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Segunda-feira, 16/12/2013
Senhorita K
Carina Destempero

A culpa é o que usamos para não assumir nossa responsabilidade.

Isso pode parecer confuso, tendo em vista que muitas vezes usamos essas palavras como sinônimos, mas fato é que elas são quase opostas. A culpa, principalmente aquela que sentimos em relação ao outro, ou aquela que depositamos no outro como motivo de algo que julgamos errado na nossa vida, serve para nos distrair, para nos ocupar. Dizemos que é horrível sentirmo-nos culpados em relação a algo ou alguém, mas muito pior que isso é parar e olhar para o que podemos fazer em relação a isso, e, mais ainda, de fato fazê-lo. Senhorita K, a protagonista do livro de poemas de Marcos Bassini - que é intitulado com o nome da personagem -, sabe bem disso. Uma menina que se sentia culpada em relação à mãe, uma jovem que se sentia culpada frente a uma decisão difícil, uma mulher que culpava o marido pelo seu infortúnio. Lendo, se colocando do lado de fora, é muito fácil dizer, Que absurdo, a felicidade depende de cada um, não podemos colocar a culpa de nossa tristeza nos outros, mas quantas vezes não fazemos isso? Não deixamos de fazer coisas dizendo que é pelo outro - pela mãe, pelo namorado, pelo filho, pelo Bem Maior - e depois nos pegamos reclamando? Aí é que entra a virada de Senhorita K - e, com sorte, a de cada um de nós. Ao perceber que mesmo quando deixo de fazer algo pelo outro, quem deixou de fazer fui eu. Pode parecer algo pesado se você levar, mais uma vez, pro lado da culpa, Como fui idiota, não devia ter pensado em ninguém, etc. Mas se você pensa, Bom, foi uma decisão minha, talvez não tenha sido a melhor, mas fui eu quem a tomei, e posso fazer diferente da próxima vez, isso abre toda uma nova perspectiva, como Senhorita K começa a entender no poema abaixo:

Quando o outro lhe fala Rua, Senhorita K tem que se encontrar com o fato de que o outro talvez não queira mais carregar a culpa que ela lhe impõe. E agora? Seria fácil cair pro outro lado e passar a colocar a culpa, mais uma vez, em si mesma, ou então continuar tentando culpar algum outro. Mas não é isso que acontece. Como vemos no próximo poema, a partir da recusa do outro algo em Senhorita K sofre um abalo, e a questão da culpa perde espaço frente a motivações e escolhas, ou seja, responsabilidade.

Escolhi esses dois exemplos porque são não só poemas lindos, como escritos que nos fazem pensar em muita coisa. Mas a verdade é que o livro inteiro é assim. Um livro de poesia, com uma protagonista, uma história, pontos de virada, meio roteiro, meio romance, e tudo isso com uma pitada de história e política. É um livro que nos faz sentir, sonhar, e, acima de tudo, pensar. Se eu fosse você, corria pra ler logo, pra não precisar se chicotear depois com a culpa de Por que não li isso antes?

Carina Destempero
Rio de Janeiro, 16/12/2013

 

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