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Quinta-feira, 24/11/2011
Lendas e conspirações do 11 de setembro
Carla Ceres

Os ataques terroristas aos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, por sua imprevista magnitude, estarreceram o mundo. Uma onda de pânico e indignação atingiu vários países através das imagens da CNN. Pegos de surpresa, os americanos não sabiam o que esperar. Acreditaram na possibilidade de um grande bombardeio que devastasse suas cidades ou até em uma agressão nuclear. O resto do mundo lembrou-se de que radiação não respeita fronteiras.

Felizmente, a Terceira Guerra Mundial ficou para depois, mas o trauma nacional foi tão intenso que ainda hoje encontramos sinais dele nas lendas urbanas relativas aos ataques. Algumas surgiram logo depois do evento, como a que afirmava que, no dia 11 de setembro, não se encontravam táxis nos pontos próximos ao World Trade Center. Outras nasceram depois, motivadas por novos ataques, pela guerra ao terror e pela caçada a Osama bin Laden.

A suposta ausência de motoristas de táxi perto das torres gêmeas seria um indício de que pessoas originárias de países islâmicos (como grande parte dos taxistas nova-iorquinos) teriam recebido algum tipo de aviso para afastar-se.

Pode parecer estranho, mas o mundo das lendas urbanas e teorias conspiratórias também entra em guerra. O contra-ataque não demorou. Uma lenda urbana antissemita culpou os judeus pelos atentados e afirmou que nenhum deles morreu nas torres.

Lendas urbanas são uma espécie de folclore contemporâneo e têm grande importância na compreensão da alma de um povo ou grupo social. Com o advento da internet, essas lendas encontraram um meio de propagação rápida. Ao contrário do que se imagina, essas histórias não nascem da falta de informações, mas da descrença nas informações disponíveis.

Em uma situação de guerra, um povo habituado a filmes de espionagem tende naturalmente a desconfiar da versão oficial dos fatos. "Precisamos nos engajar e nos educar como cidadãos, mas nosso governo nos trata como bebês e acha que não somos capazes de lidar com a situação e que entraremos em pânico", diz um e-mail, que circulou em 2007, espalhando a lenda de que o especialista em contraterrorismo Juval Aviv teria previsto os ataques ao Reino Unido e aos Estados Unidos.

Pensar que o governo não quis dar ouvidos a quem poderia evitar os atentados é mais reconfortante do que admitir que certos desastres não podem ser previstos. Nos anos que se seguiram ao 11 de setembro, várias outras datas ligadas ao número 11 surgiram como potencialmente perigosas. Ataque com hora marcada preocupa, mas assusta menos.

O número 11 roubou a aura agourenta do 13 no imaginário americano. Circularam lendas com coincidências cabalísticas terminando em 11. Por exemplo: o voo número 11, que bateu na Torre Norte, teria 92 passageiros (9 + 2 = 11); o que atingiu a Torre Sul teria 65 (6 + 5 = 11).

Uma coincidência unindo números, imagens e tecnologia foi a do voo Q33 NY. Quem recebia o e-mail era orientado a digitar Q33 NY no Word, selecionar esse texto, passar o tamanho da fonte para 48 e alterar a fonte para Wingdings. Se tiver curiosidade, pode fazer a experiência sem susto. Não é um procedimento para atrair vírus terroristas, como alguns pensaram.

Ainda no campo das imagens, encontramos as fotos reais de um rosto demoníaco que se formou na fumaça das torres. Faz parte da programação básica dos seres humanos enxergar rostos onde há apenas manchas. Nosso cérebro se recusa a apenas ver e receber informações. Ele interpreta, procura padrões e estabelece ligações onde, às vezes, só existem coincidências.

Enquanto algumas lendas surgem de curiosidades ou brincadeiras - como a história de que uma nota de vinte dólares, dobrada de certo modo, revela imagens dos ataques ao World Trade Center e ao Pentágono - outras parecem ter motivações comerciais escusas. Um e-mail de 2001 dizia que o líder terrorista Osama bin Laden era dono do Citibank e sugeria que ninguém mais usasse os cartões de crédito do banco para não financiar novos atentados. Em 2005 outro e-mail alertava que uma em cada cinco garrafas de Coca-Cola havia sido contaminada com antraz e arsênico, pela Al-Qaeda.

Os concorrentes do Citibank e da Coca-Cola por certo lucraram com essas lendas e tiveram menos trabalho do que o jornalista e cientista político francês Thierry Meyssan, autor de 11 de setembro de 2001 - Uma terrível farsa. Traduzido para 28 idiomas, o livro contesta a versão oficial sobre os ataques. Segundo Meyssan, a colisão de um Boeing não foi a causa dos danos ao Pentágono.

Quer mais lendas e rumores? Dê um pulinho no Snopes.com, mas lembre-se: lendas urbanas forjam evidências. O famoso voo Q33 NY, por exemplo, não teve nada a ver com os atentados.

Nota do Editor
Carla Ceres mantém o blog Algo além dos Livros. http://carlaceres.blogspot.com/

Carla Ceres
Piracicaba, 24/11/2011

 

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