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Quarta-feira, 22/12/2010
2010 e os meus álbuns musicais
Rafael Fernandes

Brad Mehldau ― Highway Rider
Uma obra prima. Um disco lindo, candidato a clássico e certamente um dos melhores dessa década que acabou de entrar. Highway Rider tem uma coleção de belas canções, elegantes, grandiosas, mas sem excessos. Um disco ao mesmo tempo ambicioso e terno. Uma obra muito bem pensada, muito bem montada. Impecável nas composições, construção dos arranjos, execuções e produção. E que faz jus ao conceito de álbum, em que músicas se conectam de alguma maneira e, embora funcionem isoladas, tem mais impacto juntas.

Minhas músicas preferidas: "John boy", "Don't be sad", "Now you must climb alone", "Walking the peak", "We'll cross the river together", "Capriccio", "Always departing", "Always returning".


Ouça um trecho de "Don't be sad"

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Chico Pinheiro ― There's a storm inside/Flor de Fogo
Existem alguns estilos que não nos entregam tudo numa primeira ouvida. Um exemplo é esse belo disco de Chico Pinheiro. Diferente do pop, cujas músicas são feitas para uma empatia completa imediata, Chico faz uma música que chama nossa atenção de cara, mas é preciso algo mais para ser absorvida inteiramente. Infelizmente, alguns dizem que é música "difícil". Longe disso. Como já até escrevi em outras oportunidades, nesse momento nosso de pressa, um pouco de paciência é vista como erro. Mas quem se aventurar não vai se arrepender. O músico mostra uma grande maturidade nas composições e ao violão. E se firma como um dos grandes nomes de nossa música ― se é que ainda restavam dúvidas.

Minhas músicas preferidas: "Filme", "Boca de siri", "Flor de fogo", "Ao sul do teu olhar", "There's a storm inside".


Ouça um trecho de "Ao sul do teu olhar"

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Marcelo Jeneci ― Feito Pra Acabar
Começo esse álbum pelo fim: a faixa título. Sublime. Já nasceu clássica. Lindas melodias, belo arranjo e ótima letra. É pop e tem densidade. Mas passa longe da pseudo intelectualidade. É uma música que deve ser ouvida. Faz valer um disco e ao mesmo tempo mostra como um álbum bem pensado, independente do formato, ainda faz sentido. Feito pra acabar tem outros bons momentos de um pop descompromissado e bem feito. A estréia de Marcelo Jeneci é muito boa e promissora.

Minhas músicas preferidas: "Feito pra acabar", "Felicidade", "Copo D'Água", "Longe", "Tempestade", "Pra Sonhar" e "Quarto de dormir".


Ouça um trecho de "Feito pra acabar"

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Jeff Beck ― Emotion & Commotion
Jeff Beck não é um guitarrista altamente técnico e veloz. Prefere tocar pela expressão do instrumento; foca nas melodias e nas dinâmicas aplicadas a elas. É um mestre nisso. Depois de bons discos mais agressivos e com camadas eletrônicas, aparece explorando os sentimentos em Emotion & Commotion. Não à toa são várias baladas e algumas canções cantadas, com participações de Joss Stone, Imelda May e Olivia Safe. A abertura é sublime com "Corpus Christi Carol". Os detalhes e sutilezas da guitarra de Beck são impressionantes.

Minhas músicas preferidas: "Corpus Christi Carol", "Lilac wine", "Hammerhead", "Never alone", "I put a spell on you".


Ouça um trecho de "Corpus Christi Carol"

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Deftones ― Diamond Eyes
O Deftones está longe de ser uma banda inovadora ou brilhante. Mas é muito competente no seu metal alternativo. O grupo volta mais pesado em Diamond Eyes se comparado ao anterior, Saturday Night Wrist. Nem por isso deixa de lado as boas e grudentas melodias nem as texturas sonoras. Para quem gosta é um disco certeiro, direto, bom do começo ao fim. Segue forte sem perder o fôlego da abertura, a faixa-título, pesada e pop, ao fim, a dramática "This Place Is Death".

Minhas preferidas: "Diamond eyes", "You've Seen The Butcher", "This Place Is Death", "Royal", "CMND/CTRL", "Sextape", "Beauty school".


Ouça um trecho de "You've Seen The Butcher"

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Pain Of Salvation ― Road Salt One
Road Salt One tem uma sonoridade crua, com lembranças do anos 70 (vide a capa), mas com uma pegada mais forte ― reminiscências do metal. É um disco muito bom. Suas músicas podem não ter mil e uma passagens instrumentais ― como um dia foi a banda, mas são bem elaboradas. Um exemplo é a abertura, "No way": lembra o Pain Of Salvation clássico, com passagens variadas, mas mais direto ao ponto, sem tantas idas e vindas.

