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Segunda-feira, 3/10/2011
Faxina na Arca de Noé
Daniel Bushatsky

Duas entrevistas marcaram setembro. Elas comentam o tema do momento desde a descoberta do Brasil: a corrupção.

Na primeira, um entrevistado, com punho firme, crítica severamente o partido político que se esperava ter um quadro político menos corrupto, após anos na oposição e considerando seu pseudo-idealismo socialista.

Na outra, um homem, de confiança de Lula e da atual presidenta, confessa que para governar o Brasil é necessário o troca-troca, sem o qual nada é aprovado, ou melhor, quase nada importante é aprovado, haja vista as mais de quatro milhões de leis criadas nas últimas duas décadas.

Roberto Damatta respondendo a questão sobre a parcela de culpa do PT nos altos níveis de corrupção no Brasil, asseverou: "Para pôr de pé seu projeto, aderiu às piores práticas do velho clientelismo: troca de favores, cargos e dinheiro. Desse modo, conseguiu formar a Arca de Noé que é a coalizão na qual se apóia hoje e que lhe confere tanta força. Também deixou vago o espaço de uma oposição rigorosa, intolerante e dura, que deveria agora estar fiscalizando a farra do Estado".

Lendo a entrevista, que pincela questões como o enriquecimento desproporcional do patrimônio de alguns políticos e a falta de gosto pela meritocracia do brasileiro, saímos, para dizer o mínimo, desanimados.

O mais "animador" é a fala realista do Ministro Gilberto Carvalho, em entrevista com o sugestivo título de "Os ouvidos do Planalto", publicada na revista Piauí de setembro, onde comenta que: "é preciso ética com projeto político. Ética pura e simples, moralista, não é marca desejada de um governo. Essa história de atingir um partido da base aliada no fim atinge ela (presidenta). Quem escolheu os ministros? Ela tem consciência disso. Não está optando por esse caminho. O tempo todo o nosso esforço é ter uma pauta de trabalho. Essa historia de combate a corrupção tem de ser marginal, o eixo é outro".

Se é verdade que observamos a limpeza no Ministério dos Transportes, também é verdade que vivemos em um país cujo maior mérito está em ser amigo do rei.

A fala de Carvalho mostra que o governo não conseguirá combater a corrupção sozinho. Se o fizer não emplaca um único projeto. Mas o pior não é isto. É a inversão da história bíblica da Arca de Noé. Nela o personagem principal Noé colhe e salva representantes da fauna e flora, pois Deus está descontente com o que criou.

Me questiono se Deus estará contente com a nova versão do barcão. Agora se salva quem não tem moral, deixando a imensa maioria a ver "navios".

Me parece que a única forma de solucionar este conflito está nas raízes. Se Dilma e companhia não podem fazer nada e, ainda, neutralizam os outro partidos políticos com promessa de se salvarem da inundação, só resta esperar que ela pense em uma nova geração, que não precise estar presa a velha máquina burocrática governamental.

Uma primeira idéia, que Damatta certamente concordaria, seria basear nossas novas políticas estudantis da meritocracia. É capaz que em alguns anos todas as escolas estejam fechadas ou rodeadas por pais gritando infortúnio aos professores.

Uma segunda idéia, seria um mecanismo de criar metas (claras) e resultados para os três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), mas isto somente seria possível através de Lei e duvido que esta seria uma Lei que estaria entre as mais de 4 milhões de leis criadas.

Estamos perdidos? Não, podemos torcer para que na moderna história da Arca de Noé, Deus tenha atraído as espécies que não se adaptaram (ou se adaptaram muito bem) para que uma onda gigante a afunde.

Esta é uma das possíveis interpretações....espero que vire realidade! Se não virar, vou ter que construir meu próprio barcão!

Daniel Bushatsky
São Paulo, 3/10/2011

 

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