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Quarta-feira, 26/11/2014
Um mês depois
Julio Daio Borges

Estamos há exatamente um mês de 26 de Outubro, quando foi divulgado o resultado das eleições. Tanta coisa aconteceu de lá pra cá que resolvi refletir um pouco sobre o quanto caminhamos e o quanto ainda continuamos "na mesma". É igualmente uma maneira de avaliar criticamente a nossa atuação e imaginar os próximos passos...

* Aécio Neves - Depois de um retorno triunfal ao Senado, com um discurso épico, penso que o senador perdeu o "momentum", como se diz em inglês. Esperávamos que Aécio fosse o grande líder que se oporia ao governo, mas não é isso o que está acontecendo. Vejo ele muito preocupado com viagens e com agradecer pelos votos pessoalmente, quando o que 51 milhões de brasileiros esperam é que ele faça oposição - "diuturna e noturnamente" - no Congresso. E se vocês precisam de um exemplo de quem está fazendo, justamente, isso, o nome dele é Ronaldo Caiado.

* Tucanos - Vejo eles muito acomodados na postura do "já ganhou" (em 2018). Tipo: "Nós somos o melhor partido, temos os melhores quadros, então o povo vai 'perceber' que a próxima eleição é nossa". OK, estão fazendo mais oposição, do que fizeram nos últimos 12 anos, mas acho pouco. Destacaria o Aloysio Nunes Ferreira. Mas para cada Aloysio - que sozinho não faz verão -, existe um Alckmin, que flerta escandalosamente com a presidente (para desgosto dos eleitores de seu estado, o principal reduto do antipetismo). Falam em "caciques", mas eu prefiro usar a expressão "prima donnas". São estrelas, mas precisam descer do Olimpo...

* PSDB - É o melhor partido, talvez o único, mas me decepciona o medo que eles têm de se identificar com a "direita". Não digo extrema direita, porque, com essa, ninguém se identifica. Vejo uma certa covardia na postura de não assumir grande parte do eleitorado que votou em Aécio Neves. Eu sei que, nominalmente, o PSDB nunca será direita, porque é "social democracia", mas os vejo perpetuando a fama que, historicamente, associou os "tucanos" à postura "em cima do muro". E me preocupa a pouca renovação dos quadros. Aécio é o mais "novo" da turma? Ou Bruno Covas, que é mais "Covas" do que "Bruno"? Para se estabelecer como real oposição, o PSDB deveria estar disposto a fazer uma mudança radical de postura, que, pelo que vejo, não parece ser o caso. O PSDB "se acha", quando, na última eleição, foi muito na inércia do "anti-PT" - deveria reconhecer esse fato...

* Outros partidos - Falam do Partido Novo, mas eu, particularmente, não gosto do nome. "Novo" - usar a palavra "novo" - é o maior chavão que existe. Ainda mais em política. Novo, renovador, reformador etc. Como nome, portanto, não me diz nada. Pelo que ouvi dizer da sua "linha", é ultraliberal, querendo privatizar até as ruas e as calçadas, se possível. Acho, como plataforma, inexequível. Fora que já existiu um partido assim. Chamava-se Partido Liberal, para quem não se lembra. Estou falando porque li, décadas atrás, um livro de João Mellão Neto a respeito, e as ideias eram essas. O PL, como se sabe, acabou completamente desmoralizado. Não por causa do Mellão, que teve uma passagem breve pelo governo Collor, mas por causa de Valdemar Costa Neto, mensaleiro, recentemente "solto"...

* Representação política - Depois de Junho de 2013, ficou provado que a nossa representação política está ultrapassada. Ainda tivemos esse "ímpeto" na última eleição, mas quem, realmente, nos representa? Ronaldo Caiado? Uma parcela do PSDB? Partidos novos que não "viraram"? Um político avulso ou outro? Isso é suficiente? Eu acho insuficiente. E o pior é que eu acho que os políticos não "cairão na real", definitivamente. Vão continuar fazendo política como sempre fizeram. É o que eles sabem fazer. Minha tentação é dizer que a renovação cabe a nós. Mas como? Não sei, ainda. Não acredito que seja entrando num partido que já existe. Um partido tem uma inércia ainda maior que a dos políticos. Fundar um partido? Acho uma loucura. Deixo para vocês a solução deste enigma.

* Cobertura política - É muito mais exaustiva do que eu imaginava. Além dos veículos tradicionais, existe a internet e "fontes", as mais diversas. É, também, apaixonante, ao contrário do que sempre imaginei. Mas, sendo bem realista, não sei se vou conseguir acompanhar, como acompanhei até agora, daqui pra frente. Fora que preciso completar minha formação. Quase não li livros sobre política. Tenho de retomar minhas leituras sobre a História do Brasil, por exemplo. Enfim: estou me divertindo, mas não pretendo fazer disso uma profissão. Nem posso. Fiquei feliz de poder participar do debate, e vou continuar dando meus pitacos, mas espero poder confiar na competência dos verdadeiros profissionais. Não podemos deixar este governo à solta...

* Governo - Não tenho muita esperança, mas acho que o Brasil vai sobreviver. Já passei a minha fase de inconformismo (ia escrever "raiva" mas posso ser acusado de "crime de ódio"). Temos de lidar com a coisa. Estou ficando pragmático como aqueles gestores de fundos de investimento. Você trabalha com o cenário, não se sentindo tão responsável por ele. O cenário está colocado, você decide a partir disso. Não tinha grandes ilusões de que o Aécio fosse "revolucionar", porque ninguém revoluciona nada - ainda bem -, mas daria um novo "alento". A parte psicológica é importante, também. Impeachment? Pode ser. Mas não sei se está tão perto assim, e com essa oposição... Vou continuar indo às ruas. Acho interessante. (Golpe acho uma tremenda de uma bobagem.)

Tenho amigos se filiando a partidos políticos tradicionais. Tenho amigos mais céticos do que nunca. Convivo com gente de todo tipo, inclusive petistas. Ninguém é perfeito... Brincadeiras à parte, acho o momento atual estimulante. Pelo menos, para mim. Descobri um novo "assunto". Abri uma nova frente. Fazia tempo que um tema não me interessava tanto. Acho que é parte do processo de amadurecimento. Comecei escrevendo sobre cultura, por causa da internet descobri o "business", agora desembarco na política. A situação no Brasil é crítica. Estamos em crise. Mas temos de nos lembrar que toda crise pode ser um recomeço, em novas bases. Desejo boa sorte a todos nós ;-)

Para ir além
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Julio Daio Borges
São Paulo, 26/11/2014

 

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