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Segunda-feira, 12/8/2013
Geração X-Tudo
Adriane Pasa

Depois que estudiosos enquadraram as pessoas em "gerações", tudo ficou mais fácil de entender. E também de etiquetar, carimbar, separar os indivíduos. Afinal, tudo no mundo tem que estar dentro de uma categoria, não é mesmo? É super útil. Minha vida mudou depois de saber que sou da "geração X"; segundo a Wikipédia, o termo foi inventado pelo fotógrafo da Magnum, Robert Capa, em 1950. Depois disso houveram outras conclusões e estudos, mas pra simplificar, é a geração nascida aproximadamente entre os anos 1960 até o final dos anos 1970. Quem nasceu de 1980 em diante, é a tal geração Y, tão falada, tão polêmica, rotulada de mimadinha, imediatista e antenada que ficou até chata. Injustiça. Nem todos são assim. O que dá certa inveja é a "leveza" e desapego com que tratam certos assuntos. É a geração do "tô nem aí" e "amanhã arrumo coisa melhor". Parece tudo tão simples pra eles, como um misto-quente.

Li nas internete que o termo "X" se deve a um estudo realizado para classificar a geração de adolescentes da época. Não se sabe ao certo se o "X" se refere à expressão em inglês "X Rated" - que tem a ver com atos e produtos pornográficos - ou se a referência é ao "X" como uma incógnita. Acho que tem mais a ver com pornografia (rs).

Dizem também que esta geração é formada por pessoas que são mais sensíveis que a anterior, mais maduras, que romperam com muitas coisas, souberam conviver melhor com o sexo oposto, lutaram por seus direitos, desprenderam-se de laços familiares sufocantes e buscaram a liberdade também na arte, na música e na poesia. E deram com os burros n'água muitas vezes e isso se repete até hoje. O ser humano é tudo igual em muitas coisas e isso não depende de época.

Alguns dizem que somos mal resolvidos. Acho que agora entendo o tal do "X" de enigmático, que é uma palavra linda pra disfarçar outra: paranóico. Eu acho que somos meio "noiados" mesmo, cheios de preocupações e culpas que não nos levam a nada. Não nos damos bem com a geração anterior e conflitamos com a nova. Adoramos dizer que batalhamos para chegar onde chegamos e o quanto "sofremos". Adoramos falar que a geração Y foi criada ~tomando Toddynho na cama~ (eu vivo dizendo isso). Adoramos gente da nossa idade, vejam só. Somos passionais, maternais, muito apegados a coisas e pessoas. Somos "obedientes" e respeitamos relações hierárquicas, mas por dentro estamos querendo mandar tudo pra p.q.p. Dizem que isso pode dar câncer. Somos experts em obsessões, manias e carências. Queremos muita coisa dentro do sanduíche, mas temos que ser "responsáveis".

Como não nascemos "conectados", vivemos a transição passando pelo deslumbramento e pelo medo das novas tecnologias. E adoramos falar que vimos tudo acontecer. Um "piscar de olhos" e tcharam! Tudo estava em rede. E a gente ali, vivendo tudo intensamente, a loucura da evolução da internet e da morte de várias coisas. Morte da fita k-7, das conversas no telefone fixo, morte do vinil, morte da arte, morte da bezerra.

Mas a fase cor-de-rosa existiu. Dentro da geração X há os que viveram os anos 80 e 90 na sua adolescência e juventude. Estas décadas foram um presente, de certa forma. Tudo era meio exagerado e meio inocente, a música era ótima (The Cure, The Smiths, New Order, Madonna, Michael Jackson, Cyndi Lauper, só pra citar alguns) e a gente não tinha essa coisa de enquadrar as pessoas em minorias. As meninas eram loucas por George Michael, por exemplo, e nem desconfiavam que ele era gay! Não se falava nisso. Não como hoje.

Os relacionamentos amorosos eram um show à parte. Existia o "pedir em namoro", o "pedir um beijo". A gente sofria mesmo, era uma coisa de louco. As festinhas de garagem eram regadas à refrigerante e salgadinhos Elma Chips e tinha dança da vassoura. Os mais velhos bebiam escondido. Os pais (da geração baby boomers) eram mais rigorosos e a criatividade tinha que ser usada até para escapar de casa no meio da noite. Foi aí que a gente aprendeu a técnica de chegar em casa de costas. Afinal, a gente tinha que dar nossos pulinhos pra sobreviver. Muita emoção.

Não havia TV a cabo, nem internet. Então, a gente assistia a muitos filmes na Sessão da Tarde ou no Supercine, Corujão, essas coisas. E os filmes, mesmo sendo em sua maioria norte-americanos, refletiam muito os jovens dos anos 80. Pelo menos em sua essência. Segue uma pequena seleção de "clássicos" da época da calça bag e de Like a Virgin. Muitos deles são de John Hughes, o diretor americano que marcou uma geração com filmes de temáticas jovens.

Essa seleção é especialmente para aqueles que hoje não se contentam com um simples cheeseburguer do McDonald's, querem mesmo é comer um X-Tudo bem gordurento, exagerado, pra se esbaldar e depois ficar morrendo de culpa. Senão não tem graça.

Porky's, 1982, de Bob Clark. (o American Pie da época).

Karate Kid, 1984, de John G. Avildsen. (dispensa apresentações)

Gatinhas e Gatões, 1984, de John Hughes (garota gosta de garoto que não gosta dela e tem outro garotinho chato e inconveniente que é apaixonado por ela. o mundo mudou pouco)

Admiradora Secreta, 1985, de David Greenwalt. (loira burra popular X morena inteligente e amiga do menino que é apaixonado pela loira).

Mulher nota 1000, 1985, de John Hughes. (nerds em busca da mulher perfeita. Kelly LeBrock, linda. Acho que até hoje tem homem que pensa nela...)

Clube dos Cinco, 1985, de John Hughes. (clássico dos clássicos da época, jovens "rebeldes" recebem castigo na escola)

Procura-se Susan Desesperadamente, 1985, de Susan Seidelman. (é, tem a Madonna, bem na época em que Like a Virgin estava quase estourando)

Curtindo a Vida Adoidado, 1986, de John Hughes. (Ahh, todos queriam ser como Ferris Bueller).

A Garota de Rosa Shocking, 1986, de John Hugues. (Foi o primeiro blockbuster deste diretor. Menina apaixonada por um menino rico e que tinha um amigo apaixonado por ela. Elenco sensacional e trilha sonora idem, confira aqui.)

Conta Comigo, 1986, de Rob Reiner. (drama, elenco pré-adolescente)

Labirinto - A Magia do Tempo, 1986, de Jim Henson. (fantasioso e romântico, com David Bowie)

Fiquem agora com Thieves Like Us, de New Order. Porque a gente tem bom gosto musical desde aquela época, aponta estudo ;)



Nota do Editor:

Texto gentilmente cedido pela autora. Originalmente publicado no blog Cinema sem Blá Blá Blá.

Adriane Pasa
Rio de Janeiro, 12/8/2013

 

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