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Sexta-feira, 5/4/2002
Intolerâncias e inconsequências
Rafael Azevedo

Neonazis em pele de cordeiro
Uma sombra negra paira sobre a humanidade. O anti-semitismo, esta verruga purulenta na face da terra, que nunca desaparecera totalmente, parece estar em "voga" mais uma vez. Os ruídos da Kristallnacht ecoam pelo mundo. Agora parece ter chegado com força total à mídia, jornais e revistas, depois de anos confinado aos comentários privados. Todo dia visigodos enfurecidos queimam bandeiras israelense, bradando pela morte dos judeus; jovens e mulheres são hostilizados, e mesmo atacados, nos EUA, e pela Europa; sinagogas são queimadas quase todo dia, na França. (Aliás, a França é dos países mais anti-semitas da Europa - mais até que a Alemanha; e não é (só) por sua comunidade islâmica gigantesca. É fato digno de ser estudado.) Dia desses, ouvi de um celerado qualquer num bar de São Paulo, muito célebre por seu chope fantástico: "O grande problema do mundo são os americanos e os judeus." O nojo, o nojo. Gostaria de ver esse ser desprezível num mundo sem ambos. Gostaria de vê-lo vivendo num mundo sem as contribuições que os judeus nos deram, em todos os campos possíveis e imagináveis; ou então vê-lo vivendo no Irã, ou na Arábia Saudita, sem poder tomar seu chopinho ou falar mal dos outros com seus amigos pulhas. Mas deixa pra lá; a punição mais justa para uma pessoa assim é sua própria vida. O que eu ia dizendo: em todo o mundo judeus têm sido caluniados, hostilizados, ofendidos, vilipendiados - como sempre foram, ao longo da história.
Há um ressentimento indisfarçado - antes, apregoado - em relação aos judeus; as pessoas não parecem se conformar com o fato de eles serem um povo que mantêm sua comunidade relativamente isolada, que consegue prosperar onde quer que eles se instalem, possui uma qualidade estética invejável (suas mulheres estão entre as mais belas, junto com as russas), que deu à humanidade muitos de seus maiores gênios, e que conseguiu transformar uma tripinha de terra espremida entre o deserto e o mar num país próspero e desenvolvido. Enquanto isso, seus vizinhos árabes chafurdam na lama da pobreza, da ignorância, do obscurantismo religioso, dominados por ditadores militares dignos de republiquetas de bananas ou sheiks totalitários que sobrevivem alimentando seu povo de ódio e ressentimento.
Uma das maiores balelas que esse anti-semitismo conseguiu espalhar pelo mundo é a idéia fantasiosa de que Israel oprimiria os "pobres palestinos"; povo este que supostamente teria sido expulso do território chamado pelos ingleses de Palestine e que agora vive oprimido pelos terríveis judeus em campos de refugiados. Nada poderia estar mais distante da realidade. Desde a metade do século XIX que os judeus vêm se instalando na região onde hoje está o Estado de Israel. A região, desde muito que era esparsamente povoada; o território, como eu já falei, era infértil até metade do século XX, e a vida lá muito dura. As populações se concentravam nas cidades, que tinham caráter cosmopolita - havia então, como até hoje, grandes colônias cristãs, como os armênios e os gregos ortodoxos de Jerusalém. Os judeus, ausentes desde que o imperador romano Tito destruíra seu templo e lhes expulsara, em 70 d.C., começaram a ir para lá aos poucos, muito aos poucos, desde a Idade Média; mas foi somente a partir de então que a imigração começou a se intensificar. Ao contrário do que se imagina, não chegaram ali expulsando a população árabe local, população essa que era em número muito, mas muito mais reduzido do que é propalado pelos líderes árabes (um dos pontos fundamentais de discordância entre a Autoridade Palestina e o Estado de Israel é que os primeiros exigem, incondicionalmente, que um milhão de refugiados (sic) tenham o direito de voltar a viver em território israelense, o que seria o fim desse país), é que começou a cometer, como agora, atos terroristas contra os judeus. Não obstante a imigração judaica se intensificou, à medida que os países europeus também cometiam as suas violências contra eles; cada vez mais e mais chegavam à Terra Santa, fugindo de pogroms e guetos. Foi aí que aos poucos, de olho na prosperidade que os judeus legavam ao território previamente estéril, uma onda fantástica de imigrante se instalou ali. Quando após décadas