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Terça-feira, 26/3/2002 ... E o verão acabou Rafael Lima Michael Palin's Hemingway Adventure ![]() Enquanto Michael Palin passa por lugares tão distintos como o extremo sul da Flórida, Paris, as planícies do Serengetti, na África; Veneza e Havana, vai destrinchando períodos da vida de Ernest Hemingway, conversando com pessoas que o conheceram, do semi-selvagem africano que viu o aeroplano dele cair em uma colina ao filho do nobre que o hospedou num palacete; tomando drinques que foram preparados especialmente para ele, em bares que ganharam fama em seus livros, como o Sloppy Joe's ou o Harry's; citando trechos adequados às situações e colecionando memorabilia genérica sobre Hem: do número e tipos de ferimentos que sofreu em uma temporada na França a um esquisitíssimo concurso de sósias anual realizado na Flórida, que teria sido melhor apresentado por Jack Palance. Como se não bastasse a saudável aliança entre viagens, cultura e curiosidades, há o engraçadíssimo humor involuntário - nunca se deve esquecer a origem de Palin - que o apresentador britanicamente arranca de seus entrevistados, submetendo-se a situações que beiram o absurdo: ao ilustrar a descrição de caça aos patos, Palin reproduz ao seu modo todos os hábitos típicos de um caçador: madruga, reclamando horrivelmente do frio; carrega todos os paramentos, de patos de madeira (as iscas) a munição para espingardas, se perguntando para que cada um serve; leva um livro para passar o tempo, e fica enrolando seu parceiro com tudo que é pergunta possível enquanto os patos não chegam. Mas nada se compara à sua cara de espanto ao ver o parceiro usando os diversos tipos de pio para chamar pato, ainda com alguma esperança, depois de 3 horas de absolutamente nenhum pato na área... The California Sunshine Golden Drop Trip Band "Ela é tão antiga aqui na empresa que, quando entrou, não fez psicotécnico - fez exame psicodélico." ![]() Mr. Nomono vem para nos redimir a todos! Até morrer Foi capa de todos os jornais no Rio: torcedores do Flamengo invadem treino e atacam jogadores. "Quanto vandalismo!", horrorizaram-se as senhoras da Liga dos Quitutes Mineiros, "Que baixaria!", bradaram os doutores da Associação dos Jogadores de Dominó Sábado à Tarde. Colocando pingos nos jotas, que os is já acabaram há muito: mais do que um esporte popular e jogado a cada esquina, o futebol se presta a manifestações populares há muito banidas de outros palcos - como já foi bem colocado, mais do que ver futebol, brasileiro gosta é de torcer para futebol. Ver o seu último motivo inconteste de orgulho internacional (eu não esqueci do Guga, mas Guga é um só), seu último bastião de talento inato, seu mais forte elo de união coletiva (acima de política, ali ali com religião) aviltado, degradado, desmontado, humilhado é algo de extremo pesar para o torcedor. Um time que concentra mais da metade da torcida do país só vai ser mais visado por seus torcedores, e ter mais exposição. O que choca nessa história toda não é nem o ataque violento, é que o motivo capaz de detonar esse barril de pólvora tenha sido o futebol. Reações em outros campos podem apenas ser imaginadas: "Populares invadem rampa da Alvorada depois que presidente anuncia aumento do mínimo em 6 reais"? "Sessão extraordinária da Câmara é interrompida quando invasores protestam contra votação de aumento do salário dos deputados"? Dá para ir embora com variações nesse sentido. Isso se ficar só nas manifestações espontâneas, não organizadas... Balanço do verão Eu estava morrendo de vontade de fazer um balanço do verão, de louvar os baratos do Piscinão de Ramos (que o ex-governador Brizola apelidou com muita picardia de Pinicão) que o governador Garotinho inventou, falar da clorofila que andam adicionando aos sucos de frutas, mas desisti: não dá para competir com esses dois caras. À propósito "Garotinho é uma mistura de Mussolini, Mao, Jimmy Swaggart e Carequinha" (aspas para meu amigo crítico de cinema João Marcelo, a.k.a. O Mestre, brilhante em seu retorno à nobre arte das frases de efeito) Sem vocação para a mediocridade ![]() ![]() ![]() Coincidentemente – ou não – uma exposição fotográfica da obra de Oscar Niemeyer foi agendada para outro espaço do Paço Imperial, simultaneamente à obra de Lúcio Costa. E quem quiser que enxergue significados esotéricos no fato da mostra de Niemeyer ter ocupado um antigo aposento de criados, enquanto a de Costa, entre outros cômodos do segundo andar, tomou a sala onde foi assinada a Lei Áurea. Rafael Lima |
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