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Quarta-feira, 16/7/2014
O caso Luis Suárez
Humberto Pereira da Silva

Um dos acontecimentos mais insólitos desta Copa foi a mordida do atacante uruguaio Luis Suárez no defensor italiano Giorgio Chiellini. Julgado pelo gesto incomum em Copa do Mundo, ele pegou nove jogos de suspensão pela celeste. A mordida tirou o uruguaio da competição e, além dos nove jogos pela seleção, ele está impedido de jogar futebol por quatro meses.

Os uruguaios não se conformaram com a punição. Com ela, fizeram as mais diferentes insinuações. Tudo, como a mordida, no clima de provocações e catimbas que fazem parte do folclore do futebol. Aqui no Brasil também se discutiu o exagero na punição. Para muitos, tirar Suárez da Copa do Mundo foi uma decisão de bastidor que privou o público de ver uma de suas estrelas.

Fosse uruguaio, não perdoaria o jogador. A celeste tinha nele, e em sua recuperação de cirurgia recente, a grande esperança para fazer uma grande Copa do Mundo. Quarto colocado na Copa passada, o Uruguai não se renovou, veio para o Brasil com uma equipe envelhecida. Mas Suárez, aos 27 anos, artilheiro da liga inglesa na temporada passada, tinha tudo para honrar as cores do país.

Acontece que ele, com histórico pouco animador de polêmicas e suspensões por indisciplina, fez valer o que sabido por quem conhece sua carreira: não suportar pressão e jogar no limite da expulsão. Perdoa-lo é esquecer seu histórico, fazer de conta que ele apenas caiu em tentação e desconsiderar as consequências de seu ato.

Ele fez o que já havia feito e, provavelmente, não deixará de fazer o que fez: defender com unhas e dentes a equipe que defende. Não há, portanto, o que o perdoar. A não ser que se entenda que ele cedeu a pulsões bestiais, que não consiga dominar seus instintos e que seja do ponto de vista moral um fraco, que assim merece antes de censura a compaixão.

Não sustento que Suárez seja um fraco e que mereça compaixão. Pelo contrário, para mim um jogador provocador e catimbeiro. Sendo assim, nas minhas contas ele jogou com o risco de deixar sua seleção em apuros e, em consequência, ser desclassificada do mundial. Esse um ponto que não foi devidamente lembrado por muitos aqui no Brasil que se manifestaram contrariados com a punição imposta pela FIFA.

Ora, não é o caso, sem um riso de desfaçatez, de os leigos se expressarem sobre jurisprudência: não vá o sapateiro além do sapato, diz o dito grego sobre o sapateiro que corrigiu um pintor. Nove jogos é uma punição pesada? Mas só foi preciso um jogo para o Uruguai ser eliminado da Copa, o jogo que ele cumpriria necessariamente em razão da mordida. Ou não houve mordida?

Passada a Copa, é quase certo que muitos que se manifestaram contrários à punição se, subitamente, forem lembrados do nome Luis Suárez pensem tratar-se de um pintor espanhol contemporâneo de Diego Velásquez... Tenho grandes suspeitas de que a grande maioria que se expressou contrária à punição sequer sabe onde ele joga...

Quer dizer, no fervor do momento, defender que a punição foi exagerada. Mas ao mesmo tempo perder de vista que qualquer que fosse a punição isso implicaria o Uruguai não ter seu melhor jogador no jogo decisivo nas oitavas de final.

O que se viu foi o que não deveria passar despercebido em quem passou da primeira dentição. Uma seleção da qual já se tinha desconfiança perdeu o prumo completamente e foi eliminada.

Colocar a eliminação na conta de Luisito Suárez? Sim, mas também lembrar que os que o defenderam com a alegação de que a punição foi exagerada não consideraram que foi preciso só um jogo, não mais que um, para a eliminação uruguaia no mundial.

Mais que isso, os oito jogos de punição ele cumprirá contra quem, e isso resultará em quê? Pois, todos sabem, a próxima Copa na Rússia será em 2018. Quem lembrará sua ausência no próximo jogo do Uruguai? Possivelmente nas eliminatórias para a Copa de 2018? Certo, mas nesta, o que importa, ao jogar roleta russa, Suárez jogou com a possibilidade de haver bala no tambor; havia, e disparou; agora seu caso é história.

Humberto Pereira da Silva
São Paulo, 16/7/2014

 

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