de luta a ONU aprovou, em 1947, a célebre resolução proclamando a "independência" de Israel, a grande maioria dos judeus, longe de expulsar ferozmente os árabes do território, procurou mantê-los no país; muitos circulavam com carros de som pelos bairros árabes, convocando todos a ficarem no país e garantindo-lhes que não seriam discriminados se o fizessem. Mas as nações vizinhas, os "brimos" Síria, Líbano e Jordânia convenceram os palestinos a fugir, e lhes instigaram a vã esperança de que logo "empurrariam Israel para o mar". Não é preciso dizer que com a incompetência que lhes é peculiar falharam redondamente; e logo se viram com o problema dos refugiados em suas mãos, ou melhor, em seus países. Refugiados esses que, contrariando o próprio conceito de "refugiado", não tinham sido expulsos de sua antiga terra, mas sim fugiram por livre e espontânea vontade, pressionados pelos próprios árabes que se diziam seus irmãos e defensores de seus interesses - e que agora não tinham mais nenhum interesse em lhes aceitar. As piores atrocidades cometidas contra os árabes fugidos da Palestina foram cometidos por esses próprios árabes de outros países. A Jordânia chegou a enfrentar os palestinos, em guerra civil aberta, na década de 70. Isso tudo, ao contrário dos argumentos dos árabes, sem embasamento ou fundamento algum, é fato, documentado, provado. A quem se interessar em conhecer mais, sugiro o livro de Joan Peters, From Time Immemorial. A sra. Peters é uma jornalista que foi ao local inicialmente para fazer uma matéria em prol da causa palestina, indignada com o que a mídia lhe fizera crer que era um massacre dos pobrezinhos árabes pelos judeus. Aos poucos, começou a ver que a situação não tinha nada a ver com o que vinha ouvindo sobre o assunto, e teve a coragem de reunir tudo isso numa publicação - que ainda por cima é muito bem-escrita. Recomendo. E se alguma editora brasileira quiser publicá-lo, já me habilito para traduzi-lo.
Como se não bastassem eles já estarem do lado "errado" dessa guerra desde o início, os líderes árabes ainda pregam algo que só posso definir como um irritante "relativismo"; a idéia de que é justo a um povo recorrer a métodos covardes e violentíssimos, como terroristas suicidas, para se conseguir o que se quer. A idéia de que um povo, quando se julgar oprimido, pode atacar pessoas inocentes do outro lado. Os próprios judeus já se utilizaram disso, para pressionar os britânicos a sair da Palestina. Alguns bascos e irlandeses utilizam-no, até hoje, em plena Europa. É o ato mais canalha já maquinado pelo ser humano, que já é prodigioso em atos de canalhice, em toda sua história. E esse relativismo é irritante, perverso, canalha e prejudicial a toda à Humanidade. Terrorismo não é, nunca foi e jamais será solução; não se tem conhecimento de um país que tenha conquistado sua independência ou conseguido seus objetivos através de métodos assim. Homens-bombas não são um meio minimamente aceitável de se conseguir nada, além do ódio e mais violência. Ainda que todas as mentiras ditas pelos líderes palestinos fossem verdades, e que o governo israelense fosse terrivelmente tirânico e fundamentalmente perverso (como na verdade o são os países árabes, acostumados a oprimir seus povos e as minorias que neles vivem - Israel é uma democracia que tem cidadãos de todas as origens, religiões, e conta com vários parlamentares árabes na Knesset), atos desse tipo não fazem bem a causa nenhuma. Matar 20 pessoas num supermercado não pode, em nenhuma hipótese, ser visto como um ato heróico de resistência. É um crime contra todos nós; morrem crianças, mulheres, morrem mesmo israelenses de origem árabe - enfim, pessoas que nada têm a ver com o conflito. E não adianta, como alguns fazem, botar a culpa em Ariel Sharon e suas criminosas incursões pelos territórios ocupados - Sharon é um idiota, fez inúmeras burradas, mas os atentados suicidas vêm de muito, muito antes de tudo disso. E se existe esta retaliação insana por parte dos atuais líderes israelenses, pessoas como Sharon, acostumadas com nada além da guerra desde que nasceram, os únicos culpados são os próprios árabes, que iniciaram este último ciclo de violência; ódio gera ódio, e como em nenhuma destas duas religiões, judaísmo e islamismo, dá-se a importância que os cristãos dão ao perdão, dificilmente isto terminará bem.


