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Quarta-feira, 16/12/2015
Notas confessionais de um angustiado (II)
Cassionei Niches Petry

(Trechos da minha dissertação de mestrado, formada pelas notas sobre o processo de criação do romance Os óculos de Paula e o romance propriamente dito, que foi editado no ano passado.)

(...)

XI.
O orientador me perguntou se há uma metáfora por trás do título. A ideia que pretendo desenvolver é a de que em vários momentos o ato de tirar e pôr os óculos represente as reflexões da personagem, principalmente com relação à visão de mundo: mais conservadora ou mais contestadora. Os óculos também podem simbolizar o próprio Fred, pois Paula vê as coisas a partir do olhar do ex-namorado. Acredito que essa característica a torne uma personagem menos forte. A história, nesse sentido, seria mais do Fred do que de Paula.

XII.
Escrever é a arte de ficar olhando para a xícara de café.

XIII.
Escrever qualquer coisa. Esse é um dos primeiros ensinamentos do livro do Raimundo Carrero, Os segredos da ficção. Escrever sempre, todo o dia. Um diário, por exemplo: "Diário de escritor. Diário de gente séria, com anotações, histórias, fragmentos, diálogos, descrições, reflexões, observações as mais diversas, notícias de jornais." Estas notas, na verdade, faziam parte de um diário sério, que está se metamorfoseando para ser a dissertação de mestrado.
"O importante é enfrentar os problemas da criação. O que não é pouco. Com instrumentos, normas ou regras de trabalho."

XIV.
"Quem escreve, principalmente o ficcionista, acaba pautando sua vida pela literatura. Geralmente o escritor, mesmo não escrevendo, vive a literatura vinte e quatro horas por dia, o que vai influenciá-lo não só como autor, mas também como homem." Murilo Rubião.
Escrever o romance e refletir sobre o processo de sua criação para o trabalho do mestrado me tomam as 24 horas do dia, mesmo se estou fazendo outras coisas. Meu pensamento está sempre nos dois arquivos do Word.

XV.
Raimundo Carrero escreve que "o trabalho literário exige disciplina e método. Com rigor". Não tenho ambos, mas tento alcançá-los através dessas anotações diárias e pela obrigação de cumprir prazos de entrega impostos pela academia. Sobre as imposições acadêmicas, posso não ter o trabalho aceito da forma como está sendo levado. Sigo, porém, os conselhos do Carrero: "não acredito em escritor que não corra riscos."

XVI.
"Tu precisas dar o salto", disse meu orientador no último encontro. O salto a que ele se refere é a fuga das influências. Bolaño, Vila-Matas, Auster, Autran Dourado, Cortázar... Difícil fugir do que escreveram.

Cassionei Niches Petry
Santa Cruz do Sul, 16/12/2015

 

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