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Quarta-feira, 5/10/2011
Walking Dead - O caminho dos mortos na cultura pop
Noah Mera

Os zumbis são um caso interessante de mitologia formada a partir da cultura de massa através da apropriação de um obscuro mito caribenho. Algo semelhante ao que se ensaiou com os vampiros adolescentes de Crepúsculo ao apropriar-se de um mito e reinventá-lo (a maior aceitação dos zumbis talvez se deva ao fato dos vampiros serem criaturas mais cristalizadas no inconsciente coletivo). No mito original o zumbi é alguém enfeitiçado por um feiticeiro (bokor) que morre e retorna como um escravo sem vontade ou pensamentos. Já no filme de George Romero A noite dos mortos-vivos de 1968 o tom dos mortos vivos assume uma faceta do terror cientifico em voga naqueles tempos, os zumbis seriam mortos reanimados pela radiação de um satélite que teria retornado do planeta Vênus. O filme acompanha um grupo de pessoas que se abrigam em uma casa rural durante a crise e é repleto de critica social com destaque para o destino do protagonista, negro, líder e único sobrevivente do grupo original que morre de maneira estúpida remetendo a Martin Luther King e Malcom X.

Nos filmes seguintes o cineasta mantém o tom critico mas apontando em diferentes aspectos do capitalismo e da sociedade. Com os filmes de Romero os Zumbis ganharam outras características marcantes que talvez expliquem sua popularidade e apelo. Os zumbis de Romero são criaturas trôpegas, com nada mais que o instinto básico da fome e a tendência em formar grandes agrupamentos, de onde vem sua força em conseguir a carne dos vivos, subjugando as vitimas em número. Como é de se esperar tudo isso formam filmes tensos e claustrofóbicos de onde emerge o terror em meio a critica social.

Desde o primeiro filme estas características do zumbi popular se mantém quase inalteradas. Com a evolução do conhecimento e desmistificação da radioatividade os zumbis tornaram-se fruto de infecções virais e recentemente a modalidade dos zumbis rápidos foi acrescentada a filmografia do gênero (estes filmes costumam apostar mais na ação em detrimento da critica social - que sempre parece estar presente de uma maneira ou de outra). O número de produtos derivados da zumbimania também aumentou gerando uma grande gama de livros como Guerra Mundial Z, Orgulho e Preconceito e Zumbis (que acabou gerando a curta tendência dos Mashups Literários).

A popularidade do tema é tanta que o CDC (Centers for Disease Control and Prevention - Centros para controle e Prevenção Doenças), uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos do governo dos Estados Unidos que trabalha na promoção da saúde através da informação, prevenção de doenças e outras ferramentas lançou recentemente uma campanha chamada Preparedness 101: Zombie Apocalypse. A idéia é - "Se você está preparado para um apocalipse Zumbi, você está preparado para tudo." - uma maneira bem humorada de divulgar ações para o caso de uma catástrofe natural.

Mas até agora os mortos-vivos pareciam o veiculo perfeito para histórias curtas de tom social ou ação desenfreada e parecia não haver interesse ou possibilidade de sustentação de histórias maiores, contínuas. Até aparecer a série em quadrinhos de Robert Kirkman Os Mortos-Vivos.

A série é centrada no policial Rick Grimes, que acorda depois de um coma e se vê em meio ao Apocalipse Zumbi. Uma de suas primeiras atitudes é buscar seu uniforme de policial, uma forma encontrada pela personagem de mostrar ser um mantenedor da ordem e inspirar outros sobreviventes a manutenção da mesma em meio ao caos - e aqui a série já começa a distanciar-se ideologicamente dos filmes de Romero. Rick posteriormente encontra sua família e com ela e outros sobreviventes se estabelece em terreno seguro e próximo dos restos da civilização, da onde os sobreviventes extraem provisões (mas aqui caçam também, diferente do comportamento padrão de outros filmes onde os frutos de uma sociedade que produz muito mais do que consegue consumir parecem ter o poder de alimentar os humanos restantes indefinidademente). É da tensão entre o grupo de sobreviventes, seus dramas familiares e recordações que a série se apóia, alternando com momentos de brutalidade se faz necessária para assegurar a sobrevivência da comunidade.

O quadrinho é tão interessante que serviu de base para uma bem sucedida série de TV, capitaneada pelo competente Frank Darabont, que consegue recriar os personagens e situações de maneira interessante (com um pouco menos de violência, claro). A primeira temporada tem seis episódios de uma hora e acrescenta como objetivo das personagens chegar ao CDC em busca de uma cura ou abrigo do governo, esperança que se frustra no final da temporada em um episódio fraco, anti-climático - talvez o pior de toda a série, mas que bem sucedido em criar expectativa para a próxima temporada (que será de 13 episódios), em como os personagens irão lidar com sua última esperança frustrada.

Noah Mera
Curitiba, 5/10/2011

 

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