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Segunda-feira, 1/10/2012
Jejum
Daniel Bushatsky

Nesses dias que acompanhamos toda sorte de "mensalões", servimos ao ter, nos preocupamos com o nosso status e perseguimos a "androgenia", não temos tempo para refletir e nos perguntar o que estamos fazendo?

Nesses dias que nossos pais e avós envelhecem cada vez mais (graças a Deus), que não temos "espaço" para nós e nem para eles (somente para nossos IPads), não temos tempo para refletir e nos perguntar o que estamos fazendo?

Nesses dias que temos cada vez mais compromissos, agendas lotadas, happy hours, almoços, jantares, lançamentos, não temos tempo para refletir e nos perguntar o que estamos fazendo?

Dificilmente conseguimos não nos encaixar nos parágrafos acima. Eles são reflexos do nosso estilo de vida, materialista e individualista.

Para alcançarmos TUDO, acabamos por prometer, o que não podemos cumprir, e a acordar, com o que sonharíamos fazer.

Também é da natureza humana, falar o que não se devia, desejar o que não se queria, sentir ciúmes e não alegria, enfim, fazemos e pensamos nem sempre baseados na razão e sim no sentimentos....

Na noite que antecede o Yom Kipur, uma das grandes festas judaicas, a comunidade reza o Col Nidrê. A reza, nascida como costume, proclama que todas as promessas e juramentos que faremos no ano que começa estão "anuladas". Assim, começa-se o ano reconhecendo-se que mesmo as melhores intenções podem não dar certo.

Sim, o Col Nidrê parte da premissa que quando se acorda, se quer cumprir, mas nem sempre é possível.

Era no dia seguinte ao Col Nidre, na época do grande Templo de Israel, que o sumo sacerdote confessava, antes de pronunciar o nome de Deus à comunidade, selando o futuro ano, todos os seus pecados, de sua família e de todos os outros sacerdotes.

Sim, um líder político-religioso, confessava que tinha errado.

Nesta época de eleição, nesta época de promessas, nesta época de muitos sorrisos, seria interessantíssimo ver um candidato, confessar seus erros na frente da comunidade, depois confessar os erros de sua família e terminar confessando os erros de seus aliados, já se desculpando, de antemão, das promessas que não serão cumpridas.

É lindo ver que há religiões, não só a judaica, que focam menos no pedir e mais na essência do ser humano. É este, inclusive, o significado do jejum do dia de Yom Kipur, que não é, como a maioria pensa, um sacrifício em prol de Deus e sim uma forma de o homem se concentrar em seu espírito e não nas necessidades ordinárias de seu corpo.

Certamente não são só nossos políticos que precisam de um dia de reconciliação com a alma, pedindo desculpas pelas promessas e juramentos que fizeram de boa-fé!

Um pouco de jejum, cairia bem para todo mundo!

Daniel Bushatsky
São Paulo, 1/10/2012

 

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