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Quarta-feira, 26/8/2020
Prêmio Nobel de Literatura para um brasileiro - I
Cassionei Niches Petry

Prêmio Nobel para um santa-cruzense

Outubro de 2001. O mundo ainda está abalado com os atentados de 11 de setembro. No mundo das Letras, vive-se a expectativa do Prêmio Nobel de Literatura. Eis que é anunciado o vencedor e é um brasileiro: Lúcio Braun Graumann. O escritor, gaúcho de Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, antes praticamente desconhecido do grande público, torna-se celebridade nacional com toda a mídia em seu encalço. Porém, ele resolve se esconder e autoriza que apenas um jornalista realize uma entrevista exclusiva com ele para um jornal de São Paulo. Esse jornalista é Mauro Portela, de quem Graumann foi chefe na redação do Correio do Povo, de Porto Alegra, e que teria escrito um romance que foi supostamente (já que é a afirmação do narrador da história, o próprio Portela) plagiado pelo “nobelizado”.

Em “O grau Graumann”, publicado em 2002, o escritor pernambucano Fernando Monteiro repete uma das características dos seus livros anteriores, que é misturar fatos ficcionais com pessoas da vida real. Aparecem na trama, por exemplo, a jornalista Lilian Wite Fibe (“a apresentadora, perua emproada, de boca dura”) noticiando o prêmio no Jornal da Globo; o editor Roberto Feith, disposto a comprar por qualquer preço os direitos de publicação do laureado; os escritores Ariano Suassuna, Hilda Hilst, Nélson de Oliveira e o teatrólogo Zé Celso Martinez dando depoimentos sobre o autor, e muitas outras personalidades do país expressando suas indispensáveis opiniões.

Além disso, têm lugar na narrativa um texto do início do século XX, de um dos nossos primeiros críticos, José Veríssimo, sobre Machado de Assis, publicado no caderno Mais!, da Folha de São Paulo, junto com um suposto conto inédito do Bruxo do Cosme Velho; um ficção do próprio Mauro Portela; e um original inédito de Graumann, “As montanhas da lua”. Segundo Fabrício Carpinejar (que também aparece no livro), Fernando Monteiro trabalha com os limites entre o falso e o verdadeiro. Em “A múmia do rosto dourado do Rio de Janeiro”, por exemplo, há a história fictícia de um homem real. Em “O grau Graumann”, esses limites são imprecisos, o que nos faz lembrar dos contos de Jorge Luís Borges. Por isso não ficamos sabendo se Graumann teria plagiado mesmo o romance de Mauro Portela ou seria pura inveja do narrador.

“O grau Graumann” é o quarto romance de Fernando Monteiro, elogiado pela crítica por livros como “Aspades, Ets etc.” e “A cabeça no fundo do entulho”, e seria o primeiro livro de uma trilogia sobre Lúcio Graumann, que ficou incompleta. O segundo volume é “As confissões de Lúcio”. O terceiro, Monteiro optou por não publicar.

Cassionei Niches Petry
Santa Cruz do Sul, 26/8/2020

 

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