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Quarta-feira, 31/3/2010
Filmes on-line
Rafael Fernandes

O tão comentado Avatar renovou a eterna discussão sobre o futuro do cinema. Como a sétima arte vai se desenvolver a partir das evoluções técnológicas? Elas proporcionarão revoluções estéticas ou apenas servem para competir com as cada vez mais variadas opções de entretenimento? Neste momento, porém, meu interesse é outro: como a indústria vai se adaptar à internet? E, principalmente, à sua provável junção com aparelhos de TV de alta definição? Isso porque, apesar de saber que a experiência numa sala de cinema é inigualável, gosto da possibilidade de assistir filmes no conforto de minha casa. Com a popularização de home theaters e das TVs HD, o cinema em casa dá um salto de qualidade. E não estou sozinho. Um efeito social, que não é novo, chamado de cocooning é a tendência das pessoas ficarem em casa para o lazer. Seja por comodidade, violência urbana, questões como trânsito e afins, muita gente prefere o conforto do lar para certas atividades. Essa questão se vê também nas construções atuais de prédios e casas, em coisas como academias e os tais "espaços gourmets" (ou seja, churrasqueirinha na varanda). Deixando questões sociológicas de lado, como a indústria de filmes sob demanda vai se organizar?

Os pontos principais, para o consumidor, são a comodidade e variedade na oferta de filmes. A qualidade de imagem e de som nas TVs e internet já está no mínimo satisfatória. O que falta agora é o acesso a uma quantidade diversa de títulos, de maneira organizada e através de compra facilitada. A pirataria é um problema quando falamos do ambiente on-line. Mas baixar um filme na internet não é tão fácil assim. É preciso achar um site que tenha o filme; o site ainda deve ter um link ou torrent válido, o download às vezes demora ou para no meio, é preciso baixar também a legenda e há chances de se baixar vírus ou arquivos corrompidos. É uma grande oportunidade para sites oficiais pagos. Num ambiente seguro, com boas opções e de compra simples os consumidores podem optar pela legalidade. Infelizmente, principalmente no Brasil, não existem lojas de compra de filmes on-line. Além disso, a questão da velocidade da conexão atrapalha: nossa banda larga não é tão larga assim. Outro problema é achar o formato de venda: compra por download? streaming? pacote mensal ou anual? Nesse caso, as TVs por assinatura estão na frente: já têm clientes conquistados, uma oferta interessante de canais de filme e opções pay-per-view cada vez maiores e simples de comprar.

Porém, a variedade ainda é limitada. O ideal seria uma espécie de TV infinita, na qual o mais recente ganhador do Oscar seja tão fácil de achar quanto um Bergman, um Blade Runner ou um filme do Oscarito. Chris Anderson, lá no seu Cauda Longa, já afirmou que com a tecnologia e a internet, não é mais necessário que hajam estoques limitados de DVDs físicos. Os custos de armazenagem e controle tendem a zero e a Web permite que as ofertas de filmes, músicas etc. se amplie ao infinito. Seria o "fim" de lojas como a Blockbuster, direcionada aos hits: como é muito caro manter um estoque, as lojas devem escolher os filmes que saem mais para que sejam economicamente viáveis. Com a internet, isso não faz diferença. Vender um milhão de cópias ― downloads, no caso ― de um único item "mainstream" é tão importante quanto vender uma única cópia de um milhão de itens de nicho. Que pode ser um documentário de formigas, um filme cult de 1930 ou uma série que só teve uma temporada.

Nesse caso, entre as possíveis vantagens da internet ― que as TVs deveriam incorporar ― é a possibilidade de segmentação, uso de tags e recomendações. Se você quer conhecer filmes novos, poderia procurar, por exemplo, por meio de categorias como "filme->terror->trash->zumbis". Ou pelas tags "John Hughes", "Teen", "80's" ou "comédia". Ou, ainda, através de recomendações de outros espectadores ou mesmo de um sistema. Nesse último caso, como os da Amazon ou do Last.fm, em que as correlações entre os últimos filmes assistidos geraria sugestões específicas ― e, em muitos casos, certeiras. Nada disso é ilusão. Como o Julio já publicou num Digestivo: "Na Netflix, a maior locadora de vídeos da internet, dois terços dos pedidos vêm de indicações dos próprios internautas".

Obviamente eu penso como um consumidor, não como um empresário. Existem problemas que dificultam iniciativas mais arrojadas. O licenciamento e controle de direitos autorais é algo delicado. Séries como Anos Incríveis e Ed não são lançadas em DVD por que ficam travadas em coisas como licenciamento de músicas. O custo disso os torna inviáveis comercialmente. Em outros casos, os direitos se encontram na mão de herdeiros que muitas vezes travam novos lançamentos. E como tem acontecido com a música e, mais recentemente, com os e-books, muitas empresas e artistas estão resistentes a modelos duvidosos, que geram pouca receita comparada ao número de vendas ou execuções. Em alguns casos, os acordos são agressivos e maléficos para os produtores de conteúdo. Para muitos, não é interessante comercialmente, no momento, disponibilizar produtos que tiveram custos significativos a preços módicos, como uma assinatura mensal. Claro que isso já acontece nas TVs a cabo, mas a coisa muda de figura quando a escala aumenta exponencialmente. Por enquanto, ainda é melhor para a indústria vender milhões de cópias de centenas de títulos com uma boa margem de lucro a disponibilizar todo seu catálogo dividindo ganhos com tantas outras. Até quando vão aguentar? Não sei. Por enquanto, nós consumidores saímos perdendo.

Rafael Fernandes
Araçoiaba da Serra, 31/3/2010

 

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