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Segunda-feira, 17/9/2012
Competição
Daniel Bushatsky

Competição Logo no início do livro "Viver", de Yu Hua, há a seguinte passagem protagonizada entre o velho Xu e um rapaz curioso, que está desbravando os campos chineses atrás de histórias e cantigas do interior: após o rapaz observar o velho desbravar ordens para um búfalo, comparando-o com outros, aquele comenta: "- Afinal, quantos nomes têm esse búfalo? - O nome deste búfalo é Fugui e ele só tem um nome; - Mas há pouco você o chamou por vários nomes; (...) - Receio que ele perceba que está arando a terra sozinho. Por isso, minto para ele, chamando por outros nomes. Ele, ao ouvir, acha que tem mais búfalos arando a terra. Fica feliz e ara com mais ânimo!"

Será que você também precisa de outros búfalos para trabalhar mais feliz e com mais afinco? Em outras palavras, somente nos esforçamos mais por causa da competição?

Sociologicamente, não posso afirmar. Certamente devem ter estudos comparando a produtividade do colaborador (é feio falar funcionário nos dias atuais) que trabalha em casa (home office) dos que trabalham nas empresas. Sem nenhuma base cientifica, posso somente afirmar que todos os meus amigos que tem a oportunidade de trabalhar, ao menos uma vez por semana, em casa, adoram, mas deve ser a sensação de liberdade e não a produtividade, que importa neste caso.

Já quando estamos falando da competição entre empresas, é patente que o monopólio não faz muito bem para elas. Ou melhor, para elas até que faz muito bem, mas para o consumidor não. Quanto mais as empresas competem, em tese, menores serão os preços e melhores serão os produtos.

Sem entrar no mérito da decisão americana que mutou a Samsung em mais de 1 bilhão de dólares por copiar os produtos da Aplle, não se pode mentir que da competição entre estas empresas (e outras de tecnologia) quem sai ganhando é o consumido: mais opções, tecnológicas e baratas. Para quem tiver dúvida veja a foto do primeiro I-pod.

Trabalhar para que a competição exista é uma das funções do CADE (Conselho Administrativo de Defesa da Econômica), quando pune condutas anti-competitivas (ex. cartel) e controla atos de concentração (ex. fusão de empresas).

O problema é que o CADE trabalha pensando no macro e ainda é muito pouco difundido na população brasileira a importância da competição no micro, entre as pessoas.

Poucos sabem a tristeza que deveriam ter quando vão ao supermercado e observam que determinado produto não tem concorrência. É só pensarem no mercado automobilístico: só foi a Jac Motors entrar no mercado para o preço dos carros nacionais diminuir e novos lançamentos acontecerem.

Assim é que pergunto: quantos mais "velhos Xus" e "búfalos solitários" serão necessários para despertar a importância da competição na população? Somente com a competição é que o país crescerá e para ela acontecer precisa haver uma exigência interna de cada um exigindo isto!

Acho que a resposta para a pergunta acima depende de quantos nomes vamos conseguir criar para cada um de nossos búfalos.

Daniel Bushatsky
São Paulo, 17/9/2012

 

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