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Segunda-feira, 11/1/2016
Em 2016, pare de dizer que você tem problemas
Fabio Gomes

Se há algo que eu recomendo fortemente para o ano que se aproxima, é que você pare de achar que tem problemas. "Mas por quê?", você poderia me perguntar. E minha resposta seria: "Porque as palavras têm força". Na verdade, não é preciso ser um especialista em Neurolinguística para perceber isto. Basta lembrar de toda a sabedoria popular associada ao poder do pensamento positivo.

De certa forma, não deixa de ser curioso que, numa sociedade que valoriza tanto a posse de coisas (tema, aliás, brilhantemente abordado por Milton Jung no LinkedIn), se prefira dizer que "temos problemas", e não que "estamos com problemas". Em geral, afora a menção a problemas, nossa tendência para expressar coisas não palpáveis é o uso da expressão "estar com" - podemos estar com saudades, ou com alguma doença, ou com vontade de viajar, ou com um palpite para jogar na Mega Sena. Já o verbo "ter" é costumeiramente associado a objetos que possuímos, seja do tamanho que forem - de um alfinete a uma casa ou um carro.

E quando você tem alguma coisa, é porque de algum modo essa relação não é facilmente modificável. Que o diga o cantor Belchior, que abandonou dois carros há cerca de sete anos (um no estacionamento do aeroporto de Congonhas, em outubro de 2008, e outro na garagem de um flat também localizado na cidade de São Paulo, em março de 2009. Fonte: Época). A propriedade de um carro, por si só, acarreta uma série de consequências jurídico-econômicas; você inclui o carro em sua declaração de Imposto de Renda e recolhe anualmente o IPVA, entre outras obrigações legais. De modo que diferentemente de um alfinete que eventualmente entorte ou enferruje, e que você pode jogar num cesto de lixo ou abandonar ao deus-dará e ninguém voltará a associá-lo a você, um carro não pode ser simplesmente largado por aí; a documentação do veículo seguirá em seu nome, e você será responsável pelos prejuízos que ele acarretar ou danos que vier a sofrer decorrentes do abandono. Em resumo: você diz que tem um carro porque sua relação com este objeto não pode ser facilmente modificada a qualquer momento.

Você percebe então o que está em jogo quando diz que tem um problema? Você está, de algum modo, afirmando que possui com o problema um vínculo cuja dissolução não é nada simples. Ao passo que se você mudar o verbo - e a forma de encarar a situação - para "estou com um problema", você modifica o quadro para algo com o que pode lidar: se você está com saudades de alguém, você entra em contato com a pessoa e marca um reencontro; se você está com uma doença, você vai procurar tratamento; se você está com vontade de viajar, você pesquisa preço de passagens, se agenda e viaja; e se você está com um palpite para a Mega Sena, você vai a uma lotérica e aposta (boa sorte!).

Notaram a diferença? Enquanto dizer que "temos um problema" nos paralisa - já que em nossa cultura materialista, "ter" é algo desejável, você raramente se mobiliza para deixar de ter algo que possua -, pensar que "estamos com" alguma coisa de certa forma nos impele, nos convida à ação, para que o estado agora imperfeito se modifique para a situação sonhada.

Fica então minha sugestão para 2016 (que na verdade vale para qualquer tempo): pare de achar que você tem um problema, comece a se dizer que está com um problema (o que lhe fará agir para que deixe de estar com ele) ou mesmo que apareceu um problema - afinal, o que aparece, e não lhe pertence, é melhor que desapareça, não é mesmo?

Um feliz e produtivo 2016 a todos nós!

Fabio Gomes
Macapá, 11/1/2016

 

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