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Terça-feira, 12/4/2016
'As vantagens do pessimismo', de Roger Scruton
Celso A. Uequed Pitol

O sentido normalmente empregue da palavra “otimismo” dificilmente gerará oposição: quem, afinal de contas, pode ser contra encarar as dificuldades da vida de uma maneira positiva, esperando que tudo corra da melhor forma possível? Ninguém, por certo. O problema é que este não é o único tipo de otimista na praça: além destes sujeitos que limitam-se a viver bem dispostos e a confiar em si mesmos, há aqueles que, não contentes com isso, confiam que é possível mudar tudo – tudo mesmo. Confiam que é possível transformar a própria realidade.

Este tipo de otimista é aquele Roger Scruton descreve, em “As vantagens do pessimismo”, como um tipo particularmente perigoso. Scruton está plenamente ciente dos múltiplos sentidos que a palavra leva consigo, e por isso diferencia o otimista “escrupuloso” do “inescrupuloso”: o primeiro acredita na sua capacidade para promover melhorias num espaço limitado ao seu redor, ciente das falhas inerentes a todo ser humano; o segundo, por sua vez, acha que não só estas falhas são plenamente superáveis como podem, num futuro imaginário, desaparecer por completo da face da terra. Contra este último Scruton direciona seus ataques neste livro, apontando as falácias inerentes aos discursos progressistas e alertando para suas perigosas consequências, que o século XX não cansou de nos mostrar. A saída, aponta ele, é uma dose de pessimismo – e aqui ele também faz uma distinção importante, diferenciando o pessimista completo (ao qual ele se opõe) do pessimista judicioso (que ele defende): o primeiro fundamenta suas ações numa recusa à alegria de viver, enquanto o segundo mantém uma desconfiança de quem apresenta soluções gerais para todos os problemas do mundo. O pessimismo advogado por Scruton é, em suma, muito parecido com a prudência de que falam os cristãos – e ancorado em outra virtude, também típica dos cristãos: o bom senso.

O lado em que Scruton se posiciona é, claramente, o dos pessimistas. E é natural que assim seja: como figura destacada do conservadorismo britânico de hoje, nutre forte desconfiança por qualquer discurso progressista. Independentemente de ser adepto ou não deste tipo de discurso, o leitor que levar a sério as advertências de Scruton sobre as diversas consequências do otimismo verá que a dose de pessimismo – ou, se se quiser, de prudência – que ele prescreve pode ser muito benéfica. Para todos.

Celso A. Uequed Pitol
Canoas, 12/4/2016

 

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