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Terça-feira, 24/1/2023 Obra traz autores do século XIX como personagens Renato Alessandro dos Santos E que tal regressarmos ao ano de 1884, quando se passa a história deste romance; isto é, há poucos anos antes da Lei Áurea e da República? O que acha, leitor(a)? Vem? Regressando ao último quartel do século XIX, Janaína Botelho e George dos Santos Pacheco uniram duas paixões a um objetivo em comum: contar uma história de mistério, mas situando-a em Nova Friburgo, cidade onde ambos residem e dividem seu tempo pesquisando, escrevendo e respirando as correntezas de ar de um lugar onde a natureza conspirou para encantar. O fabuloso Dr. Palhares, como você já sabe, tem, como pano de fundo, a cidade montanhosa que, no passado, recebeu celebridades que, por ali, foram em busca do mais revigorante ar da região, aquela brisa das montanhas capaz de curar enfermidades associadas à alma e ao corpo. Machado de Assis, Casimiro de Abreu, Olavo Bilac e Rui Barbosa estiveram por lá e, aqui, nestas páginas, os encontramos também. Há gente que vê, de cima, a palavra “SaÜde” bordada na cadeia de montanhas que, sorrindo, enaltece o ufanismo dos friburguenses. Mas, para se manter em evidência no coração de quem opta pela natureza em detrimento da urbe, a cidade nem sequer precisa de exageros assim: para escapar da fumaça, do trânsito, das obrigações que oprimem, subir a serra é decisão que a você cabe tomar, leitor(a), em dias em que sua saúde mental tem de valer mais do que esse nosso correr à deriva para que possamos, enfim, atingir o alvo; isto é, e$$e objetivo capaz de de$equilibrar o e$pírito que, in$ati$feito, parece nunca contentar-$e com a porca mi$éria que não para em no$$os bol$os. A ilusão é uma eterna panaceia na cabeça daqueles que, workaholics, não têm tempo para o pôr do sol. Em outras palavras, se nessa peleja que é nossa vida só dinheiro interessa, que pobre diabo somos nós, não? Ilusão, fábula, fabuloso Palhares, o médico do povo: aquele que, como todos que aderem pela manutenção da saúde dos outros, coloca a vida alheia em primeiro lugar. Circula o médico pelas cercanias de Friburgo, sempre atento a quem dele necessitar. Mas, e além, o que há? Há Helena, filha de Pedrosa, um Paulo Honório bem longe da São Bernardo de Ramos, mas que em nada fica a dever ao latifundiário de mal com a vida. Há a engenhosidade costumeira que encontramos nas obras que saem da cachola de George, somada agora ao trapézio de Janaína também: duas partes dividem o romance e, nelas, o registro literário dá-se por meio de gêneros textuais diversos, especialmente, a carta e o diário. Quem os escrevem são o fabuloso e, além dele, seu amigo Theodoro. Há surpresas pelo caminho? Não seria um livro do engenhoso George, se não existissem, e nos deparamos com elas da mesma forma que vários maratonistas, durante o percurso, hidratam-se com aqueles copos de água que as pessoas lhes dão. Água, aliás, é uma palavra-chave nesta obra, e não poderia ser diferente, considerando a fama que Friburgo tem, quando se pensa em águas medicinais que curam de beribéri a bronquite. O léxico é outro atrativo: seu vocabulário vai melhorar, leitor(a), pois os autores recorrem a palavras que, hoje, repousam meio entregues à opacidade gasta do brilho que, ofuscando, por anos, chegou delas. Hoje, não mais: ósculo, tetanizado, caturrando etc. São muitas... Aliás, não é frustrante que doppelgänger, uma palavra bela, sofisticada e sempre em débito com Edgar Allan Poe, signifique... “sósia”? Pior que isso só cupcake. Renato Alessandro dos Santos |
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