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Terça-feira, 6/8/2013
Quando a neve chega ao Sul
Celso A. Uequed Pitol

O escritor americano Thomas Wolfe (1900-1938), considerado o melhor de sua geração por William Faulkner e sulista como ele, deixou-nos as seguintes palavras sobre a percepção de seus conterrâneos acerca da neve:

A neve no Sul é maravilhosa. Ela aqui tem uma espécie de magia e mistério que não tem em lugar algum. E a razão para tal é que ela vem até o povo do Sul não como um cruel e inflexível inquilino,mas como um estranho e selvagem visitante vindo do secreto Norte.

Thomas Wolfe, um nativo da Carolina do Norte, referia-se às nevadas que, inverno sim, inverno não, atingem as planícies subtropicais do Sul dos EUA, cobrindo as palmeiras e as magnólias com uma fina camada branca por algumas horas - às vezes, alguns minutos - até que o Sol, legítimo dono daquela região, volte a tomar conta do cenário. É um fenômeno belo, quase artístico - um pequeno regalo da criação para os habitantes daquelas paragens.

No Sul dos EUA, a neve é, na maior parte dos lugares, um fenômeno esporádico. É-o também na Região Metropolitana de Porto Alegre, onde residimos. Nas serras do Sul do Brasil, não. É um visitante anual e conhecido de todos, mas que, na maior parte das vezes, é pouco mais do que um regalo da Criação e não chega a causar os transtornos típicos dos lugares onde ela é mais do que um visitante inesperado - ou seja, o inflexível inquilino de que fala Wolfe. Isso na maior parte das vezes, é claro. A neve que caiu no na Serra Gaúcha, no Planalto Paranaense e em quase todo o Estado de Santa Catarina nestes últimos dias o não foi assim: teve magia apenas para quem assistiu o fenômeno pela TV ou nas fotos. Foi mais ou menos o que aconteceu em Urubici, em 2010, quando nevou mais de 30 centímetros em apenas um dia: é mais do que neva em Nova York em todo o mês de janeiro - é mais do que do que neva na cidade de Vancouver, no Canadá, em todo um ano. É neve demais para ser mágica.

Felizmente, os moradores de Florianópolis, um dos poucos municípios de Santa Catarina que não foram visitados pela onda de neve neste ano, puderam apreciar, ao abrigo do pior, o espetáculo da natureza e conferir ao título de sua cidade natal - Ilha da Magia - um significado diverso do usual.

Celso A. Uequed Pitol
Canoas, 6/8/2013

 

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