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Quarta-feira, 13/6/2012
Quem tem medo da Rio+20?
Marilia Mota Silva

Dizem que o aquecimento global é uma falácia. A ação humana não tem nada a ver com o clima. Se a terra esquenta ou esfria, isso se deve ao sol, aos vulcões e aos oceanos.

Estudiosos do clima como o Professor de Climatologia da USP, Ricardo Felicio tem frequentado a midia para esclarecer o público sobre as verdadeiras intenções dos cientistas e a irrelevância da ação humana no que se refere ao clima global.

Ficamos sabendo que não existe camada de ozônio, nem o efeito estufa.
A Amazônia nunca foi pulmão do mundo. E se fosse desmatada não faria diferença no clima, não mudaria a ocorrência de chuvas, umidade ou temperatura. Isso porque a floresta existe por causa das chuvas e não o contrário. Se se arrasar com tudo, em vinte anos, temos outra floresta, novinha em folhas, raízes e tudo.

Será? O solo é, provadamente, pobre e sujeito à erosão - quem pode avaliar as consequências de um desmatamento intensivo?

Mas digamos que seja, que a vegetação renasça e as árvores se tornem portentosas em vinte, cinquenta anos. O que dizer dos antigos habitantes, dos bichos, da biodiversidade toda? O professor fala em tese, não está propondo nada, mas o agro-negócio, as mineradoras, os contrabandistas de madeiras nobres, as empreiteiras, todos devem aprovar, calorosamente, seu ponto-de-vista e a disposição com que vai à midia defender suas ideias.

O professor diz que os cientistas que falam de aquecimento global são uns vendidos, "chapa-branca" a serviço de governos e empresas. Pode ser. Mas os que os combatem se expõem ao mesmo tipo de julgamento.

É uma questão política, diz o professor. Sem dúvida. Se houvesse evidências científicas, não haveria discussão. E parece que não há essas evidências, de nenhum dos lados. Apesar dos satélites, radares, computadores poderosos, os climatologistas ainda desconhecem, por exemplo, a causa de um fenômeno drástico como El Niño. O tsunami no Japão e terremotos em áreas "fora de risco" como Washington, no ano passado, pegaram todos de surpresa, o que mostra que os conhecimentos nessa área ainda são bastante limitados.

Mas digamos que os climatologistas estejam certos. Ótimo! Isso nos libera da responsabilidade quanto ao clima do planeta. Mas é só isso; os efeitos da poluição continuam os mesmos.Ela afeta o ar que respiramos, os rios, a água que bebemos, afeta nossa saúde, a vida de todo ser vivo. E seus dejetos continuarão poluindo e matando muito depois de nós termos morrido. Então uma coisa não deveria estar ligada à outra: aquecimento da terra é uma coisa; poluição é outra.

Tudo não passa de farsa do capitalismo, diz o professor. Querem bloquear o desenvolvimento dos países emergentes, Índia, Brasil e China especialmente, que cresce 10%, 12% ao ano e inaugura uma termelétrica, movida a carvão e petróleo, a cada semana.

Pode ser. Nesse caso, é curioso que a direita dos Estados Unidos também combata os verdes com grande determinação. Romney, o candidato do Partido Republicano à Presidência obedece com fervor aos lobies do petróleo e carvão, que lhe financiam a campanha, alegando que defende empregos. Carvão = emprego é seu mote de campanha nos estados onde as minas de carvão mineral são a base da economia. Emprego para os pneumologistas, diz Thomas Friedman, em sua coluna no NYTimes.

A Rio+20 é coisa dos países desenvolvidos para manter as colônias na coleira, diz o professor.

De novo, a extrema-direita dos Estados Unidos pensa a mesma coisa. Eles combatem a Rio+20 como uma ameaça à soberania de seu país.aqui A intenção por trás da Agenda 21 seria substituir o sistema constitucional americano por um planejamento global. A Organização das Nações Unidas, com o imenso fluxo de dinheiro que deve receber das taxas sobre poluição, pretenderia interferir em seus assuntos internos: controlar o uso de energia no País, forçar as pessoas a viver em comunidades com pouco espaço, reduzir o uso de automóveis, permitindo apenas carros elétricos que não andam muito depressa nem vão longe, e assim, forçar as pessoas a usar bicicletas ou transportes públicos ou caminhar. Querem fazer a nação voltar à era pré-Colombo, com os animais correndo livremente e os humanos restritos em espaços limitados, dizem.
Soa estranho quando a direita dos EUA e intelectuais do Brasil estão do mesmo lado.

Dois pontos básicos nessa discussão seriam: Primeiro: Não vamos ficar atados ao atraso por causa de uma hipótese de aquecimento global.

Certo. Não mesmo. Todos temos o direito de buscar os avanços da civilização, os confortos e estilo de vida que quisermos. Ampliar o menu de fontes de energia, sem desprezar nenhuma, e descentralizá-las seria um ideia. Considerando que grande parte da energia que consumimos já é renovável, isso não seria ambição demasiada.

Segundo: Que estilo de vida, que tipo de desenvolvimento queremos?

O uso consciente dos recursos naturais implica um consumo mais consciente. Pode não ser bom para as grandes corporações e sua voracidade, mas é bom para todos e tudo o mais, incluindo nosso sentimento de harmonia com o mundo.

A inestimável vantagem de vir depois é ter a oportunidade de aprender com os erros de quem veio na frente. Podemos corrigir o percurso, achar nossos caminhos. Quando o mundo sofreu a crise do petróleo, na década de 70, o Brasil, sem alarde, criou o Proálcool e carros compatíveis, com uma eficiência como não se viu em outras partes do mundo. Temos esse tipo de capacidade, a que damos pouco valor; temos os bens mais preciosos atualmente: água doce e biodiversidade extraordinária; temos grande extensão de terra fértil e clima bom para a agricultura (e a EMBRAPA, criada pelos militares, com seu inestimável trabalho para otimizar esses recursos). E um imenso mercado interno a incluir e atender.

Tudo a favor, mas a paixão, o comprometimento ideológico podem obscurecer a visão e nos fazer perder, mais uma vez, o bonde da história. Não para alcançar os outros, mas para alcançar o nível e o tipo de civilização, de país que podemos ser.

Marilia Mota Silva
Itajubá, MG, 13/6/2012

 

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