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Segunda-feira, 30/7/2012
Realidade
Daniel Bushatsky

Ouvi de um autor, que infelizmente não lembro o nome, em uma FLIP, que ele não lia nada escrito por menores de 30 anos. A régua, segundo ele, se baseava na tese de que ninguém com menos do que aquela idade poderia ter tido experiência (humana) para transmitir algo válido.

Aquilo me cutucou. Não só já era colaborador do Digestivo , como também tinha e tenho no hábito de escrever um prazer. Será que tudo o que eu escrevia não tinha validade? Era inútil do ponto de vista concreto ou emocional?

Não sei! Mas se você leitor concorda com este autor pode parar aqui esta leitura e descubra, por favor, no google de quem estou falando (não irei perder o tempo precioso da minha juventude descobrindo isto). E não, não vou contar a minha idade!

Independentemente da minha falta de vivência, meu último mês foi cheio de momentos de ansiedade, desapontamento, felicidades e dificuldades, que poderia resumir como uma expressão: depressão de realidade.

É difícil perceber como não controlamos as pessoas e os acontecimentos à nossa volta, que, por outro lado, geram às vezes grandes descobertas.

Comecei a pensar no tema, lendo sobre como Abrahão pensou e "concebeu" a religião judaica. Segundo o Rabino Benjamin Blech, em seu livro "O mais completo guia sobre Judaísmo", Abrahão estava caminhando no deserto quando viu um grande castelo vazio e pensou que ele nunca poderia ter se construído sozinho, somente poderia estar lá, tão magnífica construção, por obra de engenheiros e arquitetos habilidosos. E, assim, em um momento de epifania, pensou que o mundo, tão belo e tão bem construído, também deveria ter seu grande arquiteto e engenheiro: Deus.

Já adianto para os leitores mais ansiosos, que não tive nenhuma descoberta desta. Pelo contrário, durante o ultimo mês senti minha fragilidade perante os acontecimentos mundanos: fui assaltado; trabalhei muito e não sei se fui correspondido financeiramente e moralmente pelo trabalho (agora entendo os trabalhos de motivação, do pessoal do departamento de Recursos Humanos); comecei a perder a voz e iniciei a fonoaudióloga; enfim nada grave, mas tudo me trouxe para a constatação mais surpreendente: não sou um Deus.

Algo grave? Não! Mas parei para pensar como mesmo as conquistas não são suficientes para apagar ou compensar os "socos" diários que recebemos dos mais diversos sujeitos que nos rodeiam.

A verdade é que se faz parte do crescimento sentir que a vida não é fácil, faz parte dela, ao mesmo tempo, deslumbrar-se com os acontecimentos que nos fazem acreditar na arquitetura do mundo. É isto que a torna interessante: perceber que são somente as dificuldades do dia-a-dia, que "te puxam para a Terra", são o que deixam espaço para estes momentos de felicidade.

Se tenho uma cura para a depressão de realidade? Graças a Deus não!

Boa sorte nas suas epifanias!

Daniel Bushatsky
São Paulo, 30/7/2012

 

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