Minhas músicas preferidas: "No way", "Linoleum", "Tell me you don't know", "Curiosity", "Sisters".


Ouça um trecho de "Linoleum"

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Oceansize ― Self Preserved While the Bodies Float Up
O Oceansize é uma das minhas bandas favoritas surgidas na virada dos anos 90 para os 2000. É rock, tem uma pegada pesada, mas sem esquecer das boas melodias. Flerta fortemente com o rock progressivo, mas sem parecer tanto com as bandas do gênero. O grupo é do Reino Unido e influências de diversas bandas de brit-rock dos anos 90 também são sentidas. Esse mais recente lançamento não é o seu melhor, mas mantém a qualidade e tem ótimos momentos.

Minhas músicas preferidas: "Part Cardiac", "SuperImposer", "Oscar Acceptance Speech", "A Penny's Weight", "Build Us a Rocket Then..." e "It's My Tail and I'll Chase It If I Want To".


Ouça um trecho de "A Penny's Weight"

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Corinne Bailey Rae ― The Sea
Admiro artistas como Corinne Bailey Rae que com acordes e melodias surrados do pop ainda têm algo a dizer. The Sea é mais sombrio do que seu álbum de estréia, reflexo do falecimento do seu marido.Talvez por ter saído de um período difícil para a artista é um disco todo muito bonito. As três músicas de abertura já despontam como bons momentos ― e também mostram sua dramaticidade. Em tempos de justin biebers, é bom ouvir um pop adulto bem feito.

Minhas músicas preferidas: "Are you here", "The Blackest Lily", "Closer", "Paris Nights/ New York Mornings", "I'd Do It All Again", "Feels Like The First Time".


Ouça um trecho de "I'd Do It All Again"

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Black Country Communion ― Black Country Communion
Mais uma "super banda", que conta com a lenda Glen Hughes no baixo e vocais, o ótimo Joe Bonamassa (guitarra e vocais), Jason Bonham (sim, filho do John) na bateria e Derek Sherinian (ex-Dream Theater, Planet X, solo) nos teclados. Confesso que a combinação não me animou muito, mas o resultado é surpreendente. Um ótimo disco de rock clássico que não cheira a naftalina.

Minhas músicas preferidas: "One last soul", "The great divide", "Down again", "Song of yesterday", "Stand (At The Burning Tree)", "Too late for the sun"


Ouça um trecho de "The great divide"

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Patton ― Mondo Cane
Inacreditável é uma palavra que ajuda a definir esse novo lançamento de Mike Patton. Um cara consagrado pelo rock que flertava com metal, funk e alternativo com o Faith No More. Cultuado por projetos malucos como o Mr Bungle ou mais roqueiros como Tomahawk. E idolatrado por alguns poucos pelo "esporro metal" do Fantomas. Depois de tudo isso, ele lança um álbum de canções clássicas italianas! Podemos, então, dizer que as versões de "Easy", "I started a joke", "This guy's in love with you", "Reunited", entre outras, mais que gozações, demonstravam a apreciação de Patton pela canção pop? Mondo Cane parece afirmar que sim. É um bom disco. Às vezes bem brega, mas com boas canções.

Minhas músicas preferidas: "Che Notte!", "Ore D'Amore", "Deep down", "Urlo negro", "Ti Offro Da Bere", "Senza Fine".


Ouça um trecho de "Ore D'Amore"

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Slash ― Slash
Slash tem alguns ótimos momentos, mas a impressão é de um disco mais do mesmo. Ok, mas sem brilho. E com momentos do músico emulando coisas que não sabe fazer como "Nothing to say", que tenta soar um metalzão e "Beautiful dangerous", uma das piores coisas que ele já fez. A impressão é que Slash está perdido. Tenta variar o estilo, o que é saudável, mas acaba pecando ao atirar para todos os lados.

Minhas músicas preferidas: "Ghost", "Crucify the dead", "Watch this" e "By the sword".


Ouça um trecho de "Watch this"

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Luísa Maita ― Lero-Lero
Uma das vozes mais interessantes surgidas recentemente. Luísa leva um ar mais cosmopolita e paulistano a ritmos brasileiros. Mas, diferente do que se possa esperar dos tais "ritmos brasileiros", Luísa Maita faz uma música mais dura, mais sisuda e com climas que são bem a cara de um grande centro urbano. Ao optar por sair do óbvio, do desgastado, consegue um resultado bastante interessante: um som particular, que traz ecos do que já foi feito na música brasileira, mas com novidades. Outra boa promessa.

Minhas músicas preferidas: "Lero-lero", "Alento", "Aí vem ele", "Desencabulada", "Mire e veja", "Um vento bom", "Alívio", "Amor e paz".


Ouça um trecho de "Alento"


Rafael Fernandes
Araçoiaba da Serra, 22/12/2010

 

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