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Segunda-feira, 16/5/2011
Realeza
Daniel Bushatsky

É impressionante como alguns assuntos despertam a atenção da população e da mídia e depois caem no esquecimento. Outros, mesmo que importantes e que despertem reflexões sobre a cultura de determinado país, não são noticiados como deveriam.

Dois bilhões de pessoas assistiram o casamento da família real mais importante do mundo. Uma plebéia casando com um príncipe. O povo se igualando à nobreza.

O que mais me despertou a atenção neste casamento não foi a beleza de Kate, ou melhor, Duquesa de Cambridge Catherine, ou seu vestido de renda, e sim a organização do evento e a educação do povo. Mas que povo nobre, não?

Nada saiu errado. Eu, certamente, teria esquecido algum dos rituais ou teria chegado atrasado à igreja, se tivesse sido convidado. Já os convidados e o povo, não! Estavam em seus lugares, na hora e momento certos, para o cotejo da Família Real. A pontualidade suíça, digo, britânica!

O casamento real foi uma prova do que o Brasil não conseguiria. A logística, perfeita! Sem falar na limpeza da cidade, deslumbrante! Tudo de tirar o chapéu!

Pelo lado da educação, nem se fala. As pessoas não atrapalharam o trânsito, não invadiram a igreja, não fizeram manifestações, ou seja, respeitaram a festa e sua simbologia, em um mundo sem reis! Ou melhor: em um mundo que rei é jogador de futebol, traficante ou multimilionário com assessora de imprensa.

Nem os holligans e os anarquistas de plantão quiseram jogar um tomate no príncipe e na plebéia.

Mas a educação não parou nestes fatos. Alguém reparou que ninguém quis chamar mais atenção do que a noiva? Não houve discursos políticos (nenhum chefe de Estado foi convidado, salvo o Primeiro Ministro Inglês), nem mulheres de branco! Notável, não?

Certamente aquela expressão "só para inglês ver", originada da lei promulgada em 1831, pelo Governo Regencial, na época em que Dom Pedro II ainda era menor de idade ― que prescrevia que os africanos que chegassem aos portos brasileiros seriam livres e não escravos, seguindo a nova política inglesa, e que hoje significa tanto leis que só existem no papel, como também qualquer outra coisa feita apenas para preservar as aparências, sem que efetivamente ocorra ―, não cabe para definir esta festa de organização e educação!

O outro evento que somente alguns viram, pelo menos no Brasil, foi o jantar anual entre o presidente americano e os jornalistas. Primeiramente, o jantar mostra que mesmo o homem mais poderoso do mundo pode jantar e conversar com quem divulga a democracia. Poderíamos adotar isto no Brasil, feitas as adaptações necessárias.

Mas não é isto que me interessa no momento. No jantar, Obama fez algo impensável para os padrões brasileiros de "educação" e "política": tirou sarro da provocação feita por Donald Trump, de que sua certidão de nascimento não era americana. Para tanto, disse aos convidados que iria mostrar o vídeo de seu nascimento. Os telões desceram, as câmeras de reportagem focaram no telão e no bilionário de topete, que possui poderosa assessoria de imprensa e que foi convidado ao jantar e passou o famoso trecho de nascimento de Simba, do filme O Rei Leão, da Disney. Para completar a resposta, o presidente americano colocou uma foto de como seria a Casa Branca caso Trump vencesse as eleições: dourada, com cifrões e mulheres, tudo muito cafona!

Trump corou! Obama, simpaticamente e educadamente, respondeu, implicitamente, que fazer política não é lançar falsos boatos e, sim, propostas sérias! É, temos muito que aprender!

Os dois reis do mundo, Rei Obama e Rainha Elizabeth, mostram que para um país ser de primeiro mundo, expressão ultrapassada, é verdade, precisa-se de muito mais do que PACs e Bolsa-família, o importante é organização e educação.

É necessário que seja possível criticar e ser criticado, sem que cada fato vire ofensa pessoal. É saber fazer humor mesmo com acusações insolentes, no caso de Obama. Isto é um povo mais desenvolvido, capaz de entender o humor, algo que precisa de inteligência e desenvolvimento cultural. Aqui já teria virado ação judicial!

Já no caso de William, é saber de sua importância, não obstante 46% da população, segundo pesquisa do jornal Guardian, dizer que não tem interesse no evento. O príncipe não perdeu a pose e junto com sua esposa foi sempre simpático, solícito e pronto para um aceno e um sorriso, mesmo com o sistema monarca questionado e o simbolismo exagerado, mas necessário para o show do casamento.

O mais importante dos eventos acima é que os soberanos souberam o seu lugar no mundo, sua importância e deram o exemplo para bilhões de pessoas! Não é isto que se espera dos reis?

Isto que é educação real!

Espero que ninguém se esqueça: viva a realeza!

Daniel Bushatsky
São Paulo, 16/5/2011

 

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