produzido por Timbaland, que já trabalhou com Justin Timberlake, por exemplo. A capa do CD, com Chris prestes a detonar uma guitarra, é emblemática. Representa exatamente o que ele fez com quase todas as músicas do álbum. Confesso que, quando tentei ouvir pela primeira vez, não consegui. Me perguntei o que diabos Chris estava pensando ao querer gravar algo assim, sendo que antes ele havia gravado o excelente Carry On (2007), seu segundo disco solo, no qual interpretou magnificamente "Billy Jean", de Michael Jackson, deixando a música melhor do que já era.

Meses depois, ouvi novamente Scream, e... adorei. Imagino que só a menção dele nesta lista vá causar alguma celeuma, mas eu realmente gostei de Scream. As letras de algumas músicas, como "Part of me", não são nada extraordinárias; tampouco o ritmo tem grandes inovações, se formos comparar com outros discos pop, mas, apesar desses fatores, o que importa é que, talvez por uma estranha química, a voz de Cornell se adaptou muito bem às batidas eletrônicas. As letras das músicas não são bobas, descartáveis ― talvez a de "Part of me" seja, se bem que ela é bem divertida ― e o ritmo delas é contagiante. Além disso, há o fato de Scream levar o conceito de álbum ao extremo, emendando uma música na outra, utilizando o fim de uma para começar a próxima, o que é extremamente louvável.

Apesar disso tudo, Chris Cornell aparentemente não suportou a quantidade de críticas que recebeu, e poucos meses depois de lançar o álbum resolveu fazer versões rock de algumas músicas. Correu o boato, inclusive, de que todo o disco seria regravado. Até o momento, não há notícia ainda que confirme toda a regravação do Scream, até porque, no fim de 2009, Cornell anunciou que o bom e velho Soundgarden está voltando. É provável que Scream seja considerado, para sempre, uma mancha na carreira de um roqueiro como Cornell. Mas a verdade é que é um grande disco, ousado e ambicioso como poucos. As melhores músicas do CD são "Part of me", "Time", "Never far away", "Long gone", "Climbing up the walls" ― a mais roqueira do disco ― e a canção escondida "Two drink minimum", um blues incrível que começa segundos depois de terminada "Watch out".

Nota do Autor
Este ano, excepcionalmente, não haverá um texto dedicado aos filmes de 2009. Infelizmente, no ano passado não pude dar a devida atenção ao cinema. Mas espero que em 2011 possa fazer novamente a trinca livros, discos e filmes.

Rafael Rodrigues
Feira de Santana, 5/3/2010

 

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