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Segunda-feira, 23/1/2012 2011: a queda do império? Gian Danton Pode não parecer, mas no futuro, 2011 provavelmente será lembrado como histórico: o ano em que o império americano sofreu o seu primeiro (e talvez fundamental) abalo. No mesmo período em que o custo da guerra do Iraque chegou a inacreditáveis 2 trilhões de dólares, o Tio Sam falou, pela primeira vez, em calote da dívida. Neste mesmo ano os EUA começaram a perder, para a China, o domínio da pesquisa científica. Se financeira e cientificamente os EUA estão perdendo terreno, em termos de indústria cultural, o país continua mantendo grande influência e poder. Exemplo disso é o sucesso de suas produções cinematográficas. A parte inicial, com quase nenhum efeito além do emagrecimento do protagonista Chris Evans, é uma das mais agradáveis da película. Outra surpresa agradável foi X-men - first class, do diretor Matthew Vaughn (Kick Ass). Antes de estrear, todos apostavam que essa adaptação seria a bomba do ano. Os primeiros cartazes eram estranhos e o orçamento parecia baixo demais para um filme de super-heróis (80 milhões - uma ninharia comparado com Thor, por exemplo). Vale lembrar que os X-men também foram criados por judeus: Jack Kirby e Stan Lee e também refletem uma certa mitologia judaica: o fato de serem perseguidos e de tentarem se parecer com pessoas normais lembra a saga de perseguição aos judeus na Europa e como muitos deles (inclusive seus criadores) mudaram até mesmo de nome para tornar menos evidente sua ascendência. Os dois filmes nos lembram como os EUA se tornaram uma potência cultural: quando milhares de artistas, fugindo do nazismo, foram para o país. A riqueza artística do país está ligada à sua capacidade de assimilar os melhores autores de outros locais e enquanto isso continuar acontecendo, dificilmente Tio Sam perderá seu poder cultural. Outro grande sucesso vindo da Indústria cultural norte-americana é a saga Crônicas de gelo e fogo, que estourou após ser transformada em série de TV com o nome do primeiro volume, Guerra dos tronos. Escritos por George R.R. Martin, os livros representam um amadurecimento do gênero fantasia com histórias que se aproximam do realismo, personagens complexos, reviravoltas e uma única certeza: nenhum dos personagens é imortal. A trama gira em torno de um cineasta diagnosticado com câncer que escreve um filme que jamais dirigirá sobre um grupo de pessoas que espera o fim do mundo no ano de 999. Não é, nem de longe, uma narrativa convencional em nenhum sentido, nem do ponto vista textual, nem de imagens. Gaiman mescla a história do cineasta com a do fim do mundo ("O mundo está sempre acabando para alguém", diz o cineasta, resumindo em poucas palavras o conteúdo do álbum) e até mistura os personagens, fazendo com que o cineasta interaja com os protagonistas de seu filme. McKean brinca com o título Sinal e ruído e mistura cenas quase realistas com trechos que são verdadeiro ruído (aliás, esse é sem dúvida um dos melhores trabalhos de McKean). O álbum foi publicado originalmente em 1989 e era um dos trabalhos mais comentados da dupla Neil Gaiman e Dave McKean, mas só chegou ao país mais de 20 anos depois. Pela demora, perdeu muito do impacto, mas ainda é uma leitura obrigatória. Outro lançamento interessante foi a coleção Pateta faz história. Com um roteiro que não se preocupava em seguir rigidamente os fatos históricos, de um humor surreal, esse material argentino valia o dinheiro investido. Na história sobre Pasteur, por exemplo, o cientista descobre que a bactéria que faz azedar o leite morre após um incêndio em sua casa. Para analisar o fenômeno, ele começa a colocar fogo em outras casas de Paris, sempre pelo bem da ciência... Uma curiosidade é que o tema da série parece ser menos os fatos históricos e mais os conflitos de gerações. Os pais geralmente são mostrados como figuras autoritárias, que não aceitam a profissão dos filhos. Esse aspecto fica bastante óbvio nas histórias sobre Colombo, Newton, Da Vinci e Strauss. Talvez isso seja um reflexo da péssima relação de Disney com o pai, já documentada por vários historiadores. Nos filmes da Disney, essa relação conflituosa aparece na total ausência dos pais dos protagonistas. Gian Danton |
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