O artista enquanto idiota
Saramago chamou Israel de nazista. Se irritou com a segregação que os palestinos sofrem nas terras ocupadas da Cisjordânia e Gaza; lhe parece absurdo que tenham que ficar fechados em suas cidades, e mostrar documentos sempre que queiram circular por lá. O que ele quer, que o exército israelense "libere geral", e hostes de homens-bomba (mártires, como se chamam estes lunáticos) invadam Israel? Está sendo execrado publicamente lá, seus livros estão sendo boicotados. Já o deveriam ter sido há muito, mas pela falta de qualidade deles. Sua aparência física revela incomum semelhança com Alberto Dines; agora descobre-se que essa semelhança vai muito além do físico. Ao estimular desta maneira o preconceito a uma raça tão sistematicamente perseguida através dos tempos, Saramago mostra sem pudores toda a sua canalhice; já desconfiava que era um pulha, por ser comunista - mas ingênuo que sou, às vezes ainda acredito que alguém possa ser de esquerda por um misto de bondade e ingenuidade. Mas essa foi uma prova de que não, que só é preciso mau caráter para sê-lo.


Vive la révolution...
Parece haver hoje em dia, mais que nunca, uma espécie de exaltação, glorificação, diria mesmo santificação, do fraco nos dias de hoje. Quem se julga pobre, explorado, ou qualquer um que se imagine inferior, os soi-disants "oprimidos", gozam de cada vez mais destaque na mídia, podendo exprimir a torto e direito o grito primal que julga ser sua reinvidicação, e podendo eventualmente partir para a violência ao defender seu ponto de vista, tendo a certeza de que multidões pelo mundo (ou assim a mídia, mais uma vez, faz parecer) estarão prestes a abraçar sua causa e defendê-los com unhas e dentes. Basta ver as multidões de celerados, loiros e bem-cuidados, enfrentando a polícia onde quer que os líderes mundiais se reúnam, ou as massas desgrenhadas e desdentadas que queimam bandeiras americanas todo dia nos cafundós mais fétidos do planeta; basta ver os "protestos pacíficos" de perueiros e motoristas de ônibus pelas cidades brasileiras; ou as invasões criminosas do MST, vistas como um instrumento legítimo de reinvidicação por alguns. As manifestações de apoio que Arafat recebeu em seu escritório, com direito a posar com a bandeirinha vermelha de nossos camaradas "camponeses", são a prova mais recente disso. Como é que pode alguém que conduz covardemente, por baixo do pano, uma guerra, enquanto finge publicamente estar a favor da paz - alguém que foi o único responsável pela atual situação, tendo ajudado a dar início à essa segunda Intifada, há anos atrás, e vêm há décadas conduzindo uma campanha constante de terror, instigando cotidianamente seu povo nas escolas e meios de comunicação a atacar seus vizinhos judeus, com pedras ou com bombas, se possível, ainda posar para o mundo de vítima? E pior: como é que ainda se engole todo esse mis-en-scéne? Esse bom velhinho, sempre com a mesma toalha encardida na cabeça, não passa de um dos maiores canalhas da história recente, um assassino covarde tingido até o pescoço com o sangue de milhares de inocentes, não menos que Ariel Sharon, responsável, ainda que indireto, por atos de consequências igualmente terríveis; ambos representam o que há de pior, de mais primitivo, de mais repulsivo, na mentalidade dos dois povos que representam - e já deveriam estar há muito afastados de seus respectivos cargos, se houvessem homens de ação, com um mínimo de sensatez, em ambos os lados.


Farinha do mesmo saco
Sharon é um radical de um lado, Arafat de outro. Ambos são criminosos que deveriam estar sendo julgado por tribunais internacionais, e não sendo respeitados e recebidos por outros chefes de estado como líderes de seus povos. Sharon abriu as portas de um campo de refugiados no Líbano, há cerca de 20 anos atrás, para que as milícias cristãs libanesas massacrassem o maior número de pessoas. Arafat cometeu dezenas de crimes pelo mundo, matando civis inocentes de todas as nacionalidades. Duas coisas lhes separam, porém: Sharon diz a mesma coisa, tem o mesmo discurso, em hebraico e em inglês; o que ele fala a seu povo, fala à CNN, à mídia internacional. Já Arafat, como todos os árabes - desculpe, como todos os líderes árabes, tem um discurso duplo; é falso. Para seus interlocutores estrangeiros afirma em seu terrível inglês que está disposto à paz; nos discursos que faz à sua população, nos jornais comandados por sua organização, e nas escolas financiadas por ele, prega o ódio aos judeus, e a expulsão sumária deles da região. Sua organização, a Fatah, jamais parou de financiar o terror, e agora mesmo, Arafat está sitiado em seu escritório pelo exército israelense, trancado num quarto com dois homens suspeitos de assassinarem um ex-ministro de Israel. Como se "negocia" a paz com gente assim?


Camaradas!
O genial Aldo Rebelo agora quer passar outra de suas geniais leis: o dileto colega tapuia gostaria que fosse obrigatória a inclusão de farinha de mandioca na fabricação das pizzas na cidade de São Paulo. Há limites para essa gente? Imagine o que esses maluquinhos do PC do B fariam, caso tivéssemos o infortúnio de eles chegarem ao poder? Provavelmente, como o general do Bananas, obrigariam-nos todos a falar sueco, e vestir as roupas íntimas por cima das calças.
Ô cara chato, esse mala do Rebelo... e pensar que um dia esse pessoal já foi chamado de "festivo"!

Rafael Azevedo
São Paulo, 5/4/2002

 

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