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Sexta-feira, 7/7/2017
Brasil, o buraco é mais embaixo
Luís Fernando Amâncio

Terminou no último domingo (02/07), a edição 2017 da Copa das Confederações. O Brasil não participou, então pouco se falou do torneio por aqui. Mesmo no cenário internacional, a competição teve importância discreta e corre o risco de ser extinguida em 2021.

Situação bem diferente ocorreu há quatro anos. Quando o Brasil sediou o evento preparatório para a Copa do Mundo de 2014, foi uma edição histórica. Muito pouco pela dimensão esportiva, é verdade. O que ganhou as manchetes de todo o mundo aconteceu fora dos estádios. Volumosos protestos cruzaram as capitais onde as partidas ocorreram e confrontaram a polícia ao tentar ultrapassar os perímetros delimitados pela Fifa como “zonas de segurança”. Era bomba pra todo lado, correria, pedrada, pneu queimado, gás de pimenta, pancadaria. Da minha janela, onde costumava ter uma vista pacata do voo de urubus e congestionamentos, eu vi, literalmente, as chamas tomarem os céus.

Eram manifestações apartidárias – inclusive hostis a bandeiras de partidos. E de pauta bem ampla. Eram contra a Copa do Mundo e as imposições de sua organização, que desrespeitavam especificidades do país-sede para estabelecer o famoso “padrão Fifa” nas arenas e seus entornos. Também protestou-se contra o aumento das tarifas de transporte coletivo, os gastos públicos, a violência policial, a recessão econômica… Em resumo, um tradicional levante “contra tudo isso que está aí”. Mas foram, sobretudo, protestos em oposição ao sistema político e à corrupção.

Dos protestos de junho de 2013 germinaram outros capítulos, de panelaços a manifestações verde-amareladas. E, se o legado da Copa, dentre outras coisas, foram estádios superfaturados e subaproveitados, o dos protestos foi, de certa forma, a queda da presidente reeleita em 2014. Afinal, os protestos legitimaram a eclosão da crise política que cuidou para que o processo de impeachment caminhasse nas devidas instâncias sem problemas. Tudo sob o pretexto das “gravíssimas” pedaladas fiscais, que fique claro.

Lá se foram quatro anos de muita turbulência. Muita coisa mudou. E a política? Houve troca de presidente, é verdade, mas voltou ao poder aquele partido que sempre esteve lá. Afinal, a história recente do Brasil ensina que não se governa o país sem fazer pactos. E um dos primeiros a exigirem que sua mão seja beijada é o PMDB. Está no poder desde 1985 e não deve sair tão cedo.

Até existe uma proposta de reforma política que deverá circular nas casas legislativas nos próximos meses. Ela mexe, basicamente, com a criação de um fundo partidário, visando um confortável financiamento de partidos para a campanha eleitoral de 2018. Duvido que alguém tenha ido às ruas em 2013 para pedir isso.

Política aqui continua sendo algo que se faz em negociatas pelos corredores de Brasília. Ou com jantares no Planalto e idas à churrascarias. É assim que Michel “tem que manter isso aí” Temer vai se manter até o fim de 2018, apesar do áudio escandaloso gravado pela JBS e de todas as denúncias e evidências envolvendo sua tropa de choque. E é assim que as reformas impopulares serão aprovadas. Pois nada pode desagradar o pato amarelo gigante da Avenida Paulista.

Ou seja, quem lutou “contra tudo isso que está aí” deve estar frustrado. Tudo continua lá. Afinal, no Brasil, o novo é um partido com as cores de um banco. É o político engomadinho, filho da elite colonial, que come pastel com cara de nojo. É uma mudança em que tudo fica igual, tirando o que piora.

Luís Fernando Amâncio
Belo Horizonte, 7/7/2017

 

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