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Terça-feira, 29/1/2002
Reflexões praianas
Bruno Garschagen

Estimulado pela conduta do populacho que costuma freqüentar as praias de nosso Brasil varonil, me prostei debaixo de uma barraca na areia da praia, devidamente untado com bloqueador solar desenvolvido pela Nasa, e me pus a tecer algumas considerações que gostaria de dividir com os leitores desta ilha do pensamento que é o Digestivo. Ei-las:

Previsão do tempo
O inverno continua sendo a melhor época para se ir à Marataízes, balneário ao sul do Espírito Santo. No máximo, serás incomodado por um vendedor de picolé. Pela manhã e no finalzinho da tarde.

Choldra
Por menos elitista que o sujeito seja, é impossível não pensar em restringir o acesso às praias ao ver toneladas de palitos de picolé, cocos vazios, rótulos diversos e, o que é pior, um solitário pé de Havaianas.

Praias, no verão, não passam de minifavelas itinerantes.

Ser imbecil, por vezes, deve ser uma dádiva dos Deuses, principalmente no verão: livra o sujeito de sérios aborrecimentos, do tipo justificar ceticismo, niilimos e outros ismos que fazem da vida muito mais do que uma soneca depois do almoço.

Abdominais
Quão ingrata essa senhora Estética. Mesmo desconhecida e desprovida de qualquer sentimento religioso obriga uma massa de fiéis às mais intrigantes penitências em troca do Reino Encantando dos Corpos Sarados. Para não variar, há nesse reino uma entidade infernal para satirizar a turma: ou quem vocês acham que inventou biquínis e sungas para serem vestidos indiscriminadamente, até pelo menos afortunados esteticamente;

Ebriodominais
O alto consumo de cerveja na praia segue uma razão lógica e, por isso, óbvia de doer: só levemente embriagada a turma conseguiria se aglomerar durante um dia sem se engalfinhar;

Há três grandes bebidas: uísque, água e uísque com água solidificada em pedaços. É só esperar o sol baixar.

O lance mesmo é ser escrevente da Polícia Federal. Jornalista com vencimentos de 600 contos? É melhor ser carimbador por 3 mil pratas. Pode até não fazer bem pra cabeça, mas dá para lamentar tomando 12 anos legítimo.

Gastronomia
Engolir um insulto é como comer ouriços. Sem ferver.

Depois da mulheres de biquini, dos quiosques e dos guarda-sol, não inventaram coisa melhor que picolé na praia. Uma pena o Chica-bon mais próximo de Marataízes (ES) ficar no Rio ou em Salvador;

Verão crente (ou coisa que o valha)
A crença no improvável (luxo a que se dá os que têm fé) é tão improvável quanto a impropabilidade da crença.

Religião sempre foi o grande cabresto do mundo. Nunca a julguei necessária, mas, devo admitir, que a turma sem rédeas iria tornar insuportável o pasto em que vivemos. Imagine como seriam nossos verões.

Bruno Garschagen
Cachoeiro de Itapemirim, 29/1/2002

 

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